Sem categoria admin 1 de março de 2018 (0) (151)

Preparação que funcionou

Você define uma prova como alvo do semestre ou ano. Muitas vezes, faz mudanças na alimentação, em sua rotina diária, começa os treinamentos semanais (com ou sem treinador, com ou sem planilha individualizada), passa a incluir (ou aumentar) o fortalecimento muscular, planeja a viagem, vai em busca do desconhecido (no caso de estreantes na maratona, principalmente na questão do volume e dos "longões"… São inúmeras variáveis envolvidas nessa preparação. Mostrá-las, para servir como referência a outros corredores, é o objetivo desta seção.
A participação dos leitores e assinantes será total. Eles é que irão contar a história de treinamento que terminou com o resultado positivo em uma corrida. Para começar, nada melhor do que contar com a participação de Laurindo Nunes Neto, líder do Ranking Brasileiro de Maratonistas da CR em 2017. Quer participar? Mande seu relato para o e-mail andre@novosite.contrarelogio.com.br.

Melhor tempo do ano na SP City Marathon
"A ideia de correr uma maratona foi amadurecendo após o Circuito Caixa de Corridas de Rua em 2014. Naquele momento, conversei com o meu treinador, Donizete Horbach (que me acompanha desde o início, há 9 anos), sobre o tema e, juntos, pensamos em fazer a estreia no ano de 2016. Porém, com decorrer do tempo, não me senti bem para encarar o treinamento necessário para os 42 km. Assim, mudamos o plano para 2017.
No início do ano passado, fiz uma base muito boa, o que me deu condições de ser bem competitivo em algumas provas. Cheguei inclusive a correr 7 km ao lado de Giovanni dos Santos na Meia-Maratona internacional de São Paulo. Isso me deu muita confiança. Dali para frente, comecei a amadurecer realmente a ideia da maratona. Faltava definir o local.
Certo dia, em conversa rápida com o treinador, lancei a ideia: ‘O que acha de eu correr a SP City Marathon no dia 31 de julho?' O Donizete rapidamente concordou e passamos a estudar essa maratona. Fomos alimentando a ideia dos 42 km e adaptando o treinamento.
Como para muita gente, aumentar o volume foi a parte mais difícil. Via muitos treinadores e atletas de elite dizendo que faziam de 180 a 200 km por semana. Para um atleta que percorria de 90 a 120 km, era uma mudança muito brusca. Um dos motivos de ter escolhido estrear na SP City foi o período de férias do meio do ano na Faculdade de Administração e no estágio, pensando na minha adaptação aos treinos e ao descanso para o volume mais alto que estava por vir.
Assim, enviei o pedido de inscrição e os resultados pessoais nos 10 km e nas meias-maratonas para a organização da SP City com o intuito de largar na elite. Segui então fazendo os treinos e adaptando a quilometragem tanto nas rodagens quanto nos intervalados. Recebi a confirmação para largar na elite faltando 40 dias para a prova. A partir desse momento, com a vaga garantida, o treinador intensificou a preparação, aliando volume e intensidade.
Pela primeira vez, fiz duas repetições de 3 km e duas repetições de 1 km. Foi um treino que me marcou, pois estava com um acúmulo alto e, mesmo assim consegui realizá-lo bem. Então, meu treinador passou a dizer, sem me colocar muita pressão, que eu iria correr a maratona abaixo de 2h24. Essa primeira semana fechei com 137 km, incluindo treinos de rodagem leves de 12 km e de 25 repetições de 400 metros. A segunda, ficamos no mesmo, com 136 km. Um treino que marcou muito foi um intervalado de 1 km com dez repetições, ou seja, 10 x 1 km.
Na sequência, baixamos para 120 km em uma semana de recuperação e, então, retomamos o aumento no volume, sempre aliando com a intensidade. Chegamos aos 144 km, com um treino longo de 30 km progressivo que fechei em 1h52. O pico semanal foi de 158 km, incluindo um intervalado de 2 km (o meu preferido), com quatro repetições (4 x 2 km) e intervalo curto. Na semana da SP City, treinos mais rápidos, de velocidade, e a ansiedade sendo também um adversário, aumentando bastante.

COM AMIGOS. No dia da prova estava muito bem. Mesmo dormindo apenas quatro horas na noite da véspera. Ansioso e apreensivo em completar a maratona, me sentia leve. Saí caminhando com o amigo Elson Gracioli, até a largada. Usei esse trajeto inclusive como parte do aquecimento. Encontrei amigos que me desejaram boa sorte e uma recomendação especial do Sérgio Celestino (também atleta de elite): ‘Não desista, independentemente de sua posição ou tempo'.
Dada a largada, os primeiros 5 km foram bem lentos, passando para 17 minutos. Então, um pelotão se desgarrou do grupo, juntamente com os africanos. Fui acompanhando a certa distância, para estar inteiro na segunda metade, parte que me deixava mais apreensivo. Assim, passando os 10 km já no ritmo programado, me sentia bem e fui explorando o corpo, sempre buscando melhorar a posição e controlando o ritmo, a uma média de 3:20/km. Já na segunda colocação, meu treinador gritou para mim que estava bem e, então, nesse momento, comecei a apertar o ritmo para 3:16/km e diminuir a diferença do primeiro colocado.
Chegando na USP, já sofrendo para segurar o ritmo devido a uma câibra na posterior, fui negociando com meu corpo para terminar a prova com uma boa marca. Porém, percebendo a distância do líder despencar, fui para cima e encostei no km 39. Fizemos uma disputa até o km 40,5 quando, aproveitando de uma leve descida e em seguida uma subida (o pequeno túnel em frente ao Jockey Club de São Paulo), abri a vantagem que me garantiu a vitória e a melhor marca do Ranking Brasileiro de Maratonistas, montado pela CR, com o tempo de 2:20:09."
Laurindo Nunes Neto, de Caçador-SC

 

 

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