20 de setembro de 2024

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Sem categoria André Savazoni 25 de junho de 2012 (5) (116)

Saber “ouvir” o corpo é fundamental na corrida

Em uma época de proliferação dos recursos tecnológicos em nosso cotidiano, vamos deixando as sensações e o foco em segundo plano. Não só na corrida. No dia a dia como um todo. Ficamos tão dependentes desses “mecanismos” que, na falta de um, cria-se uma sensação de perda, de confusão, de não saber o que fazer. Não nos concentramos nas tarefas. Fico feliz quando vejo ações que visam modificar esse panorama, como os treinos cognitivos na segunda edição do Desafio Pharmaton. Todo corredor (com ou sem treinador) deveria frenquentemente disputar provas e treinos sem relógio, GPS, iPod e o que mais de tecnológico existir. Controlando o corpo, as passadas, a mente… Só tende a ganhar.

Atletas da assessoria esportiva Saúde & Performance, comandada pelo técnico Cláudio Castilho (que levou Adriana Aparecida da Silva à Olimpíada de Londres), participaram dos treinos cognitivos. A iniciativa envolverá as oito equipes participantes da edição deste ano do Desafio. A proposta é que os corredores descubram como controlar o desempenho sentindo o próprio corpo. Concentrando-se na passada, na respiração, na técnica, nos movimentos como um todo, na sensação de esforço (se podemos manter o ritmo, apertar, reduzir…). Excelente.

Entre os exercícios, houve uma programação com quatro séries de três minutos correndo à vontade para, em seguida, encarar mais 15 segundos da atividade na qual deveriam contar as passadas. Tudo isso com o tempo sendo controlado pelo treinador. Depois, foram mais quatro séries de dois minutos de corrida com a meta de tentar diminuir o número de passadas a cada 15 segundos. Dessa forma, os praticantes mantiveram foco total no movimento e no ritmo, com possibilidade de enormes ganhos no processo de aprendizagem motora.

“Foi uma atividade bastante esperada por todos os alunos participantes do Desafio Pharmaton. O tema é rico e propõe muitas possibilidades de trabalho. Todos ficaram bastante impressionados com a rápida resposta a este tipo de estímulo”, disse  Claudio Castilho. “O estímulo cognitivo é fundamental no processo de autoconhecimento e domínio dos movimentos e gestos corporais, sem dizer que isso é parte importante da formação do corredor.”

Costumo fazer treinos de ritmo e provas sem qualquer controle de tempo, mas buscando completá-las dentro do esperado. É difícil? Claro que sim. Mas confesso que, até, na questão da busca por recordes pessoais, a meu ver, quebra-se uma “barreira mental”. Um exemplo: você está se sentindo bem na prova, mas olha para o GPS ou frequencímetro e vê que está em um ritmo mais forte do que o previsto. Daí, mentalmente, cria um bloqueio e reduz com medo de quebrar. Mas nenhuma sensação diz que iria quebrar… Se estivesse sem um controle rígido, manteria o ritmo pois estava sentido-se muito bem…

Pessoalmente, fiz por exemplo 39:37 nos 10 km da Tribuna, em Santos, sem qualquer controle, correndo somente. Claro que estava treinado, mas corri conforme minhas sensações no momento. Ontem, em Bragança Paulista, pelo resultado extraoficial, fiz 40:29. Estou em período de base, recuperando do pós-maratona, fui para fazer um treino de luxo, pensando em algo em torno de 43 minutos, mas acabei me sentindo bem e deixei o corpo me controlar… sem forçar, considero um ótimo tempo, ainda mais em um percurso com subidas… Faça essa experiência, sempre, você só tem a ganhar. Saber “ouvir” o corpo é fundamental na corrida. E no dia a dia também!

Foto: Luiz Doro/Adorofoto

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5 Comments on “Saber “ouvir” o corpo é fundamental na corrida

  1. É isso mesmo André. Na minha profissão chamamos isso de Consciência Corporal. Ter consciência do corpo em sua totalidade: sensações, sentimentos e pensamentos é o caminho para a cura e qualidade de vida!

