POR ANDRÉ SAVAZONI | SETEMBRO 2013
Para treinadores, nutricionistas e corredores ouvidos pela CR, gel de carboidrato e isotônico são suficientes para uma boa prova de 21 km ou 42 km. Nos 10 km, só água. E olhe lá!
A pergunta era simples: “O que você recomenda para ingerir ou levar em provas. Nos 10 km, em uma meia e em uma maratona?”. Questionamos isso para corredores e profissionais envolvidos com o esporte, como treinadores e nutricionistas. Gel em carboidrato e isotônicos foram citados pela maioria. As quantidades, porém, variam individualmente. Há quem tome mais, outros menos, mas na média, são sempre indicados. Isso nos 21 km ou 42 km. Para os 10 km, a resposta básica foi: água basta! Já comprimidos para tirar a dor durante uma competição, apesar de sabermos que há quem recorra a eles, não foram citados por ninguém. E até desestimulados a usar.
“Para a suplementação durante as provas e treinos oriento a utilização do gel de carboidrato para distâncias acima de 10 km e hidratação com isotônicos durante o percurso. Em provas de 21 km e 42 km, além das orientações anteriores, dou bastante atenção para as condutas do ‘pós prova’, salientando a importância de se associar uma bebida de carboidrato com proteína na proporção de 4/1 respectivamente. A janela principal de absorção desses nutrientes dura em média 30 minutos depois do exercício, ou seja, temos de ser prudentes e não deixar para mais tarde a ingestão de suplementos”, afirma o treinador Diego Leite de Barros, de São Paulo.
Segundo Diego, uma recomendação fundamental é que o gel deve ser sempre tomado com água, já que a absorção no organismo depende disso. Essa orientação parece algo que todos sabem, mas há quem acabe misturando com isotônico, por exemplo. “Atualmente a cafeína é bem utilizada em provas mais curtas e vem se tornando uma boa opção. A alimentação no dia anterior à prova também é importante. Evitar alimentos de difícil digestão e não deixar o carboidrato de lado é uma estratégia recomendada”, completa o treinador.
ATENÇÃO DEPOIS. A nutricionista Ana Beatriz Barrella, da RG Nutri, de São Paulo, diz que, independentemente da distância da prova, o corredor deve aderir a uma alimentação saudável, variada e equilibrada durante todo o período de treinamento, que lhe proporcione a energia e nutrientes necessários para o melhor desempenho e recuperação. “As recomendações de carboidratos, proteínas e lipídeos são individuais, variando de acordo com o tempo e intensidade do treino, sexo e idade”, diz.
“Durante uma prova, os mesmos objetivos principais: evitar que os estoques de carboidratos se esgotem e manter a glicemia. Em treinos ou provas de duração menor que uma hora, os estoques de carboidratos nos músculos (glicogênio muscular) não serão totalmente utilizados, sendo a alimentação pré-exercício suficiente. Porém, em atividades de tempo superior a uma hora, é necessária a reposição de carboidratos, o que pode ser feito por meio de suplementos, como bebidas esportivas, maltodextrina diluída em água ou géis de carboidrato”, explica Ana Beatriz.
A nutricionista lembra que a alimentação pós-competição ou treinamento é de extrema importância para os corredores, por ser o momento de recuperação. “Nas primeiras horas após a prova, é necessário repor a energia gasta durante a atividade, por meio de alimentos ricos em carboidratos, e ajudar na recuperação muscular com fontes de proteínas. Dessa forma, boas opções são sanduíche de pão com queijo branco e peito de peru, iogurte com cereais e frutas, ou macarrão com filé de peixe, carne ou frango grelhado, nas quantidades adequadas para cada pessoa.”
CHOCOLATE. Ezequiel Rodrigues Júnior, de Santos, estreou nos 42 km no Rio de Janeiro, em 2010. “Não deu para tomar café da manhã, mas levei um pacotinho de castanha e duas barras de chocolate para comer durante a maratona. Deu certo. Além disso, água e isotônico. Consegui terminar
em 3h55, sem caminhar”, conta. “Em Buenos Aires acabou acontecendo a mesma coisa, mas quase me dei mal. Comi o chocolate na hora errada e fiquei com muita sede, mas consegui ser sub 3h45.”
