A Maratona de Boston para mim começou em abril de 2014, como torcedora, curtindo toda aquela vibração, aquele vai e vem de corredores. Estávamos com nossos filhos e isso torna tudo ainda mais especial. Nessa época, depois de tanto negar, eu já tinha decidido: faria uma maratona. Seria em Buenos Aires em outubro daquele ano. André e um amigo falando que eu poderia correr e fazer o índice. Eu achava realmente impossível. Não pensava que um dia poderia estar ali fazendo parte realmente do grupo de corredores com suas sacolas, histórias e desafios pessoais em Boston.
O resto é apenas história. Eis que no dia 16 de abril de 2016, desembarco em Boston, para sim, fazer parte dos maratonistas inscritos para essa tão sonhada, desejada e emblemática maratona. Este ano foi muito diferente dos outros em que fui acompanhar o André. Além, claro, de eu estar indo para correr, tinha o fato de ter muitos brasileiros. A maioria eu estava encontrando pela primeira vez, mas nos conhecemos graças às muitas histórias publicadas aqui no blog. Ir à Expo, pegar o bib number, tirar fotos, conhecer estrelas da maratona de Boston, como a Kathrine Switzer; o vencedor de 2014 Meb; os Hoyt… Tudo isso foi aumentando a magia.
Agora, realmente, tudo começa a mudar naquela manhã de segunda-feira. Quando a gente entra nos ônibus escolares amarelos e segue em direção à Hopkinton. A partir desse momento, cada um começa a escrever a sua própria história da participação em Boston.
Até a largada tudo o que faz Boston ser especial está relacionado a uma maravilhosa e eficiente organização. Não tem erro. São muitos e-mails, muitas informações. Não fica qualquer dúvida.
Depois da largada, é com você. Você corre, tenta se concentrar no ritmo, na estratégia definida. Vai tentando curtir, sorrir. Muita emoção. Tem muita gente no percurso. Começa a passar pelas vilas, pelas cidadezinhas da região, que estão em dia de festa. E, nós, corredores, somos os convidados de honra. Para os milhares de participantes, a partir desse momento, algo vai mudar em suas vidas, passarão a ter uma outra visão da corrida, da perspectiva sobre o que é uma “maratona viva”, com alma.
Eu vivi tudo isso em um dia quente, em que minha estratégia foi pelo ralo por volta do km 27. Tudo o que eu tinha planejado em termos de tempo, performance, acabou. Mas aí começava o melhor da festa. Sentir a vibração de toda aquela população, a energia, o carinho e o respeito de cada morador por cada corredor que passa por aquelas estradas é algo simplesmente mágico. Não fiz muitas provas, e só três maratonas na vida, mas duvido que exista um lugar onde os corredores se sintam mais especiais. A Maratona de Boston não é apenas uma prova, uma corrida de rua. É uma experiência.
Quando a acabei, eu queria fazer um esforço para não perder nada do que vi, nada do que senti naqueles 42,195 km. Comentei com André isso e ele me disse: “Não se preocupe, você não vai esquecer jamais”. Dia 18 de abril de 2016 foi um dos dias mais emocionantes da minha vida de corredora e posso dizer, sem sombras de dúvida, um dos dias mais emocionantes da minha vida.