    * Fisioterapeuta e Terapeuta Morfoanalista
    http://www.lucianafioravanti.com.br

    beijo, excelente post.

  2. Estou começando a fazer isso. Continuo correndo com o Garmin, sempre, mas agora desligo todos os alertas e não olho para o relógio. Só uso os alertas em dias de tiros e fartleks.

    Minha primeira prova sem alertas, só na sensação do esforço, vai ser a Maratona do Rio. Vamos ver o que vai dar.

  3. No nosso cognitivo, um dos exercícios propostos foi uma volta do CEPE, percurso que tem 2,3km, em 13min30. 5min52/km. Errei fenomenalmente, fiz 12m07 (5min16/km). E até saber do resultado, achei que tinha errado pra mais. Interessante, não? Já percebi também que quanto mais próximo dos meus limites, mas acurada a minha percepção, mas quanto mais lento, mais errada é.

    —————————

    Nishi, tenho uma tese pessoal: erramos sempre para menos, porque perdemos a “trava” do relógio, GPS, ou o que quer que seja. Fazemos um tempo sempre abaixo do previsto. Vou continuar minhas experimentações para poder embasar melhor, mas na minha experiência, sempre ocorreu isso. Posso cravar o tempo, como já ocorreu em um longo de 16 km a 5:10 por km, mas nunca fiz a mais.

    Abraço
    André

  4. Muita coisa é meio psicológica na corrida. Corria com Garmin, ele pifou, comecei a correr com celular com GPS, usando o MiCoach da Adidas. Piorou minha performance, não sei se por causa da música junto que relaxava demais e não deixava focar 100% na corrida, sei lá. Comprei outro Garmin meses depois, a coisa melhorou. Não sei se me adaptaria a correr sem nada. É bom controlar, embora com a experiência, a gente saiba mais ou menos em que ritmo está, mas saber com precisão me parece melhor. Não acho que o GPS seja um limitador. Penso até que possa ser o contrário, que evite que andemos em faixa que não aguentaremos.
    Mas, mas… por exemplo: houve uma época que usava frequencímetro. Aquilo me deixava escravo do bicho. Batimento subia, ficava preocupado, aí mesmo é que não baixava. Com alguns corredores pode ser que aconteça o mesmo em relação ao Garmin. Vejo que alguns ficam olhando o tempo todo, isso pode incomodar, criar dependência e preocupação. Eu procuro me policiar para olhar só quando fecha o km mesmo, sem se preocupar.

  5. Excelente post amigo André.

    Já conversamos sobre isso várias vezes.
    Corredor há 6 anos, confesso que já fui escravo do cronômetro. Já tentei de tudo: marcar o pace a cada km, a cada 2 km, a cada 5 km (dependendo da distância). E acredite: meus melhores resultados foram aqueles que corri despreocupado com o pace. Ou seja, apenas na percepção do esforço.

    Mas isso é anos de corrida. Já fiz mais 110 provas. E para vc ter uma noção do que está fazendo na prova tem que estar muito bem treinado. Pois mesmo que esteja ofegante, sabe que aguenta ficar nesse ritmo até o final. Talvez os mais novos, menos treinados, não tenham essa percepção pois tem o “medo” de quebrar.

    Meus melhores tempos em prova foram aquelas que corri sem olhar para o relógio, sem preocupação se estou dentro do planejado ou não.

    Acredite, já quebrei em provas aonde determinava um certo pace para cada km, e alguns segundos a mais me levava a duvidar da minha capacidade de tirar a diferença até mesmo aumentar o ritmo nos kms seguintes.

    Conselho para quem é “viciado” no cronômetro: corra sem se preocupar uma vez. Corra com a cabeça, depois com o coração. Acreditem: funciona.

    Abraço.

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