Tomaz Lourenço – janeiro 2007
A Comrades Marathon é a mais famosa ultramaratona do mundo e com razão. Enquanto a maioria das provas de longa distância reúne algumas centenas de participantes, quando não dezenas, na Comrades são mais de 13 mil corredores, enfrentando um percurso que este ano, dia 17 de junho, será de 89 km, em sua 82ª edição.
Nos anos ímpares a Comrade é “em descida”, saindo de Pietermaritzburg (650 m de altitude) e chegando em Durban, ao nível do mar. Mas isso é só forma de expressão, porque o percurso é cheio de subidas e descidas, e o declive no terço final nem dá para notar. Nos anos pares a distância é encurtada para 87 km, no sentido inverso.
Em qualquer situação o que se vê é uma prova festiva, com milhares de espectadores pela estrada, uma perfeita e gigantesca estrutura de apoio aos participantes, mas também um rigor técnico, para deixar claro que não se trata de uma ultra para fazer caminhando, como acontece com várias pelo mundo.
Em primeiro lugar, é necessário ter corrido uma maratona oficial no ano que antecede a Comrades, para poder se inscrever. Depois, na prova, os participantes têm tempos-limite para passar em determinados pontos do percurso, caso contrário são desclassificados. Essa postura visa impedir que corredores se “arrastem” pela parte final da ultramaratona, sem conseguir termin ar. Além disso, a Comrades tem que ser completada até o relógio marcar 11:59:59. Se a pessoa chegar com 12 horas ou mais não recebe a tão sonhada medalha de participação, que são de 5 tipos, a depender do tempo que se completa.
A Contra-Relógio já publicou inúmeras matérias sobre a Comrades, através de relatos de assinantes, sempre presentes em pequeno grupo na África do Sul. O editor Tomaz Lourenço, que já tem 24 maratonas nas costas (além de duas de 50 km), sempre sonhou em um dia enfrentar esse desafio, e agora tomou coragem, para comemorar seus 60 anos neste começo de ano.
Na verdade, a idéia surgiu no aeroporto de Curitiba, depois da maratona, quando o editor, ao conversar com a assinante Maria Eugênia Sahagoff, soube que ela iria fazer a Comrades para comemorar seus 60 anos. Logo em seguida, o editor encontrou outro corredor que, coincidentemente, lhe perguntou sobre… a Comrades. Se não bastasse, ao se despedir do assinante uruguaio Gustavo Taran, este lhe falou que pensava um dia correr… a Comrades. Era muita coincidência! E assim veio a decisão naquele dia 26 de novembro.
A revista está montando um grupo informal para os que tiverem interesse em correr a Comrades dia 17 de junho, de forma a facilitar e até tornar a viagem mais econômica. Para tanto, contatamos a Método Turismo, que montou um pacote especial para os leitores da CR, apresentado no destaque.
Quanto à preparação para a Comrades, que se recomenda começar já neste mês, ou no máximo em fevereiro, teremos como referência o treinador “Branca”, que já fez a prova (em 1999, no tempo de 7h53) e que todo ano orienta vários corredores para essa ultramaratona. Ele estará fazendo a primeira reunião com os interessados em janeiro. Os leitores animados com o desafio poderão entrar em contato com o técnico Branca, através do celular (11) 9204.1529, no www.brancaesportes.com.br ou pelo e-mail contato@brancaesportes.com.br
Por outro lado, vale lembrar que o site da prova (www.comrades.com) é muito informativo, inclusive oferecendo planilhas mensais de treinamento, de acordo com o nível de condicionamento do corredor.
No site da prova há uma relação entre os tempos obtidos em uma maratona e os possíveis resultados que a pessoa conseguirá na Comrades. É com base nessa tabela que a organização define o número de inscrição e conseqüentemente o bolsão que o corredor deverá se posicionar na largada.
A 3H00 7H30
B 3H20 8H15
C 3H40 9H00
D 4H00 9H45
E Especial/convidados
F 4H20 10H30
G 4H40 11H15
H 5H00 12H00
A distância é longa, o percurso não é nada plano, mas mesmo assim quase todos terminam dentro do tempo-limite de 11:59:59. E não estamos falando de pouca gente, não; são 13 mil inscritos, com apenas 15 a 20% abandonando pelo caminho ou sendo desclassificados, ao chegarem depois do tempo de corte, em pontos do percurso.
A situação de insegurança de conseguir ou não completar a Comrades era mesmo forte até alguns anos atrás, quando o tempo-limite era de 10:59:59, mas com a 1 hora a mais agora ficou menos dramático. A largada em Pietermaritzburg é às 5h30, ainda no escuro e um pouco de frio (5 a 10ºC), e depois a tendência é ir aumentando a temperatura, para 20 a 25ºC em Durban.
Em 1921 um grupo de 34 amigos decidiu sair de Pietermartzburg e ir correndo até Durban, para comemorar a amizade deles durante a Primeira Guerra (Comrades quer dizer camaradas, amigos). O fato virou notícia e virou corrida anual, invertendo-se o percurso a cada ano. A prova só não aconteceu nos anos da Segunda Guerra Mundial.
Maria Auxiliadora Venâncio correu duas vezes a Comrades, nas duas chegando ao pódio. Em 1999 ela foi a 4ª colocada geral, no tempo de 6:40:18; em 2001 Venâncio marcou 6:39:03, conseguindo a 5ª posição.
Nosso mais famoso ultramaratonista, Valmir Nunes, também participou da Comrades por duas vezes, mas acabou desistindo no percurso.
O primeiro brasileiro a completar a prova foi Márcio Milan, em 1997, e repetiu a dose em 1999, 2000 e 2001.
Segundo quem já correu a Comrades, a organização é simplesmente impecável, daí talvez a enorme procura por essa ultramaratona, ao contrário das demais provas em distância semelhante, que atraem algumas centenas de corredores. Também colabora para a expressiva participação a enorme e animada platéia que se posta pela estrada, estimulando a todos, fato só visto nas maratonas mais badaladas.
E o abastecimento no percurso reflete esse rigor técnico e ao mesmo tempo o carinho para com os participantes. São 50 postos no trajeto, um a cada menos de 2 km, com água, isotônicos, frutas frescas e secas, batata cozida, coca-cola, barras de cereais etc. Ou seja, o corredor não precisa levar nada para se hidratar e se alimentar adequadamente.