Sem categoria André Savazoni 19 de fevereiro de 2016 (5) (128)

Rumo a Boston: Corredores falam da logística no dia da maratona

No texto anterior desta série Rumo a Boston, comentei sobre as particularidades da logística no dia da maratona. Mas nada melhor, também, do que o depoimento de corredores que disputaram a prova, assim, Felipe Arakawa, de Campinas, e Ana Maria Minarelli Gaspar, de Araraquara, comentam sobre o dia dos 42 km na centenária maratona.

Crédito: Boston Athletic Association
Crédito: Boston Athletic Association

“Todo o processo de logística de Boston para Hopkinton, acabou mudando minha visão sobre o pré-maratona. Antes de Boston, eu tinha excesso de cuidados, manias. Após, descobri que somos muito mais fortes do que imaginamos. Não precisamos de tanta ‘frescuras’.

Acordei às 5h, sendo que minha largada foi às 10h Uma Fiquei emocionado ao pegar o ônibus escolar em Boston, uma sensação inexplicável. Chegando em Hopkinton, novamente bate uma forte emoção, principalmente para estreantes. Ver a vila de atletas, aquela estrutura montada, enfim, momento especial.

Senti muito frio e ansiedade. As autoridades alertaram para o frio, mandaram muitos e-mails. Fazia 2 graus com sensação de zero. Logo após a chegada do ônibus à Vila dos Atletas, caiu uma forte chuva, depois ficou uma neblina densa. Fiquei o tempo todo sentado no chão, em cima de um papelão. Muitas vezes me pegava tremendo, mas não sabia se era de frio ou ansiedade, talvez um misto dos dois. Pensava que minhas pernas iriam travar por ficar tanto tempo sentado e com elas cruzadas. Comi bagel e tomei chá, tudo oferecido pela organização.

No final, deu tudo certo, corri bem, não senti nada. Quer dizer, senti sim, muita emoção pelo percurso.”

Felipe Arakawa

“Quando corri em Boston, no ano de 2015, estava muito frio e no dia da prova a meteorologia previa chuva e temperatura baixa, com sensação térmica entre 0 e -1, o que se confirmou). Então, comprei um cobertor barato, pois imaginava que precisaria, pois ouvi de corredores experientes que se esperava muito na Vila dos Atletas. Bem, não esperei muito tempo para a minha largada, pois a minha onda era às 10h50 e eu cheguei ao local da largada em torno das 9h20. Mas estava mesmo muito frio. As roupas que vestia (meia calça grossa, short, camiseta fina de manga longa, moletom, uma capa de chuva descartável, gorro, luvas), além do cobertor, foram razoavelmente suficientes para aguentar.

Como tinha tempo, aproveitei para ir ao banheiro e essa parte foi estressante, pois havia filas quilométricas, apesar de inúmeros banheiros… Pensei em desistir, pois em certo momento já aparecia no painel a minha onda… Conversei com uma americana que estava em uma onda após a minha e ela dizia para eu ir ao banheiro que daria tempo… Deu, mas fiquei exatos 50 minutos na fila em pé, sentada, com uma garoa fininha que caía e não pude circular, ou ir comer algo em uma tenda gigante que eles armam lá ou me proteger da chuva ou aquecer…

Nessas horas, você chega a repensar o que está fazendo lá… É sacrifício, doideira, sei lá… Bem, indo para a baia (você anda bastante até chegar ao local de largada mesmo) entreguei o cobertor para a doação. Aí, o ‘bicho’ pegou… Frio danado, mas não tinha muito o que fazer além de ficar junto com todo mundo, em bloco, para evitar o vento gelado.

Quando dá a largada é sensacional, é uma emoção incrível. Então, você se concentra e vai… Aos poucos, vai esquentando, tirando as roupas em excesso e jogando no acostamento… Tudo seria perfeito, se a chuva tivesse parado – o que não aconteceu e, por sinal, em alguns trechos ela aumentou e eu ensopada e com frio, muito frio… Nessas eu rezava para alguém me dar um boné, para não tomar mais chuva no rosto, que me incomodava muito fora o frio… E não é que um norte-americano que estava assistindo à prova na rua, naquele frio, naquela chuva, me ofereceu mesmo um boné? Peguei prontamente e, ainda, ganhei um sorriso dele por ter aceitado a ajuda… Histórias dessa maravilhosa, mas sofrida maratona!”

Ana Minarelli Gaspar

 

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5 Comments on “Rumo a Boston: Corredores falam da logística no dia da maratona

  1. Sensacional!!!Estou curtindo essa prova muito tempo antes!!!

  2. É, parece que a Ana sofreu mais do que eu sofri na Maratona de Nova Iorque 2014. Fiquei com muito frio esperando por horas. Não quis ficar parado no chão, por causa do frio, e fiquei andando para lá e para cá.

  3. Adolfo Neto, a Ana Minarelli deu “azar”. Por um lado, foi o melhor ano dos quatro em que estive em Boston para correr. Clima daqueles dias para você aproveitar o frio. Por outro lado, foi disparado o pior na espera. O que mais sofri também, mais do que em Nova York quando corri e larguei com sensação térmica de 0°C também.
    Abraço, André

  4. Ana, sei exatamente o que você sentiu. Foi dureza. Imagino que para mulheres (na maioria), o frio pegue mais. Minha esposa estava assistindo a prova em Boston, e sentiu muito frio, mesmo vestida adequadamente. Eu também senti frio durante o percurso, incrível isso. Minhas roupas molharam e eu só pensava que não podia quebrar e começar a andar, pois morreria de frio no caminho.
    Realmente, recordações para a vida.

  5. Adolfo, André e Felipe apesar de tudo, gostei muito da experiência, por inúmeros motivos… Desde o fato de ser a minha primeira vez em solo americano e ido sozinha e ter concluído a maratona, mesmo com condições climáticas não tão favoráveis em um tempo, que prá mim, foi bom… toda maratona a gente aprende alguma coisa e para a próxima, sempre tentar melhorar.. esse é o espírito… agora torcer para a nossa moeda se valorizar e conseguirmos fazer esta novamente e outras no futuro! Abraços!

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