20 de setembro de 2024

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Blog do Corredor André Savazoni 27 de setembro de 2012 (10) (165)

Reflexões sobre a São Silvestre

A São Silvestre é a principal prova brasileira. Sem comparações. Para mim, a Tribuna 10 km é a melhor, em todos os quesitos, porém a SS ainda tem um caráter mais nacional. Ainda.

A história fala por ela. Teremos neste ano a 88ª edição consecutiva. Uma das poucas que não parou devido a fatores externos, como o período de Guerra Mundial ou da ditadura militar, por exemplo.

Está no imaginário popular. Diria que 100% das pessoas ligadas a um esporte (e a maioria dos que nem praticam qualquer atividade) conhecem a prova. Pelo Brasil inteiro.

Todo corredor tem de fazê-la. Nem que seja uma única vez. Uma obrigação, sim. Tem 100 maratonas, 200 meias, 500 provas de 10 km, mas não correu uma São Silvestre? Seu currículo não é completo. Você não é “corredor” na crença popular.

Ao longo das décadas, grandes nomes (muitos dos maiores) estiveram aqui. Emil Zatopek, a Locomotiva Humana, está entre eles. Como esquecer Carlos Lopes, Rolando Vera e Martha Tenório? Paul Tergat me disse que tanto na África quanto na Ásia, foi felicitado pela vitória (s) na São Silvestre. Rosa Mota idem. A portuguesa falou que tem um carinho enorme pela prova, pois foi onde tudo começou.

Há, tradicionalmente, público durante todo o percurso.  Apoiando, tirando zarro, brincando, fazendo churrasco, com mangueira, tomando cerveja… mas estão lá… Algo raro.

Brasileiros tiveram dias de heróis nacionais com suas vitórias na São Silvestre. De capas de jornais, de entrevistas longas para a televisão… Para citar alguns: Marilson Gomes dos Santos, Emerson Iser Bem (o único a derrotar Paul Tergat), Frank Caldeira, José João da Silva, Ronaldo da Costa, Lucélia Peres, Marizete de Paula Rezende, Maria Zeferina Baldaia, João da Mata,  Carmem de Oliveira… clique aqui e veja a lista completa dos campeões nas 87 edições.

Com ou sem divulgação, barata ou cara, com ou sem largadas em baias, com kit recheado ou sem graça… a prova tem um público cativo, mais de 15 mil concluintes com certeza. Se não tiver qualquer divulgação, terá muita gente. Sem contar os milhares de pipocas…

Há gente que fica o ano inteiro realmente esperando a São Silvestre. Do Sul, do Nordeste, do Norte… Reveillón sem SS, não exite para eles. Gente que conheci pessoalmente e entrevistei para a Contra-Relógio. Que enfrentam três dias de ônibus para vir e mais três para voltar, de Barbalha-CE, por exemplo.

Por isso, não tenho dúvidas. Qual prova tem a cara do brasileiro? A São Silvestre. Exatamente nesse quesito, acho que os R$ 120 um exagero, ainda mais pelo aumento de 34% em relação aos R$ 90 de 2011. É uma prova que pode conseguir os patrocinadores que quiser. Tem a Rede Globo por trás. Então…. é altamente rentável.

Continua trazendo grandes nomes mundiais? Claro. O etíope Tariku Bekele, o atual campeão, foi somente bronze na Olimpíada de Londres nos 5.000 m. O queniano Martin Lel esteve aqui também.

Agora, uma prova desse tamanho e importância, não tem nem selo ouro, prata ou bronze da Iaaf. Por quê? Principalmente pela premiação. Mas também pelo evento como um tudo. Para mim, perdem uma chance monstruosa.

A prova quer crescer, colocar 25 mil concluintes, depois 30 mil… chegando aos 40 mil. Tem potencial para isso? Tem, mas é obrigatório investir em organização. Largadas por ritmo, com comprovação de tempo, uma melhor dispersão…

Por que não ter seletivas para os amadores o ano todo? Quatro ou cinco provas classificatórias? Com tempos definidos para largar em um pelotão de 3 mil corredores? Sobraria espaço demais para quem quer ir fantasiado, com placas, somente festejar… Assim, atenderia a todos…

Agora, não pode ter somente o caráter festivo. Ele pode (e deve) estar presente, mas antes de tudo, vamos lembrar, é uma c-o-r-r-i-d-a. Assim, tem de ser tratada como tal.

