20 de setembro de 2024

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Sem categoria André Savazoni 24 de março de 2016 (2) (130)

Rumo a Boston: os aprendizados e a especificidade do treino da maratona

No texto anterior nessa série Rumo a Boston escrevi sobre como a vivência do treinamento da maratona pode (e deve) ser importante para a vida profissional. Porém, esse aprendizado também tem reflexo muito grande na prática esportiva, principalmente pela especificidade da corrida. Ou seja, se você está focando os 42 km, correr é o melhor a fazer! Parece simples, mas é preciso refletir para compreender bem esse significado.

0-2015318121607Um ponto que a Educação Física trata é como o atletismo (ao lado da ginástica) deveria ser ensinado nas escolas, nos ensinos infantil e fundamental. Não é formar atletas nem especializar as crianças, longe disso, mas trabalhar os movimentos que serão a base tanto para outras modalidades como para um desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo-social.

Veja a explicação: no atletismo estão presentes todos os movimentos básicos. Correr, saltar, pular, arremessar… inclui-se ainda equilíbrio, mudança de direção, controle de ritmo… poderíamos passar horas falando sobre o tema. Agora, transfira isso para a corrida de rua e, no nosso tema aqui no blog, para a maratona. A especificidade é determinante.

Quase todo mundo que partiu para os 42 km já leu ou recebeu a orientação do treinador: testar a roupa, o calçado, a hidratação, a alimentação para o dia da prova. Quando? Principalmente nos treinos longos. Não estrear nada novo no dia da corrida, não quebrar essa rotina. Resumindo: não inventar. O treinamento é igual.

Você pode treinar para uma maratona na esteira? Claro que pode. Há muita gente que faz isso. Porém, se vai competir na esteira? Não. Há influência do vento, das curvas, de buracos na pista, da chuva, do sol na esteira? Há necessidade de desviar de outros corredores, de mudar de direção para se hidratar, de frear para não atropelar aquele… que entrou na sua frente no posto de água ou saiu dele para o lado sem olhar?

Outro ponto fundamental, use o GPS (é uma ótima ferramenta e ajuda bastante), mas não fique escravo dele. Saber controlar o ritmo, saber como está correndo sem precisar de uma referência mecânica, ter o controle pelo cronômetro, ir se ajustando pelas placas da prova (de 5 em 5 km, por exemplo, é o que faço nas maratonas, pelo tempo) fazem parte desse aprendizado. Até porque o GPS está longe de ser preciso. Hoje corri com a Mari, 10 km de ritmo dela. Lado a lado, mesmo percurso, houve uma diferença de 500 m entre os dois GPSs! Da mesma marca, mas modelos diferentes (o meu mais antigo, o dela, mais moderno).

Por isso, em conversas com corredores, sempre que surge o tema dos 42 km, não tenho dúvida alguma em falar que completar a prova é muito “fácil”, algo acessível para a maioria, nem que seja caminhando, agora, correr uma maratona, isso, sim, muda tudo. Pois envolvem uma série de fatores desde o primeiro dia de treinamento até o passo final para cruzar o tapete de chegada. Nesse meio tempo, temos a experiência, o aprendizado e a especificidade como pontos primordiais, dentro de um longo planejamento. Estou no final dele. Faltam 25 dias para Boston. Mais esta semana e a próxima. Depois, hora de descansar as pernas e chegar 100% no dia 18 de abril.

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2 Comments on “Rumo a Boston: os aprendizados e a especificidade do treino da maratona

  1. Texto excelente André!
    Concordo contigo com a necessidade da prática esportiva nos ensinos infantil e fundamental.
    Percebi tarde (depois dos 30 anos) o meu gosto pelo esporte, pois nas aulas de Ed. Física a falta de didática e prática dos professores me fizeram acreditar, naquela fase, que eu não tinha aptidão física.
    Porém, a vida me mostrou que eu tenho disciplina, foco e principalmente, vontade de ser corredora e maratonista!
    Quanto aos treinos da maratona, considero a fase final(“polimento”) a mais complicada, pois sempre acho que estou treinando de menos, o que me deixa aflita e ansiosa.
    Bons treinos!

  2. Oi Regeane
    Aí que está. As aulas de Educação Física não podem ser excludentes, os professores precisam trabalhar para envolver a todos. Veja, como você mesmo citou, aos 30 anos percebeu o gosto pelo esporte. Poderia ter sido com 8/10 anos se houvesse a pedagogia correta, a orientação certa… isso eu chamo de cultura esportiva, é isso que não temos. É esse incluir, esse fazer todos participarem e, então, cada um fará suas escolhas.
    Sobre a fase final do treino, o “tapering”, “taper”, o popular polimento, vou escrever sobre ele nas próximas semanas.

    Abraço
    André

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