A estratégia de Junior é sempre parecida. O chocolate está presente, nada de gel durante e sempre pizza na véspera. “Não importa o sabor, tem de ser pizza e Coca-Cola. “A sexta maratona foi agora em julho, no Rio de Janeiro, e também não tomei café, apenas comi um pão amanhecido e fomos para a prova. No ônibus, comemos pão com queijo branco e algumas bolachas recheadas de chocolate que levei para a largada.”
O que também se tornou tradicional hoje é que as grandes assessorias aguardam os seus alunos no km 35 da maratona, com batatas cozidas com sal e/ou Coca-Cola. Isso pode ser visto tanto em provas no Brasil quanto no exterior. Quanto ao uso de medicamentos para aliviar a dor durante a corrida, todos os treinadores ouvidos pela Contra-Relógio mostraram-se contrários. Rapadura, purê de batata e caldo de cana são outros produtos bem consumidos Brasil afora. Há treinadores, porém, que preferem nem criar um “mecanismo de alimentação” durante a competição, deixando isso a cargo dos nutricionistas ou até médicos.
INFORMAÇÃO CERTA. “Sou muito cuidadoso quando entramos em um assunto tão delicado como esse. Cada organismo é único, necessita e responde diferentemente sobre cada tipo de suplementação. É óbvio que eu me conheço e sei exatamente o que preciso para render mais, tanto em treinos como em provas, mas seria total irresponsabilidade ficar colocando em risco outros atletas sobre uma área que não tenho domínio”, diz Cleimar Rodrigo Tomazelli, diretor técnico da equipe Cia. dos Cavalos, do Rio Grande do Sul.
“Essa área quem domina são os endocrinologistas e nutricionistas
esportivos. Cabe a eles, que têm habilitação e conhecimento científico, opinar e direcionar cada atleta sobre as reais necessidades de seu corpo. Pois o que serve para mim, pode prejudicar outro corredor, que aparentemente tem o mesmo nível de preparação e porte físico parecido. Os profissionais habilitados requisitarão exames para ver o que está faltando de nutrientes no atleta, para assim indicar um suplemento eficiente e sem riscos para a saúde.”
Tomazelli costuma dizer que nenhum suplemento é melhor do que o arroz com feijão, ou seja, a comida. “Já soube de vários casos em que atletas deixavam de tomar café da manhã e até jantar para ficar tomando suplementos, e acabaram tendo graves
complicações renais e hepáticas. Por isso, sempre digo aos meus alunos: alimente-se corretamente, que assim você precisará gastar menos com suplementos. Em uma meia-maratona, recomendo água e isotônico, pois em exercícios com mais de uma hora de duração, o corpo necessita de reposição de água e eletrólitos (magnésio, potássio, sódio…). Já em uma maratona, é aconselhável acrescentar carboidratos em gel a cada 30 minutos e sal (a cada 1h30 ou 2h de corrida)”, completa o treinador.
APENAS GEL. O corredor Claiton Lenz, de Lajeado, RS, toma apenas gel durante as provas. “Tenho acompanhamento de nutricionista e converso com ela sobre isso. Uso a cada 10 km em média. E também cápsulas de sal, mas por conta própria, nos longos acima de 28 km e na maratona”, conta. “Não tomo isotônico nas provas, só água. Medicamentos nunca usei; no máximo BCAA antes dos treinos e corridas. E hipercalórico depois, para repor os nutrientes”, completa.
O assinante André da Silva Mendes, de Brasília, sempre teve um problema nas provas mais longas: sente muita fome. Também não toma suplementos e busca alimentar-se de forma correta. Mas chegavam os longões e as maratonas, e o estômago roncava. Um dia, assistindo à palestra de um nutricionista antes de uma corrida na capital federal, ouviu dele que, para quem busca performance e baixar os tempos pessoais, seria necessário tomar gel de carboidrato a cada 20 minutos nas competições. Resolveu, então, fazer o teste. Primeiro, na Maratona de Curitiba, de 2012; depois, em Brasília e Rio de Janeiro, ambas neste ano. Nas três, melhorou o recorde pessoal. “Não sei se foi isso ou se porque estou melhor treinado. Mas não senti fome nem fraqueza no final. Saio com sete géis e tomo a cada 5 a 6 km”, explica André, que fechou os 42 km cariocas em 3h15, sua melhor marca até agora.