Quem conversa com Orlando Santos percebe a influência e as expressões da cultura gaúcha, sem nem imaginar a origem no interior da Paraíba. Inclusive, ao longo do relato abaixo, você perceberá isso com citações de “guris” e “lombas”! Mas essa origem nordestina retrata a determinação que levou para a vida, seja profissional ou esportiva. Começou nas provas rápidas, de 100 m e 200 m, se afastou um pouco da atividade física e retornou em busca de bem-estar, mas se apaixonando depois pelos 42 km. Tanto que chegou a Boston nesta edição de número 120. E com um “presente” especial: completa 53 anos no dia 18 de abril, exatamente a data em que estará correndo de Hopkinton até a famosa finish line na Boylston Street. Conheça a história desse guri paraíbano que representa bem os 154 brasileiros em Boston.
“Sempre gostei de praticar esportes. Vindo interior da Paraíba para Natal (faz tempo), em 1974, tomei gosto pelo atletismo, particularmente pelos 100 m e 200 m rasos. Correndo individualmente e em revezamento, disputei por alguns anos os Jogos Estudantis do Rio Grande do Norte (JERN’s), com bons resultados, especialmente, no revezamento. Os guris eram rápidos!
Mas o gosto pela corrida de rua está relacionado a um outro fato: em 1981, então com 18 anos, após ser aprovado em concurso para escriturário do Banco do Brasil, assumi o posto na querida cidade de Cuité, interior da Paraíba, onde nasci. Para manter uma vida ativa e saudável, comecei a correr, duas a três vezes por semana, sem maiores pretensões, de 5 a 10 km, por vez, conforme a vontade/possibilidade.
Foi tão satisfatório o resultado para o meu bem-estar que, ao retornar para Natal transferido, em 1984, mantive o hábito, ampliando a frequência e distância percorrida. Sem saber já estava “apaixonado” pela corrida, à época, encarada como um momento lúdico, de prazer, relaxamento, reflexão e até resolução de problemas. Acreditem: correr é um santo remédio e mais barato do que fazer terapia!
Não preciso dizer que praticar corrida de rua nas décadas de oitenta e noventa do século passado(!), era uma aventura arriscada. Não raro, alguém resolvia me homenagear com uma determinada música do meu compositor preferido, Chico Buarque: “Vai trabalhar vagabundo”! Isto sem contar os motoristas “brincalhões” que pareciam querer provar que os seus carros eram mais pesados do que “o ar”, ou melhor, do que o pobre corredor. Daí, até hoje cultivo este aprendizado: Na rua, no geral, corro contra o fluxo dos veículos.
Após mudar-me para Porto Alegre/RS, “raptado” por uma gaúcha, por muito tempo consegui manter o hábito de correr sozinho, sempre no mesmo ritmo e voltado para o meu bem-estar. Só que a vida profissional de advogado e professor, com horários malucos e hábitos alimentares ruins, aliada a minha indisciplina, terminaram “minando” as corridas e eu acabei ganhando peso: quase 10 kg a mais na balança. Era 2010, segundo semestre, e decidi que estava passando a ora de “botar ordem na casa”!
Gradativamente voltei a correr e percebi que então “o mundo da corrida” havia se transformado, virado quase moda; muitas assessorias, algumas revistas especializadas e muita gente, nas ruas e parques, a exemplo do que eu fazia, correndo por prazer, para manter a saúde. Estimulado por esse novo clima, resolvi que ia levar a coisa um pouquinho mais a sério e por meio das revistas especializadas, em especial a Contra-Relógio, e sites, passei a treinar(!) com base em planilhas, ainda sozinho.
Em 24/09/2011, aniversário do meu primeiro filho, eu então com 48 anos, ainda com sobrepeso, estreei em uma prova de rua, nos tradicionais 10 km; cheguei com o “coração na mão”, tempo líquido de 49:07. Menos de um mês depois, baixei o tempo para 46:10. Nada mal! Ainda em novembro desse ano estreei na meia-maratona; foi “amor a primeira vista”.
