Sofrer nos treinos para sobrar nas provas. É isso mesmo?

Há uma máxima na corrida que a cada dia está se tornando uma regra para mim: “Sofrer nos treinos para sobrar nas provas”. Os dias de qualidade, principalmente os tiros, não importando a distância – 400 m, 800 m, 1.000 m, 2 mil, 3 mil… – são fundamentais para chegarmos prontos e confiantes na prova. E feitos sempre bem acima do ritmo que correremos na competição. Não é assim mesmo?

No ano passado, quando entrevistei o Luiz Celso de Medeiros, de 61 anos, de Curitiba, com 100 maratonas no currículo, a maioria sub 3h, isso ficou muito nítido. Veja o pensamento dele (correto ao meu ver). “Os treinos de velocidade dão os parâmetros para o dia da maratona. Se corro a 3:33 por km nos tiros, sei que para fazer a maratona a 3:50 por km, como em Berlim, tenho uma folga. Na verdade, nesse ritmo na maratona estou me preservando. Então, vou forte nos treinos de velocidade e nas provas curtas”. Medeiros, porém, dá uma dica importante para quem busca melhorar os tempos: “Saber se preservar e não ir no limite.” Só para dizer, a Maratona de Berlim a que Medeiros se refere foi a de 1998, a mesma do recorde mundial de Ronaldo da Costa (2:06:05), quando fez 2:42:05, seu melhor tempo nos 42 km.

Fiz a minha melhor meia-maratona em São Paulo, com 1:26:35, e sofri muito menos do que quando corri duas para 1:29:32 (Corpore-2011) e 1:29:16 (Asics BH-2011). Eram minhas antigas marcadas. Nos dois dias, fui no meu limite. Na Meia de SP, como o alvo é a Maratona de Boston, não. Tinha mais o que gastar. Foi totalmente diferente. Sabe por quê? Estou treinando muito mais forte em 2012. E isso inclui ainda o segundo semestre do ano passado, já que as duas meias tinham sido corridas até julho.

Hoje, por exemplo, tive essa sensação de evolução. Que gera segurança e confiança. Era um treino pesado: 20 minutos de aquecimento, 10 minutos de fartlek (30 segundos bem forte e 30 fraco) e 6×1.000 m a 3:40 progressivos, com 1:15/1:30 de intervalo.

O treinamento de hoje, então, seria em um ritmo muito mais forte do que correrei a Golden Four BH no dia 1º de abril e bem abaixo do previsto para a Maratona de Boston, em 16 de abril. Usei a marcação da pista de atletismo, aferida, e não do Garmin: 3:38; 3:37; 3:37; 3:39; 3:37 e 3:33. Todos abaixo dos 3:40. No calor. Começando os tiros às 10h40 e acabando por volta de 11h10.

Não há fórmula mágica na corrida. Tem de treinar. Enquanto em outros esportes (principalmente coletivos) dá para relaxar, ser boêmio e, mesmo assim, no dia do jogo arrebentar (ainda mais porque tem outros correndo por você, como no futebol onde essas histórias repetem-se semanalmente). No atletismo não. Treinou. Tem resultado. Não treinou, não descansou direito, foi para a noite… vai pagar o preço. Então, a ideia é sofrer nos treinos para sobrar nas provas? Eu acredito que sim.

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

É GRATUITO, RECEBA NOVIDADES DIRETAMENTE NO SEU E-MAIL.