20 de setembro de 2024

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Notícias admin 12 de março de 2013 (0) (110)

Ressurgindo das cinzas, na Patagônia argentina

Villa La Angostura, na Argentina, foi novamente palco da última etapa da K42, no dia 17 de novembro. Desta vez, o clima animado era muito diferente do enfrentado na edição de 2011, após o drama causado pela erupção do vulcão chileno Puyehue, distante 40 quilômetros, que cobriu toda a região de cinzas e destruiu parte da cidade. O cinza deu lugar a vivas flores amarelas que brotaram em tons mais intensos que os de costume. Ainda que houvesse resquícios da tragédia, imperou a limpeza e o azul profundo do imenso lago Nahuel Huapi.

A entrega de kits (composto por camiseta, bandana e chocolate) foi bem organizada, com uma pequena loja para compra de outros itens. Para os corredores da maratona, chip de cronometragem (mas não para os da distância menor, de 15 km). Na noite da véspera, no ginásio lotado, reunião para orientações do percurso.

Ao todo foram 86 brasileiros inscritos (além de acompanhantes), que viajaram com a facilidade de a prova ter caído em meio ao feriado da Proclamação da República e, em algumas cidades, do Dia da Consciência Negra. Eram 34 nos 42 km e 54 nos 15 km, com destaque para os grandes e animados grupos de Brasília, em especial da equipe Evolua Multisports, com 38 pessoas. A médica Fernanda Indelli, de 32 anos, por exemplo, machucou-se nos treinamentos para os 42 km e mesmo assim foi prestigiar o grupo.

A largada no sábado teve o ponto positivo de ser no centro da cidade, com incentivo maciço dos moradores. Marcada para as 9h, foi atrasada em meia hora devido a um grave acidente de carro com vítimas fatais.

 

DORES E DELÍCIAS DA MONTANHA.  Os dois primeiros quilômetros são em asfalto e terra batida, planos e fáceis. Logo vem o primeiro riacho (‘Arroyo Las Piedritas') para encharcar os pés e começa a subida, em fila indiana e momentos em que é impossível correr, tanto pela inclinação quanto pela largura da trilha. No km 5, após muito esforço, um posto de hidratação estrategicamente posicionado no lindo mirante, local perfeito para recarregar as energias e tirar fotos. O descanso dura pouco e logo aparece outra subida, ainda mais dura. Por volta do km 8 atingimos o ponto mais alto da prova de 15 km (600 metros de desnível) e a descida começa.

Em provas de montanha, contrariando o senso comum, não é tanto a subida que assusta, mas as descidas. Se na subida íngreme a lombar dói e o fôlego falta, a descida exige atenção redobrada pelo risco de queda. Raízes, galhos, sulcos na terra, areia, pedras e ainda as cinzas do vulcão. Isso tanto na K42 quanto nos 15 km. Para quem percorreu a maratona, havia ainda trechos com um pouco de neve. E o resultado aparece no dia seguinte, em forma de dores fortes nas coxas despreparadas. A impressão é que por mais que se treinem subidas e descidas, poucos estão realmente condicionados para o que vão encarar em uma prova desse tipo.

Após o km 13, onde estava o segundo posto de hidratação (o que muitos acharam pouco devido à dificuldade do percurso), é possível começar a correr de verdade, retornando em direção à cidade na terra plana e batida, com incentivo da população. Nesse momento há uma separação e os maratonistas seguem em diante. Para eles a brincadeira está só começando e o maior desafio está à frente: encarar os 1.800 metros do cume de Cerro Bayo, a estação de esqui. Os primeiros a atingir o pico tinham direito a premiação especial de 1.500 pesos argentinos, obtida pelos espanhóis Miguel Heras e Ohiana Cortazar, também vencedores da prova.

