Na semana passada, no Facebook da Boston Athletic Association (BAA), houve uma pergunta de como estava o treinamento para a Maratona de Boston. A cada duas respostas, três diziam: “Hill”. Traduzindo, monte, colina, morro, ladeira… pode escolher a palavra, mas o significado (e a a sensação nas pernas) será a mesma: nos 42 km (como podem ver na altimetria do mapa), não há plano. Ou se está subindo ou está descendo. Morro acima, morro abaixo. Alguns bem leves, outros, nem tanto. A primeira metade, você acaba descendo mais e voa. Na segunda, precisa saber administrar…
Mas, então, como correr em Boston? Pelos quatro anos de experiência no percurso (e nunca encaixei uma prova 100% lá por diversos motivos), a primeira metade é realmente muito rápida. Não pode perder tempo nela. Mas também não pode gastar. Esse equilíbrio é o “pulo do gato”. Depois, a segunda parte judia mais das pernas (até porque, você já as usou bastante acelerando nos 21 km iniciais), tem o trecho decisivo entre os km 29 e 34 (quanto há as três piores subidas) e, depois, se tiver pernas (olhe elas aí de novo), do km 35 para frente, volta a descer bem, ou seja é momento de acelerar. Se bem que falar em acelerar do km 35 em diante, quem já correu maratonas sabe que não é bem assim.
Sempre me perguntam qual é mais difícil das duas mais difíceis na série das Majors, Boston ou Nova York? Aqui, um adendo, para mim, o que define a dificuldade de uma maratona é o clima. Se está frio, a altimetria fica em segundo plano estando bem treinado. Com calor, até uma plana vira um tormento. Agora, voltando ao nosso tema do texto de hoje na série “Rumo a Boston”, eu diria que Nova York é mais complicada por um motivo simples: os seis quilômetros finais. A longa subida até o Central Park e as colinas dentro dele. O miolo, você tem as pontes, mas também bastante plano, consegue encaixar o ritmo. E olhe que tenho em Nova York um tempo quatro minutos mais baixo do que em Boston…
O que acontece em Boston é que, fisicamente, você precisa chegar melhor do que em Nova York. Quanto a isso, não tenho dúvida alguma. A musculatura será muito exigida na centenária maratona norte-americana. Então, como fazer essas preparação? Já conversei com muitos treinadores sobre o tema. Juntando com o que já vivenciei lá, diria que são duas opções (com uma terceira combinando). Em uma delas, fazer muita subida e descida, preparar a cabeça e o corpo. A outra, caprichar mesmo na musculação (mas bem feita realmente, daquele jeito que nem todos os maratonistas gostam e na qual me incluo). E qual a terceira? Mesclar as duas partes, mas chegando em um equilíbrio pois não dá para deixar os treinos de ritmo, os intervalados intensivos e extensivos de lado…
Então, para quem está se preparando para Boston, faltando 62 dias, ou para quem pretende buscar o índice e correr a prova em 2017, 2018 ou outro ano, converse com o treinador e saiba que Boston pode ser o local do recorde pessoal e de uma prova excelente, mas precisa chegar muito bem fisicamente nela!
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Corri Boston no ano passado e fiz meu recorde pessoal. Fui morrendo de medo das subidas, e elas existem mesmo, mas são compensadas pelas descidas … caso vc tenha se preparado pra isso.
Todos meus longos foram feitos em sobe-desce e finalizados com 3km de descida forte sentando a púa.
Fiz também um treino por semana em esteira rodando 8km contínuos no ritmo de maratona com elevação de 3-4% . Sofrido demais mas parece que deu resultado.
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Perfeito, Roberson, obrigado pelo complemento. Acho que sua frase explica perfeitamente bem: “caso você tenha se preparado para isso”.
Sabe que tenho colocado as subidas e descidas no longos e nas rodagens no meio de semana, além de forçar a musculação. Nos longos, acelerando nos 10 km finais, mais ou menos… agora, esse aí, de correr o final em descida, acelerando (numa representação de Boston) é uma excelente dica também, não tinha pensado nisso.
Abraço
André