A São Silvestre é a principal prova brasileira. Porém, em termos de corrida, hoje, voto na Tribuna. Por isso a considero a melhor, como citei no começo do texto.

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10 Comments on “Reflexões sobre a São Silvestre

  1. Não parece ser tão complicado fazer a prova para quem quer correr e também para quem quer se divertir. Este ano vou tentar bater meu recorde da prova com ziguezague.

  2. André. Realmente é isso mesmo! Assino embaixo tudo que colocou no texto e imploro por participações internacionais do continente asiático, europeu e corredores das Américas.

    Os organizadores da SS tem que parar de internacionalizar as corridas com os “Quenianos – brasileiros”. A maior prova do Brasil merece respeito e por isso tem que resgatar a obrigação dos corredores de elite correrem com camisetas alusivas ao pais que representam. Isso eu acho que é fundamental para quem assiste e torce… lógico que as largadas por baias terão que acontecer um ano… até lá serei categoria Zebedeu, combinando com a observação do Enio… que foi SENSACIONAL percebendo a oculta categoria Ziguezague, que a cada ano cresce em participação, pois, os competitivos que surgem e querem melhorar o tempo acabam caindo na categoria Ziguezague. E como ficou claro nas 20 últimas edições… os organizadores não estão nem ai. O que mais precisam mesmo é RESPEITAR O CORREDOR… e parece difícil mas não é.. basta abrirem um canal e ler os desejos que eles tem com relação a essa prova.

  3. Muito bom seu texto… falou tudo André!

  4. André e Vicent: concordo com cada palavra. Esqueceram que é uma corrida e querem caracterizar o evento como o começo de uma festa narrada pelo Kleber Machado, Nada contra o Kleber, pelo contrário, gosto e admiro muito, mas o fato é que sem o respeito, planejamento e vontade de ouvir os corredores, nada vai mudar. Acho que já escrevi isso no blog do Sérgio, mas parte dos corredores precisam parar um pouco e entender/lembrar que estamos falando de uma corrida, e não de uma festa. Quer festa? legal, quem não gosta? Mas organize, então, o evento para todos os públicos. Quer festa? Faz como a última corrida do ano da Corpore, que não tem chip de cronometragem. O brasileiro precisa parar com essa mania de jeitinho e querer bater meta de qualquer jeito. Isso não é sustentável. O que é sustentável hoje teve sua estrutura pensada antes de sua realização. Por isso deu certo. E Vicent, suas categorias são sensacionais. Poderia ter, também, a de placas e afins, rs! Abraços.

  5. Até uns anos atrás havia algumas provas seletivas para a SS(podiuns destas provas saiam no pelotão de elite ou B),hoje não sei se ainda existem essas qualificatórias,se existir deve ser apenas provas da Yescom.

  6. Era uma das minhas metas do ano correr a SS, já estava bem desanimado com os MUITOS relatos negativos do ano passado, agora com esse tanto de mudança (horário, percurso, que pode gerar ainda mais contratempos na organização, desisisti…

  7. Seria sensacional ter provas classificatórias para a São Silvestre. Mas neste momento, infelizmente, é sonhar alto demais! Mas se a organizadora da prova visse isto com carinho, seria uma ótima fonte de arrecadação. Imagina fazer 60 dias antes, provas simultâneas nas principais capitais do país, selecionando atletas amadores para a SS. Seria mágico! Abcs!

  8. Discordo em ter que correr. Ditadura acabou. Corre quem gosta. Eu sair para passar um reveillon paulista, em um prova tumultuada, nem pensar. Quando tiver largadas por ritmo, talvez.

    ——————————

    Discordar é saudável demais. Só não entendi o “passar um réveillon paulista”…. e, além disso, com a prova de manhã e a invenção do avião, dá tempo de voltar para casa, rs!

    Abraço
    André

  9. André: Como psicopata em organização, não acho muito prudente viagens no dia 31…Fique só com a afirmação do TEM que correr! kkkk

  10. Comecei a correr por causa do clima de festa que acontece antes e depois da prova: amigos se encontrando, muita gente junta, compartilhando uma coisa em comum. Dá pra sentir isso num show, num jogo de futebol, até numa festa infantil, mas na corrida tem o algo a mais do desafio pessoal. Você é espectador e estrela do espetáculo ao mesmo tempo.
    É por isso tudo, e pela tradição da última corrida do ano, que eu vou pela primeira vez correr a São Silvestre. Mesmo tendo que passar o Reveilón em Jundiaí depois!(rs)

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