POR ALVARO RAZUK | @alvaro.razukmd
Estamos na semana da Maratona do Rio, a prova mais bonita do Brasil. Provavelmente ela será realizada em condições ambientais quentes e úmidas. No próximo domingo, dia 2 de junho, dia da maratona, no site da Climatempo (clique aqui) a previsão é de 20°C a 28°C, com umidade do ar variando de 64% a 91%. Essas características são de alto estresse térmico, incluindo calor, umidade relativa e radiação solar.
A temperatura ideal para um bom rendimento em uma maratona geralmente está na faixa de 10 a 12°C. Na Maratona de Berlim, um dos percursos mais rápidos do mundo, e onde a maioria dos recordes mundiais da maratona foram alcançados, as condições ambientais ideais para um recorde mundial masculino foram as temperaturas de 16,6°C, dias ensolarados, principalmente secos, com maior pressão atmosférica e pouca nebulosidade.
Condições climáticas quentes são conhecidas por prejudicar o desempenho e aumentar o risco de doenças causadas pelo calor nas provas de endurance, como a maratona.
A umidade do ar, que corresponde à quantidade de vapor de água no ar, é alta quando há muita água no ar. Quando elevada, influencia negativamente o desempenho dos corredores nas maratonas.
Sabemos que, quando a temperatura corporal atinge níveis acima de 38°C, induzidos por exercício intenso, isso leva rapidamente à exaustão, ou seja, a fadiga ocorre mais cedo.
Hipertermia é definida como uma elevação da temperatura corporal central superior a 38,5°C. A hipertemia é uma doença de calor induzida por esforço. Esse aumento da temperatura causado pelo esforço, além da exaustão, pode levar ao colapso do maratonista.
A seguir, veremos como a temperatura e a umidade do ar influenciam negativamente o desempenho do atleta, e o que podemos fazer para minimizar estes efeitos.
Primeiro, é importante lembrar que nosso corpo produz calor ao produzir energia. Os nossos músculos aproveitam apenas 20-25% da energia liberada pela hidrolisação do ATP (adenosina trifosfato). Ou seja, cerca de 75-80% da energia produzida não contribui para o trabalho muscular e é liberado, internamente, na forma de calor.
Em provas de resistência, como as maratonas, ocorre maior recrutamento muscular, resultando no aumento da produção de calor durante a prova. Importante lembrar que, quanto maior a intensidade da atividade, ou seja, quanto maior o ritmo, maior a produção de calor.
Esta produção metabólica de calor precisa ser dissipada ou eliminada para o meio ambiente, a fim de limitar o aumento na temperatura corporal.
Vários fatores afetam o equilíbrio entre produção de calor (por exemplo, intensidade do exercício) e dissipação (por exemplo, calor e umidade ambientais, temperaturas da pele e umidade).
Outro fator importante para a produção de calor corporal é o índice de massa corpórea (IMC). Quanto maior este índice, maior a produção de calor.
O aumento da temperatura corporal também desafia o nosso sistema circulatório. Resumidamente, há uma redistribuição do fluxo sanguíneo em direção à pele para eliminação do calor, e, subsequentemente, ocorre diminuição da pressão de enchimento ventricular, reduzindo o volume sistólico e, assim, piorando o desempenho cardíaco. Essa reposta hemodinâmica aumenta o risco de “quebra”.
A necessidade de manter uma taxa de suor elevada para dissipação de calor pode levar à desidratação, caso os líquidos não sejam repostos de maneira adequada.
A transpiração excessiva pode levar à perda de eletrólitos (como sódio e potássio), que são críticos para a função muscular e podem causar cãibras e outros problemas.
Se a umidade estiver elevada, o ar já está saturado de umidade, dificultando a evaporação do suor. Isso reduz a capacidade do corpo de se resfriar naturalmente, levando a um aumento da temperatura corporal.
Nosso corpo sua mais, em uma tentativa de se resfriar em condições úmidas, levando a uma desidratação mais rápida. Como o suor não evapora de forma eficaz, ele simplesmente escorre, causando uma perda maior de líquidos e eletrólitos.
Uma característica importante na Maratona do Rio são os trechos nas avenidas de praia, que expõem os corredores à radiação solar direta. Esta insolação, associada ao reflexo destes raios solares no asfalto e vidros das edificações, aumenta o calor durante a prova.
Um ponto positivo nos trechos de praia é que pode haver um pouco de vento ou brisa. Este vento pode ajudar a dissipar o calor, porém, nos trechos com mais edifícios, este fator vento pode não ocorrer.
Outro fator que vale ser mencionado é o microclima quente, gerado por grandes grupos de corredores próximos um dos outros durante corridas com grande número de esportistas. Nesta condição, as perdas de calor por convecção são limitadas dentro do grupo, resultando em carga excessiva de calor durante a corrida, afetando diretamente o desempenho.
Os corredores de maratona tradicionalmente usam roupas minimalistas e tecidos leves e tecnológicos: shorts, camisetas ou tops, que ajudam produzir menos calor e facilitam a eliminação do calor corporal. Aqui vale à pena prestar atenção nas cores das roupas. As roupas pretas produzem mais calor, pois absorvem a radiação solar, ao contrário das roupas brancas. As roupas coloridas e claras não influenciam e são bem bacanas e divertidas.
O tópico mais importante é a hidratação. A hidratação deve ser suficiente antes, durante e depois da corrida, e é crucial para o desempenho e segurança do atleta, principalmente no calor.
Os atletas devem evitar déficits de água maior que 2% da sua massa corporal durante o exercício. A hidratação é importante para que o atleta consiga manter a função termorreguladora e o funcionamento cardiovascular adequado.
Portanto, hidratar-se em todas as estações de água é muito importante. Sendo assim, é importante que, em condições excepcionalmente quentes, o estímulo e ritmo devem diminuir para que a nossa termorregulação funcione de forma eficaz, otimizando o desempenho e prevenindo falhas.
No entanto, essa estratégia significa correr mais lento do que estava planejando, e que estaria preparado em condições climáticas melhores.
Atletas devem adotar esta estratégia mais lenta. E evitar uma abordagem excessivamente ambiciosa, de ritmo rápido, que pode levar ao fracasso.
Em resumo, a temperatura elevada pode ter efeitos significativos no desempenho e na segurança ao correr uma maratona. Sendo assim, se o clima estiver muito quente:
– Mantenha-se hidratado e consuma eletrólitos (isotônicos, capsulas de sal ou géis com sódio.
– Use roupas leves e que absorvam a umidade.
– Use protetor solar e um boné para se proteger do sol.
– Comece a maratona bem hidratado e aproveite os postos de água.
– Ouça seu corpo e diminua o ritmo se começar a sentir muito calor.
– Preste muita atenção aos sinais de exaustão pelo calor ou insolação, como tontura, náusea, fadiga excessiva ou confusão. Procure ajuda imediata se você experimentar esses sintomas.
No mais aproveite correr na Cidade Maravilha e divirta-se muito. Faça uma ótima prova!
Alvaro Razuk é cirurgião vascular e endovascular, mestrado e doutorado em cirurgia pela FCM Santa Casa SP, MBA pela University of Miami, professor de Cirurgia Vascular da Faculdade de Ciencias Médicas da Santa Casa de SP, além de maratonista 15 vezes e Six Majors Stars.