Um dos temas que sempre me chamou a atenção, mesmo quando ainda não era tão falado, é a psicologia do esporte. Agora, nas aulas de Educação Física, esse ponto destaca-se. Com seis anos correndo maratonas (e 21 provas de 42 km depois), tenho cada vez mais certeza da importância da força mental, de treinar também a cabeça.
Já escrevi sobre esse tema e não gosto de fazer comparações sobre o que é mais determinante. Apenas ressaltar que é uma união de fatores e, saindo do nosso cotidiano e partindo para a elite, os profissionais, que estão anos-luz na nossa frente, isso torna-se ainda mais determinante.
Jundiaí tem uma tradição no basquete feminino. Quando criança, acompanhei os anos áureos do Divino (com patrocínio da Cica e da Perdigão), contando com Magic Paula, Branca, Marta, Vânia Hernandes, entre muitas outras. Claro que a maior rival, quem era? A equipe que tinha Hortência. Ora ganhávamos, ora perdíamos, mas as partidas eram especiais.
Nessa época, já admirava Hortência não pelo talento (que tem de sobra), não pela técnica ou disposição tática, mas como elas nos enfrentava ou melhor, como nos ignorava. Ginásio do Bolão completamente lotado. A gente batendo o pé e fazendo aquele barulho incrível, gritando, batendo palmas, vaiando… e ela jogando como se estivesse no ginásio vazio, sem ninguém, na questão da concentração, da precisão, do nível de força mental.
Voltando para a corrida, depois de Boston, estava descansando. Diferentemente da Mari, não porque irei correr duas maratonas em um curto período de tempo, pois já fiz isso com bons resultados (e outras vezes, com ruins), mas pelo fato de ter treinado muito desde dezembro. Como nunca treinei. O corpo senti. Boston não foi a prova que eu imaginava, mas lutei, corri e sofri. Cheguei literalmente passando mal. Depois, muitas dores musculares, como nunca tinha sentido depois das maratonas.
Na conversa com o Marcelo Camargo, meu treinador, a ordem para descansar. Claro que reclamei no começo, mas percebi a importância. Desde o dia 18 de abril até hoje, eu tinha feito, apenas quatro treinos, três de 10 km e um de 16 km no último sábado, todos bem leves, naquele ritmo geriátrico, de bate-papo, conversas, risadas…
Descansei o que precisava, mas sinceramente, pensando na Tribuna no dia 15 de maio e na Maratona de Porto Alegre, em 12 de junho, estava “desencanado” em fazer provas fortes, ainda não sei se será possível, mas hoje fui fazer o primeiro treino, 8×800 m, e não é que saiu muito melhor do que eu imaginava? A perna sentindo a falta de estímulos das semanas paradas, mas respondendo. Claro que a cabeça melhorou.
Ainda tem muito chão pela frente nas próximas semanas até Porto Alegre, será mais de descanso do que de treinos, não tem como, mas a questão da resistência foi muito trabalhada neste ano, então, se a velocidade melhorar, quem sabe não tenha uma boa surpresa reservada para capital gaúcha!
Todas essas linhas servem, mais uma vez, para reforçar a questão do trabalho mental, da confiança, de exercitar esse lado que muitas vezes acabamos esquecendo.