A melhor meia após os 50 – Renato Luiz, 59 anos, corre há 38, sendo 12 deles em nível de alto rendimento. Maratonista, viveu o auge dos 42 km em 1988, quando fechou a prova do Rio em 2h34, seu melhor tempo. A maratona de Nova York em 2009 encerrou essa fase e, desde então, prefere dedicar-se às meias, já que se manter competitivo após os 50 anos é, segundo ele, uma tarefa difícil.
Em 2014, Renato correu a Golden Four Asics em Brasília e teve uma péssima surpresa: foi o último entre seus amigos na categoria. Frustrado, resolveu que no ano seguinte daria a volta por cima e prometeu vencer a qualquer custo. Aos 58 anos, iniciou a preparação que continha dois treinos secretos por semana, feitos das 11h às 13h, no Parque da Cidade, de forma a não encontrar com os amigos. "Queria surpreendê-los na prova, em novembro", confessa. Como preparação, correu a versão paulista da Asics em julho, com o tempo de 1h34.
Renato fez a prova de Brasília muito concentrado em atingir seu desafio pessoal e fechou a meia em 1h28. Estava cumprida a promessa. "Cheguei em primeiro lugar entre os amigos corredores. A conta desse feito, infelizmente, veio em 2016, que passei longe das provas, me curando de uma lesão. Mas vencer aquele desafio era minha prioridade e consegui cumpri-lo", avalia. Segundo Renato, a chave para um corredor mais velho permanecer competitivo é treino correto, alimentação e sono adequados, musculação e massagem (duas vezes por semana se estiver treinando para uma prova importante).
Vencendo a asma e a depressão – A professora Ana Elisa Rosa Machado, 51 anos, estava há mais de sete anos sem fazer atividade física, com depressão e graves problemas respiratórios provenientes da asma. Em setembro de 2013, ela decidiu procurar uma assessoria de corrida, justamente para tentar melhorar a capacidade cardiorrespiratória comprometida. "Sou asmática desde sempre e quando cheguei em Brasília as crises respiratórias pioraram muito devido ao clima. Minha vida tinha muitas idas aos hospitais para buscar socorro. Já tentei vários tipos de tratamento – floral, homeopático, vacinas -, nada me fazia melhorar", relata.
Mesmo correndo, Ana Elisa sofria com as crises. Em novembro de 2015, ela treinava para a sua segunda São Silvestre quando entrou em crise em pleno Parque da Cidade. "Mal consegui andar até o estacionamento. Fui direto para o hospital. Foi quando conheci uma pneumologista que, assustada com o quadro, me sugeriu um tratamento com medicação de uso continuo. Corri a São Silvestre sob cuidados. Nunca parei o treinamento, mesmo sentindo dores e falta de ar", relembra.
Após sete meses de tratamento, Ana Elisa decidiu que era chegada a hora de partir para uma meia-maratona. O desafio exigiu, além de treinamento duro e orientação nutricional, ajustes na medicação para a asma. Felizmente, deu tudo certo. "Consegui correr minha primeira meia sem sentir nada que me lembrasse que sou asmática", garante. Ela segue agora em direção a novas metas na corrida, com a segurança de que o esporte, aliado à medicação correta, lhe trouxe nova qualidade de vida.
Planejamento para a maratona – Régis Andrino, 46 anos, há uma década se dedica apenas a maratonas. Já fez 13 provas de 42 km, sempre com os ingredientes que considera a base para o sucesso: planejamento detalhado e consciente do treino, disciplina para correr em qualquer clima e situação, e determinação para ir fundo no compromisso. Estudioso e detalhista, Régis compara a preparação para a maratona a uma prova de concurso público: você só obtém sucesso se dedicar-se todos os dias de forma incansável e obstinada.
Em 2009, Régis se propôs a fazer sua quarta maratona em Nova York com o tempo de 2h52. E começou a realizar o treino que o levou a conquistar a meta com 5 segundos a menos: 2:51:55, mesmo saindo de uma tendinite no músculo isquiotibial.
