Para começar esse texto, vamos deixar claro que não trata-se da corrida como qualidade de vida ou saúde. Fatores também primordiais e que levam centenas de milhares de pessoas a calçar um tênis (ou não) e sair trotando e correndo por aí. Mas, dessa vez, fala de resultado, de desafiar você mesmo, de buscar melhores marcas pessoais.
Na maratona, é praticamente uma certeza que longas quilometragens semanais resultam em menos tempo nas provas. Rodar 120, 140 km de segunda a domingo está comprovado que (salvo raras exceções) garante bons desempenhos nos 42 km (que refletem ainda nas distâncias menores). Mas e o oposto? Correndo menos, mas com mais intensidade? Como dizem no “dicionário do corredor”, com a “faca nos dentes” todo dia de treino? Sem falar que para nós, amadores, como achar tempo para essas longas quilometragens? Hoje em dia, não consigo mesmo!
Por confiar no trabalho do amigo e técnico Marcelo Camargo, de Belo Horizonte, começamos a parceria um pouco antes de Boston. Para valer, foi a partir de maio que o trabalho teve início, visando à Maratona de Nova York. Basicamente, foram quatro treinos semanais – dois de tiros (um intensivo e um extensivo), um contínuo de ritmo e um longão. Em algumas vezes, cinco dias, mas raramente. Com uma prova mensal. Algumas para ritmo, a maioria para recorde pessoal. Sem falar nos “tempo run”.
Dessa forma, baixei as marcas nos 21 km (1:23:19) e nos 10 km (38:56), por exemplo. Não bati o recorde pessoal, mas fiz 18:57 nos 5 km (no último sábado, em Nova York, na véspera da maratona, mas essa é uma história para o final).
Eu sempre falava para quem me questionava sobre a eficácia do treino: “É cansativo e estou baixando todas as minhas marcas, fazendo treinos de velocidade que nunca imaginei atingir. Porém, a resposta sobre a maratona, só poderei dar depois de corrê-la”. Por uma questão de vivência, não podia cravar que rodar no máximo 70 km por semana (e isso na semana do longão de 36 km) seria suficiente. Mas confiei plenamente no Marcelo, me dediquei ao máximo e foi o que fiz para Nova York. Não tinha calor, frio, vento, cansaço dos trabalhos, obrigações familiares que impedissem de treinar. Fui a hora que dava. Muitas vezes, 11h com um sol daqueles. Outros, com frio e chuva.
Como os treinos eram intensos (e continuarão sendo no próximo ciclo, para a Disney, que começa na segunda-feira), o descanso também foi primordial. Fiz várias paradas após provas ou semanas fortes. Para recuperar mesmo o corpo. Na média, não rodei mais do que 50-60 km semanais. E, claro, como é determinante para qualquer parceria, o Marcelo foi respeitando minhas individualidades. Por exemplo, que o polimento tradicional não funciona para mim. Tenho de manter a “pegada”. Baixamos para 35 km a quilometragem há duas semanas da maratona, mas mantendo a intensidade, tanto no tiro quanto no longão. E na semana da prova, idem. Fiz 10x400m na terça e corri quinta, sexta e sábado (os 18h57 nos 5 km) em Nova York. Funciono assim. E tenho de correr na véspera dos 42 km!
Dessa forma, cheguei descansado, mas forte psicologicamente por ter mantido os treinos em Nova York. E, no dia da prova, deu tudo certo, com ritmo praticamente constante a cada 5 km (como o planejado com o Marcelo, de correr igual do início ao fim), fechando com o recorde pessoal de 2:57:31 em uma prova que muitos diziam não ser para tempo devido às dificuldades do percurso (reforçadas pelo vento contra e frio intenso de domingo).
Aliado a tudo isso, no mês de outubro, comecei também um trabalho de alongamento, exercícios funcionais e pilates duas vezes por semana, além da alimentação cortando bastante carboidratos e glúten. Mas isso será o tema da coluna de sexta-feira! Resumindo a parte do treinamento: treinar sempre em ritmo forte desgasta, aumenta a possibilidade de lesões, minimizado com o descanso correto, mas dá muito resultado.
FOTOS: Fernanda Paradizo/Asics