Sempre tive a vida ligada ao esporte. Praticando e, mais velho, trabalhando. Influência dentro de casa, principalmente de meu pai, Jaime. Joguei anos de futebol de salão (na época em que a bola era pesada, gol não valia dentro da área), futebol de campo, vôlei (até o tamanho acabar com o sonho de um levantador mediano), natação, tênis… a corrida era o aquecimento. Profissionalmente, também, o esporte tornou-se um “ganha pão”. Comecei no jornalismo, em 1994, na área esportiva.
Mas em 99% dos esportes, não há contato com seus ídolos, com o pessoal da elite. Não dentro de uma competição normal. Cobria tênis, mas sabia que nunca iria enfrentar o Gustavo Kuerten. No futsal, não jogaria contra o Jackson ou o Douglas na década de 1980. No vôlei, não iria levantar a bola para o Renan ou o Montanaro… nem disputar 400m medley contra o Ricardo Prado (se bem que corria o risco de me afogar no nado borboleta, que nunca acertei!). Mas, na corrida, é diferente.
Como já escrevi aqui, a São Silvestre sempre fez parte de minha vida. Antes, criança, assistia à prova noturna, torcendo para acabar antes de ter de sair de casa para ver os fogos. Quando mudou para o período da tarde, podia acompanhá-la tranquilamente. Vibrava também com os estrangeiros, como a Rosa Motta e o Rolando Vera. Curtia quando um brasileiro quebrava a escrita, como o José João da Silva. Nem pensava em me tornar um corredor, mas tinha um sonho de vida: correr uma São Silvestre.
Admirava demais o Paul Tergat. Aquele queniano alto, simpático, que parecia invencível. Nem parecia fazer esforço para vencer prova após prova. Em 1997, vibrei como um gol em final de Copa do Mundo quando o paranaense Emerson Iserbem entrou para a história da Corrida Internacional de São Silvestre ao superar Tergat na subida da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Único brasileiro a derrotar o queniano no auge da carreira.
Neste ano, entrevistamos Iserbem para o CRnoAr para falar de sua carreira e da vitória na São Silvestre. E ele contou que estava voltando a correr, a treinar, sendo motivado principalmente pelo Desafio CR Sub 40 nos 10 km. Que alunos seus, na região de Tremembé-SP, também estavam preparando-se para quebrar as duas marcas, incluindo o sub 50. Continuamos as conversas pelo Facebook e, sábado passado, nos encontramos por volta do km 8 na Volta de Itu.
Ele me passou, vi quem era, acelerei, me apresentei rapidamente e segui correndo. Um pouco mais adiante, Iserbem me alcançou, estendeu a mão e seguimos juntos, lado a lado, por mais um quilômetro e pouco. No final, faltando uns 500m, ele acelerou e chegou na frente. Ao cruzar a linha de chegada, ele estava lá, me esperando e batemos um longo papo sobre corridas, metas, desafios, passado, cross-country, futuro. Uma emoção única. Em que esporte você pode competir, nem que seja por um quilômetro, ao lado de um ídolo? Só a corrida pode provocar encontros como esse.