Cerro Bayo trouxe para os maratonistas um total de 2.100 metros de subida acumulada na prova. Em algumas partes o percurso tornava-se estreito e perigoso, mas a organização indicava esses trechos com placas especiais. "Em geral, a organização foi excelente. Muitas frutas, água e às vezes em menos de 100 metros passavam novamente os paramédicos de moto para perguntar se estávamos bem. Mas é uma prova muito dura. Depois de nos separarmos do grupo que faz os 15 km, tudo fica três vezes pior. No km 23, inicia-se uma subida íngreme que vai até o km 30", conta o empresário de Brasília Ricardo Cerqueira Batista, de 31 anos.

 

NA MARATONA 855 TERMINARAM.  Foram 1.640 concluintes: 626 homens e 229 mulheres nos 42 km e 785 atletas nos 15 km. Após 10 horas da largada ainda chegavam alguns corredores e a população aplaudiu até o fim. O sentimento é que eles estavam bastante gratos e felizes por sediar o evento. Boa parte dos moradores também se esforça para participar da prova, ainda que seja caminhando os 15 km. Ou surpreendentemente correndo, como Augusto de Mezzo, de apenas 10 anos, com o pai. Eles viajaram de Neuquen, capital da província, e pela primeira vez o garoto fazia os 15 km. "Gostei muito e não cansei, mas não gostei muito da passagem dentro do rio", disse.

Uma das figuras mais animadas após a chegada dos 15 km era a brasiliense Neide Maria de Amorim Campello, de 73 anos, que corre há apenas cinco. "Foi por influência dos amigos e quis fazer parte dessa festa", disse. Ela adora viajar para correr e os amigos confirmam: sempre volta com troféus. Neide completou a prova em 3h40, e perguntada se havia gostado, respondeu bem humorada: "Gostar não, que só doido gosta de uma coisa dessas. Mas fiz!", contou, rindo, terminando de tomar sua cerveja Quilmes na chegada.

O também brasiliense Marco Silveira, da Equipe Lo-rã, chegou bastante cansado. Na verdade, Silveira estava com uma lesão no joelho e há 60 dias sem treinar. Não poderia ter corrido, mas mesmo sentido fortes dores completou a primeira maratona, uma promessa que fez para a recuperação da filha, a pequena Maitê, de 7 anos, que em dezembro passaria por uma cirurgia no coração. "Não sei se encaro outra, não. Foi muito dura, pedra, gelo, areia. Só completei por pensar na minha filha e ter forças por ela. Uma hora começou a chover lá em cima e achei que não fosse dar, mas logo a chuva parou", relatou ao lado da mulher, Adriana Lacerda, que correu os 15 km.

 

DOMÍNIO ESPANHOL. O vencedor no masculino foi o espanhol Miguel Angel Heras, com 3h15, e no feminino a também espanhola Ohiana Cortazar, com 4h09. O melhor brasileiro foi Gilliard Pinheiro, em 3h40. O tetracampeão da K42 Bombinhas ficou em 6º lugar na Argentina com esse tempo.

No domingo houve ainda a corrida infantil. O maratonista de São Paulo Fábio Bonfim, de 41 anos, levou seus dois filhos (Natália e Pedro, de 10 e 6 anos, respectivamente). A prova variava de 150 a 500 metros de distância, de acordo com a idade, em terreno rústico também, e as crianças disparavam. Para Fábio, que viajava com a mulher Vanessa (ela fez a prova de 15 km) e o amigo maratonista Paulo Coragem, de 28, a K42 foi uma boa experiência em família. "Podemos unir tudo em um local maravilhoso. Além da viagem e a paisagem, há a corrida, que por ser em montanha é muito diferente das provas de rua que costumamos fazer. Na montanha há amizade e solidariedade. É mais legal porque não é só correr e ir embora. Você fica, faz amigos mesmo durante a prova e isso faz falta na rua", diz.

O jornalista e corredor argentino Alejandro Borges, de 43 anos, morreu após a chegada dos 15 km por problemas no coração. Exatamente à minha frente, foi atendido prontamente e levado à ambulância, mas não resistiu. A festa de premiação foi cancelada devido ao triste ocorrido.

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