Maraturismo Redação 26 de outubro de 2010 (0) (265)

Quito, uma maratona na metade do mundo!

 

Depois de fazer em 2009 o Desafio das 6 Maratonas Brasileiras, proposto pelo assinante Maurício Bertuzzi, pensamos em o que fazer para tornar 2010 tão ou mais interessante em termos de maratonas. Daí surgiu a idéia de fazer uma maratona em cada país sul-americano. Só não achamos maratona ou meia-maratona na Bolívia e Guiana, considerando que a Guiana Francesa não é país da América do Sul, mas território francês por estas bandas.

Em 11 de abril corremos a Maratona de Santiago do Chile, mantendo a decisão de ir mesmo após o terremoto, o que se revelou acertado porque a festa e a emoção foram excepcionais. Em 2 de maio a de Lima, no Peru, maratona que foi objeto de grande matéria na edição de junho da revista.

Em 11 de julho enfrentamos a Maratona de Quito, prova cercada de apreensões de nossa parte por não conhecer os efeitos da altitude em nosso corpo durante uma prova tão desgastante. Mas o desafio havia sido lançado e não poderíamos esmorecer.

A prova foi marcada para o mesmo dia da final da Copa do Mundo. Embora já tivéssemos passagens compradas, decidimos que se a final fosse Brasil e Argentina iríamos arcar com a multa e alterar a data da prova do Equador em nosso projeto correndo a Maratona de Guayaquil, em 3 de outubro. Não houve necessidade de alterar o projeto. Assim, em 9 de julho seguimos para Quito. via São Paulo e Lima.

Foi a 4ª edição da Maratona de Quito, prova muito bem organizada que possui os selos da IAAF e AIMS e tem tudo para continuar crescendo. A inscrição foi feita com muita facilidade através de email para pagamento na véspera da prova, dia da entrega da camisa, número e chip. Recebemos orientação da organização para reserva de excelente hotel e solicitamos também lugares no jantar de massas.

Chegamos sábado e resolvemos tudo com extrema facilidade e muita gentileza dos organizadores, que demonstraram satisfação com a presença dos corredores estrangeiros. A Feira da Maratona é praticamente inexistente, apenas com o estande de uma revista de corrida bimestral, que está em sua 3ª edição,"Corriendo em la mitad del mundo", uma empresa de palmilhas que executava o teste da pisada e uma seguradora que dava brindes e mostrava seus produtos.

Embora tenhamos chegado a Quito com sol amedrontador, nos causando preocupação, no mesmo dia a chuva desabou, inclusive com granizo, impedindo que iniciássemos os passeios. Na ocasião nos informaram que Quito era assim, possuía as 4 estações num só dia. Participamos do jantar de massas, pequeno mas absolutamente eficiente, com três espécies diferentes de massa e refrigerantes à disposição. Não demoramos muito porque a prova largaria às 5h30, de forma a se evitar por mais tempo os efeitos do sol.

 

LARGADA ÀS 5H30. A largada é em praça (San Francisco) do centro histórico mais conservado da América espanhola, ressaltando que Quito foi a primeira cidade a ser declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Com um festival de fogos de artifícios muito bonito a largada é dada ainda no escuro.  Temos água e Gatorade à disposição na largada.

Preparamo-nos para fazer a prova com prudência e cuidado, respeitando as possíveis dificuldades pelas desconhecidas condições enfrentadas. Os receios em relação aos efeitos da altitude e a previsão de correr a Maratona do Rio de Janeiro no domingo seguinte nos fizeram adotar a estratégia de encarar a prova como um treino longo. Os efeitos foram diversos em nós dois.

Eu, Miguel Delgado, consegui realizar exatamente o que me propus terminando em 4h51. Mantive-se absolutamente hidratado e alimentado e não senti os efeitos da altitude, o que poderia ocorrer se tivesse forçado para um tempo melhor. Wuneni Arantes, sempre o mais rápido da dupla, sentiu logo no começo as condições especiais da prova e terminou com muita dificuldade em 5h08, considerando-a a mais difícil de suas 18 maratonas. O abastecimento da prova foi perfeito, com água, Gatorade e frutas. Havia também um posto com esponja.

O percurso é leve, sem subidas fortes e com uma boa descida que descansa. Mas o estilo em circuito trouxe novidade adicional para nós. São 6 km da largada até o Parque La Carolina e depois quatro voltas de 9 km. Com isso cruza-se a linha de chegada 4 vezes o que obriga o atleta mais lento a ser muito forte psicologicamente. Embora não seja nosso preferido, consideramos apenas um outro estilo de percurso, montado provavelmente pela dificuldade de fechar o trânsito por toda cidade e ainda conseguir apoio para manter os postos de abastecimento.

Na chegada é feita uma festa muito grande para cada corredor que cruza a linha e tivemos a grata surpresa de receber, além da imponente medalha, uma sacolinha com brindes da prova. Não há lanche no final, mas o parque é repleto de barracas com produtos à venda. A prova foi vencida pelos quenianos Festus Kioko e Carolina Chemwolo, que residem no México. Sentimos grande preocupação da prova em crescer de forma substanciosa, então é possível que no futuro o percurso seja um grande passeio por Quito que tem muito a mostrar.

Nós brasileiros, como colonizados obedientes, temos mania de olhar e privilegiar a Europa e os EUA, quando por aqui na América do Sul tudo é muito bonito, interessante, mais parecido conosco e também bem mais em conta. Quito é uma cidade muito bonita onde o novo e o antigo convivem muito bem, ambos bem cuidados.

Em Quito, cidade fundada em 1534, e sua região, habitada muito antes disso, é possível passear por vulcões, tomar uma cerveja ou um refrigerante a 4.100 metros de altitude, visitar a arquitetura da colonização espanhola, perceber a opulência da Companhia de Jesus, aprender sobre a rotação da terra, pisar a um só momento nos dois hemisférios do planeta, na exata metade do mundo, ter contato com um povo simpático e gentil e ainda correr 42 km.

Vale a pena colocar a Maratona de Quito no calendário. No melhor estilo das melhores do mundo, já está no site da prova (www.maratondequito.com) a data em 2011: 10 de julho.

Miguel Delgado e Wuneni Arantes são assinantes de Belo Horizonte

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