Em 2012 ingressei numa assessoria de corrida, com um objetivo mais ousado de, ainda nesse ano, estrear em uma maratona; a prova escolhida foi a Maratona de Buenos Aires, plana, fria e quase ao final do ano, facilitando a preparação. Fiz mais três meias maratonas, uma boa preparação, concluindo a prova com o tempo líquido de 3:43:15. Terminei bem mas, com a “certeza” que maratona era a “primeira e última”, pois os treinos eram desgastantes e a prova muito longa e cansativa. Bobagens! Uma semana depois já estava pensando em qual maratona melhoraria meu tempo.
Em 2013 muito treino, mais várias meias maratonas e duas maratonas: São Paulo e a primeira edição da Mizuno Uphill Marathon, com intervalo de menos de 60 dias. É que o convite para o maior desafio da minha vida de corredor foi feito após a maratona de São Paulo, em 06/10, e a Uphill estava marcada para 30/11, na temida Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina. Maratona serra acima, com quase 1.500 m de variação altimétrica, só que, cerca da metade, nos últimos 8 quilômetros; um muro pra ninguém botar defeito! Fui bem e terminei a prova em 4:28:29; e o melhor, cansado, porém inteiro, celebrando a vitalidade dos meus 50 anos.
Terminei o ano de 2013 com um desafio na “mira”: obter o índice para correr a tradicional Maratona de Boston – sub 3h30 para a faixa 50-54 anos. A prova escolhida seria a Maratona de Porto Alegre, em junho de 2014. Tudo certo, ou quase; nos 21 km da Wine Run, em abril/2014, me machuquei e não pude correr “em casa”. Recuperado, treinos retomados e uma nova/velha escolha: faria de novo a Maratona de Buenos Aires; escolha certa e índice na mão: 3:28:13 – ou quase!
Estimulado pela estreia de vários colegas da assessoria RA RUNNERS na Maratona de Porto Alegre de 2015, resolvi treinar a sério e encarar a prova, com a responsabilidade de ditar o ritmo para um grupo de corredores. Santa Decisão! No dia 12 de junho, frio e nublado, percurso plano, “carimbei meu passaporte” para Boston, com 3:23:09! Isso porque, na 120a edição, todos os índices sofreram um corte de 2min28seg; ou seja, para faixa etária 50-54 anos, o índice que garantia a participação caiu para 3:27:32. Moral da história: se tivesse me contentado com o tempo de Buenos Aires estaria fora da prova!
Bom, comecei os treinamentos em meados de dezembro do ano passado, em pleno verão de “Forno Alegre”. Treino quatro vezes por semana, além de musculação, no mínimo, duas vezes por semana, para os joelhos suportarem; tenho condromalácia nos dois! Em síntese, variando distâncias, paces e altimetrias, os treinos de corrida seguem uma certa ordem: 2a feira, rodagem leve; 3a feira, ritmo e/ou lombas; 5a feira, pista; e sábado, longões, alguns no pretendido ritmo de prova. Musculação às 4a e 6a feiras. Estou quase pronto e a expectativa, apesar do “tobogã” da Maratona de Boston, uma prova de estrada, é ao menos correr abaixo do índice. Quem sabe… para me dar de presente de aniversário, não vem o “recorde pessoal mundial” (RPM) – faço 53 anos no dia da prova, 18 de abril!”
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Muito legal!!! Parabéns!!
André, a sua introdução ficou muito legal! Jornalista é outro papo.
Até Boston!
Abs
Não fiz nada, Orlando, sua história que é muito legal e mostra como a corrida é extremamente positiva não apenas como esporte, mas na questão do estilo de vida e do exemplo.
Um abraço e Boston está chegando
André
Muito boa sua história Orlando. Quem sabe vamos juntos na prova.
Que bacana. Super admiro a determinação desse meu tio. Espero vocês em Boston!!
Sensacional teu relato, amigo. PARABÉNS !!
Muito bacana, inspiração e raça admiro muito esse guri. Abraço
Conheço a disposição de Orlando para corridas desde a adolescência. A sua determinação faz-me crer no seu sucesso em Boston. É uma história que inspira novos e experientes corredores. Parabéns!
Boa Mari Savazoni; vamos conversar em Boston para acertarmos os ponteiros!
Parabéns querido. Você é um exemplo para nós.