Enquanto a quase centenária Corrida Internacional São Silvestre se aproxima, é importante estar de olho no futuro do atletismo brasileiro. No último domingo (15/12), o Centro Olímpico de Treinamento Mário Ary Pires, em São Paulo, recebeu crianças e jovens de 4 a 17 anos que encararam a garoa paulistana em baterias de 100m a 800m para a disputa da 28ª edição da São Silvestrinha.
Mais do que uma competição, o evento é uma celebração da cultura da corrida de rua no Brasil e um reflexo do legado da São Silvestre. Alguns nomes importantes do atletismo brasileiro também marcaram presença, incentivando as novas gerações.
Adriana Aparecida da Silva, bicampeã pan-americana e recordista sul-americana de maratona, participou da primeira edição da São Silvestrinha em 1994, ainda realizada no Parque do Ibirapuera. Este ano, Adriana levou 30 crianças do seu projeto social, o Instituto EnFrente, para participar da competição. “É muito legal agora poder trazer as crianças do meu instituto para participar. Eles estão todos animados, muito ansiosos. É importante o esporte fazer parte da vida das crianças porque reflete na vida adulta. Tudo o que eles aprendem aqui numa competição – os valores, de ganhar, de perder, de saber competir –levam para a vida”, diz Adriana, que este ano correrá a São Silvestre pela primeira vez entre os amadores e que lembrou com carinho da sua experiência na prova principal: “Eu comemorei meu terceiro lugar naquela ano como se fosse o primeiro. Com o valor da premiação, comprei uma casa para a minha mãe.”
Outro nome que marcou presença no evento foi o Fran Kauê, treinador e idealizador do projeto Correndo para o Futuro, que incentiva jovens à prática do atletismo. Ele levou oito atletas para competir e destacou a importância da São Silvestrinha para o desenvolvimento das novas gerações. “Hoje trouxemos oito atletas nas idades de 12, 13 e 14 anos. É assim que começam a surgir os grandes talentos brasileiros. A São Silvestrinha é uma experiência única para eles. Temos vários atletas promissores, como um de 15 anos que correu 600 metros em 1’32. É muito talentoso, mas temos que ir com calma por conta da idade. Trabalhar com consciência, desenvolvendo aos poucos. Eles nem dormiram, é a primeira competição de todos!”, conta Fran, que falou também das expectativas para a São Silvestre deste ano, onde terá oito atletas na elite A e B: “A expectativa é que eles façam uma excelente prova, apesar do nível estar muito forte. A São Silvestre é uma prova de estratégia. Trabalhamos isso com alguns atletas, e agora é só esperar dia 31 para ver o resultado.” No ano passado, Fran teve dois atletas entre os Top 10: Jonathas Cruz, que foi o melhor brasileiro na disputa, na 6ª colocação, e Lucas Barboza, o 3º melhor brasileiro e o 10º geral.
A ultramaratonista e pentacampeã da Maratona da Disney Giovanna Martins, vencedora da São Silvestrinha em 1998, também aproveitou a oportunidade para levar 15 crianças do projeto Semetinha para participar do evento. Giovanna relembrou o impacto que a São Silvestrinha teve em sua própria trajetória. “Passa um túnel do tempo. Em 98, eu estava correndo no Ibirapuera a São Silvestrinha e é uma prova que dou muito valor. Naquela época, quando ganhei, minha vida mudou. Foi ali que pensei em seguir firme no esporte: ganhei bolsa de estudo, patrocínio”, lembra Giovanna, destacando ainda que seu projeto atende 150 crianças em Salto, Indaiatuba e Itu. “Acho que é pior estar aqui na arquibancada do que lá dentro correndo! Mas é muito bom ver essas sementinhas competindo com atletas de todo o Brasil. Essas crianças vêm de vários lugares, das periferias, dos centros esportivos. E hoje têm a oportunidade de correr no Centro Olímpico, onde tantas feras do atletismo brasileiro já estiveram.”