"Meu ciclo de treinamento tinha 24 semanas, dividido em quatro etapas e treinando seis vezes por semana. A primeira etapa era a de base, na qual privilegiei o volume, sem me preocupar com a velocidade. Fiz de 60 a 70 km por semana. Na segunda, mantive a rodagem e acrescentei treinos de velocidade e ritmo de prova. O corpo precisa ser resistente, ter velocidade e endurance, que é correr longa distância em ritmo de competição. É preciso adaptar o organismo para aumentar a distância em ritmo forte.
Na terceira etapa, iniciei treinos específicos para a prova-alvo, com um intervalado por semana e dois treinos de ritmo de competição. Ao final dessa fase, cheguei a 100% da quilometragem (entre 120 e 130 km/semana). A quarta etapa foi a redução gradual do treino até 50% do volume alcançado, com o objetivo da recuperação física", explica.
Régis cumpriu fielmente o treino e completou a prova exatamente no tempo que planejara. "Acertei na mosca. Fiz uma prova muito regular. O segredo é saber dosar a energia."
Superação com um belo visual – Fernando de Noronha é seguramente um dos lugares mais lindos do planeta. Suas praias são famosas pela beleza dentro e fora da água, e foi nesse cenário paradisíaco que duas corredoras resolveram unir o sonho de completar uma meia-maratona. Rose Medeiros Rocha e Arabeli Tomasi são corredoras há apenas três anos e sabem que o desafio dos 21 km é uma meta de superação dos limites físicos e psicológicos.
A 21K Noronha, realizada em novembro, é considerada de percurso difícil, com muitas subidas, descidas, trechos em trilhas, pedras e areia fofa, que obriga os participantes a fazer grande parte do percurso caminhando. Ao concluírem em pouco mais de 3 horas, Rose e Arabeli, são unânimes: o sentimento de satisfação, superação e prazer da conquista, apesar das dores e do cansaço incomum, serão eternos.
"Tenho uma sensação de empoderamento, a consciência da força física e psicológica. Foram 21 quilômetros de adrenalina e euforia num lugar paradisíaco. A cada mirante e a cada praia, uma visão sensacional e uma sensação única", descreve Rose. Arabeli sublinha: "A sensação de conseguir alcançar o objetivo? Difícil até de descrever, me emociono só de lembrar o quanto essa meia-maratona foi especial. Com toda certeza, foi até agora a melhor prova e a melhor viagem da minha vida!".
Um ano de pódio nos 10 km – Aos 58 anos, Giovane Silveira Caixeta tem quatro décadas de corrida. Começou em pista, nas provas de 800 e 1.500 m, nos idos de 1976 a 1981. Em 1988, foi para a maratona do Rio bem treinado e com a meta de fechar em 2h28. Porém, uma indisposição durante a prova o fez abandonar a competição. A frustração foi tanta que ele decidiu dar um tempo nos 42 km e focar apenas nas provas de 10 km. Sua meta, em 1989, foi se tornar campeão da distância em Brasília. Das 13 provas que correu naquele ano, foi pódio geral em 9 delas. Como seus únicos adversários, na época, eram soldados e bombeiros, seu apelido ficou sendo Paisano. Ele conta como foi seu treinamento para ter o melhor ano de sua vida na distância.
"Sou muito competitivo e naquela época a gente corria para vencer. Como vinha treinando apenas para maratonas, tinha que aumentar a intensidade dos treinos. Comecei a treinar de manhã e à tarde. Eram 13 sessões de treino por semana, de segunda a sábado. Domingo era descanso, mas meu corpo ficava agoniado, então eu corria 16 km em ritmo leve", recorda Giovane. Nessa fase, chegava a rodar entre 120 e 130 km/semana.
Para se tornar mais rápido, o corredor fazia três sessões de pista, com tiros de 200 m em 28 segundos. "O atleta de rua faz tiros mais longos, de mil metros. Mas com minha experiência em pista, fazia treino de tiro em escada: começava em 800 m, reduzia para 600, 400 e 200. Repetia tudo isso duas vezes. Era muito intenso. Saía vendo estrelas", relembra.
Apesar dos nove pódios, Giovane tinha uma meta secreta: correr os 10 km abaixo dos 30 minutos. Nunca conseguiu o feito. Seu melhor tempo foi 30m39. Porém, 1989 ficou na memória dos corredores do DF como o ano do Paisano.