Reflexões sobre a São Silvestre

A São Silvestre é a principal prova brasileira. Sem comparações. Para mim, a Tribuna 10 km é a melhor, em todos os quesitos, porém a SS ainda tem um caráter mais nacional. Ainda.

A história fala por ela. Teremos neste ano a 88ª edição consecutiva. Uma das poucas que não parou devido a fatores externos, como o período de Guerra Mundial ou da ditadura militar, por exemplo.

Está no imaginário popular. Diria que 100% das pessoas ligadas a um esporte (e a maioria dos que nem praticam qualquer atividade) conhecem a prova. Pelo Brasil inteiro.

Todo corredor tem de fazê-la. Nem que seja uma única vez. Uma obrigação, sim. Tem 100 maratonas, 200 meias, 500 provas de 10 km, mas não correu uma São Silvestre? Seu currículo não é completo. Você não é “corredor” na crença popular.

Ao longo das décadas, grandes nomes (muitos dos maiores) estiveram aqui. Emil Zatopek, a Locomotiva Humana, está entre eles. Como esquecer Carlos Lopes, Rolando Vera e Martha Tenório? Paul Tergat me disse que tanto na África quanto na Ásia, foi felicitado pela vitória (s) na São Silvestre. Rosa Mota idem. A portuguesa falou que tem um carinho enorme pela prova, pois foi onde tudo começou.

Há, tradicionalmente, público durante todo o percurso.  Apoiando, tirando zarro, brincando, fazendo churrasco, com mangueira, tomando cerveja… mas estão lá… Algo raro.

Brasileiros tiveram dias de heróis nacionais com suas vitórias na São Silvestre. De capas de jornais, de entrevistas longas para a televisão… Para citar alguns: Marilson Gomes dos Santos, Emerson Iser Bem (o único a derrotar Paul Tergat), Frank Caldeira, José João da Silva, Ronaldo da Costa, Lucélia Peres, Marizete de Paula Rezende, Maria Zeferina Baldaia, João da Mata,  Carmem de Oliveira… clique aqui e veja a lista completa dos campeões nas 87 edições.

Com ou sem divulgação, barata ou cara, com ou sem largadas em baias, com kit recheado ou sem graça… a prova tem um público cativo, mais de 15 mil concluintes com certeza. Se não tiver qualquer divulgação, terá muita gente. Sem contar os milhares de pipocas…

Há gente que fica o ano inteiro realmente esperando a São Silvestre. Do Sul, do Nordeste, do Norte… Reveillón sem SS, não exite para eles. Gente que conheci pessoalmente e entrevistei para a Contra-Relógio. Que enfrentam três dias de ônibus para vir e mais três para voltar, de Barbalha-CE, por exemplo.

Por isso, não tenho dúvidas. Qual prova tem a cara do brasileiro? A São Silvestre. Exatamente nesse quesito, acho que os R$ 120 um exagero, ainda mais pelo aumento de 34% em relação aos R$ 90 de 2011. É uma prova que pode conseguir os patrocinadores que quiser. Tem a Rede Globo por trás. Então…. é altamente rentável.

Continua trazendo grandes nomes mundiais? Claro. O etíope Tariku Bekele, o atual campeão, foi somente bronze na Olimpíada de Londres nos 5.000 m. O queniano Martin Lel esteve aqui também.

Agora, uma prova desse tamanho e importância, não tem nem selo ouro, prata ou bronze da Iaaf. Por quê? Principalmente pela premiação. Mas também pelo evento como um tudo. Para mim, perdem uma chance monstruosa.

A prova quer crescer, colocar 25 mil concluintes, depois 30 mil… chegando aos 40 mil. Tem potencial para isso? Tem, mas é obrigatório investir em organização. Largadas por ritmo, com comprovação de tempo, uma melhor dispersão…

Por que não ter seletivas para os amadores o ano todo? Quatro ou cinco provas classificatórias? Com tempos definidos para largar em um pelotão de 3 mil corredores? Sobraria espaço demais para quem quer ir fantasiado, com placas, somente festejar… Assim, atenderia a todos…

Agora, não pode ter somente o caráter festivo. Ele pode (e deve) estar presente, mas antes de tudo, vamos lembrar, é uma c-o-r-r-i-d-a. Assim, tem de ser tratada como tal.

A São Silvestre é a principal prova brasileira. Porém, em termos de corrida, hoje, voto na Tribuna. Por isso a considero a melhor, como citei no começo do texto.

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

É GRATUITO, RECEBA NOVIDADES DIRETAMENTE NO SEU E-MAIL.