20 de setembro de 2024

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Sem categoria André Savazoni 10 de fevereiro de 2016 (7) (391)

Rumo a Boston: a edição número 100 em 1996, a única centésima da vida

João Ferreira Freitas Filho, de Curitiba, é um corredor das antigas. Não pela idade, com mais de 60 anos ou por ter feito 1:27:41 e ficado em terceiro lugar na faixa 60-64 anos na Meia de Buenos Aires em 2015. Mas pela forma e respeito como encara o esporte, o treinamento, as competições. Ele disputou a centésima edição de Boston, em 1996 (naquela que, na época, foi a maior maratona do mundo em concluintes). Hoje, com tudo ao alcance de um clique, com os resultados online e “ao vivo”, com aplicativos e internet, com o mundo realmente globalizado, nem nos lembramos que há pouco tempo, apenas 20 anos, as coisas eram bem diferentes. Freitas conta a história.

foto_1007“Comecei a fazer maratonas em 1995 e nesse mesmo ano completei quatro provas (Porto Alegre, Blumenau, São Paulo e a do Clube Santa Mônica, em Curitiba).
Estava com 44 anos e não tinha muito acesso a dados ou revistas de corrida.
No final do ano, treinando com um colega triatleta, ele me perguntou se eu faria a Maratona de Boston em 1996. Respondi que não e qual a razão da pergunta.
O colega, incisivo como sempre, me disse: ‘Que raios de maratonista que você é? Não vai fazer a centésima Maratona de Boston, a única centésima que teria em vida?’
Fiquei impressionado com essa única centésima e, convencido, pedi que ele encaminhasse a minha inscrição juntamente com a dele. Tinha o tempo de qualificação exigido, pois marquei 3h03 nas maratonas de Porto Alegre e Curitiba.
Este meu colega já tinha um grupo de corredores de Curitiba fechado, com tudo definido para a viagem, com planos diferentes dos meus.
Decidi que faria a viagem com a minha esposa e fechamos um pacote com a Kamel Turismo.
Lá pelo mês de fevereiro, preocupado, entrei em contato com a organização da prova e recebi a confirmação de que a minha inscrição tinha sido confirmada. Foi por telefone e não tinha nada por escrito.
No Rio de Janeiro, no embarque para os EUA, encontrei dezenas de corredores da excursão da Kamel e todos com o seu número de inscrição e eu não tinha nada oficialmente confirmado.
Quando fui retirar o kit, após alguns problemas de comunicação, acharam o meu nome e me deram o número do peitoral: 28.279. Isto significava que eu tinha que largar na baia 28. Simplesmente, tinham 27.999 corredores nas baias da frente, em uma largada estreita no distrito do Hopkinton. No momento, até que fiquei contente, pois receava que tivessem rejeitado a minha inscrição. Afinal, mais de cem mil pediram inscrição e somente aceitaram 40 mil.
Passado o susto, perguntei qual o motivo da baia 28 e disseram que houve erro na inscrição e o que estava valendo era o número 7 colado ao lado do número da minha inscrição. Menos mal, largaria na baia 7.
Contudo, a minha bagagem teve de ser despachada no ônibus 28. Mais um pequeno estresse antes da largada, pois os ônibus bagageiros ficavam ao lado da sua respetiva baia. Tive que despachar na baia 28 e ir correndo para a minha de largada, a 7.
Tudo bem, tudo pronto. Um domingo de sol, com frio na largada em torno de 10 graus, com previsão na chegada de 3 graus. Até hoje, não sei como os norte-americanos são tão precisos nesses cálculos meteorológicos.
Dada a largada, retirou o selo o 7 colado no meu peitoral e lá fui em com 28.279.
Levei mais de 2 minutos para passar o tapete de largada e fiquei sabendo que os últimos passaram com quase meia hora de atraso. A largada era única em uma pista muito estreita.
Larguei bem e fui embora, ‘driblando’ muitos corredores que largaram à minha frente. Depois de algum tempo de corrida, veio a surpresa para mim e para muitos que estavam assistindo: apontavam para o meu número e perguntavam como alguém que largou na maia 28 já estava ali na frente, correndo ao lado do pessoal que largou na na baia 3 ou 4. Fiquei surpreso com a reação, pois não esperava tanta repercussão. Empolguei-me com os incentivos.
No final da prova, já entrando em Boston, dei uma ‘quebrada’, mas fechei com o tempo líquido de 2:59:39. Fiquei entre os primeiros 2.300 colocados. Nada mal, para quem largou na baia 7.
Ainda mais uma surpresa: desta feita para o pessoal encarregado de entregar a bagagem. Chegando ao ônibus 28, sequer tinham se planejado para uma entrega ‘tão rápida’. Quiseram saber como um atleta larga quase no final da fila e já tinha completado a prova. Pela lógica, eu deveria demorar pelo menos mais uma meia hora. O meu inglês foi insuficiente para explicar a confusão e preferi ficar com os elogios de ser um corredor muito rápido! Melhor assim. Uma mentirinha que não ia fazer mal a ninguém.
Não sei qual será a próxima maratona centenária, mas a minha eu já fiz e Boston eu recomendo a todos. Prova e lugar espetaculares. Vale a pena um corrida turística.
Tempos depois, já de volta ao Brasil, recebi a confirmação oficial da inscrição. Tinha passado por Porto Rico. Acho que foi pois o meu colega colocou o meu endereço: Curitiba – PR – Brasil. Confundiram PR com Porto Rico. Só pode ser!”

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7 Comments on “Rumo a Boston: a edição número 100 em 1996, a única centésima da vida

  1. Que história bonita. Que relíquia essa placa com medalha. Parabéns, João! Vc, assim como nós que corremos Boston, está na história dessa maravilhosa corrida. Valeu, André, embaixador da Maratona de Boston no Brasil.

  2. Linda história! Parabéns João!
    Espero um dia também realizar o sonho de correr em Boston.

  3. Nossa… sensacional a sua história João!!!! Parabéns!!!!

  4. Grato, pessoal. Graças ao meu colega triatleta que me deu a bronca por eu não saber da tal centésima maratona…

  5. Parabéns Freitas!!!

  6. Também tive o privilégio de participar do centenário de Boston, a primeira, se não me engano com chip…hoje, depois de uma isquemia na medula guardo essa recordações pro resto da minha vida..

  7. Parabéns João!!!!

    Você continua sendo fonte de inspiração para aqueles que estão começando!

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