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Blog do Corredor Especial Redação 10 de julho de 2012 (0) (94)

Pregando corrida

Geralmente, a figura de um padre católico está relacionada aos sermões durante as missas e a pregar os ensinamentos bíblicos nas conversas do dia a dia. Não que Vanderlei Souza da Silva, de 44 anos, não faça isso. Pelo contrário. Cumpre todas as obrigações religiosas na paróquia São Domingos, em Caibi, cidade de 5.570 habitantes em Santa Catarina. Porém, inclui em seu cotidiano o esporte, mais precisamente a corrida de rua, participando de provas dentro e fora do Brasil. E transmite junto com suas convicções espirituais a importância da prática esportiva para as pessoas.

O contato com o atletismo teve início aos 16 anos, quando ainda vivia em Romelândia. "Foi um período difícil. Entrei para o seminário em Maravilha, também em Santa Catarina. Para comprar um tênis e pagar os estudos dependia dos meus pais. Treinava escondido, de madrugada. Na cidade de Maravilha havia uma equipe de atletismo e todos os classificados para os Jogos Abertos de Santa Catarina recebiam uma bolsa de estudo e meio salário mínimo mensal, o que ajudou bastante. Mais tarde estudei filosofia e teologia. Foram ainda cinco anos de trabalho na Amazônia e, agora, estou terminando a faculdade de direito", explica padre Vanderlei.

De acordo com o religioso, o esporte deu a possibilidade de se sustentar sem ter de pedir dinheiro aos pais, que trabalhavam na roça e não tinham mais condições financeiras de ajudá-lo. "Graças ao bom Deus e ao meu desempenho em competições, fui conquistando vários troféus e medalhas. Cada corrida vencida era uma festa. Hoje são mais de duzentas medalhas e os troféus passam dos 140."

As participações em provas foram crescendo. Orgulha-se das três São Silvestres, por exemplo. Internacionalmente, disputou corridas em Nova York, Roma, Paris e Milão, além de Chile e Argentina. A rodagem semanal chega aos 140 km quando treina para maratona. As orientações são passadas via internet pelos treinadores Josenildo Souza Silva e Diamantino dos Santos, ex-atletas de elite.

 

EXPERIÊNCIA RICA. "As viagens hoje somam uma experiência muita rica. Minha participação tem motivado diversas outras pessoas a começar a praticar o atletismo e sair do sedentarismo. Foram também várias provas no Brasil. Entre elas destaco a Meia da Corpore em São Paulo, Volta da Pampulha, maratonas de Porto Alegre, Rio e São Paulo, Circuito Sesc, Meia de Floripa…", afirma padre Vanderlei.

Para o religioso, a corrida é um meio de interagir com novas pessoas e manter-se saudável. Não deixa, inclusive, de aflorar o lado orientador na conversa com a Contra-Relógio. "Por isso é preciso passar por uma avaliação antes de iniciar qualquer atividade e disposição. Os treinamentos são muito exigentes. Tem uma frase que aprendi desde o início: ‘Difícil nos treinos, mas fácil nas competições'. A vida nos ensina que é preciso batalhar para sobreviver. No mundo da corrida não é diferente. Você precisa estar consciente que aos poucos irá adquirindo confiança e, ao deixar que Deus haja na sua vida, tudo virá por acréscimo. O melhor modo de ser feliz é amando o que faz", prega o religioso, em uma mensagem que passa semanalmente no seu trabalho na comunidade católica.

Claro que conciliar as obrigações de ser padre com a corrida, em um trocadilho impossível de ignorar, "é uma correria só". "Meu dia a dia é de muita adrenalina, procuro fazer minha agenda e me programar sempre uns dias antes, conciliando o trabalho na pastoral paroquial com as corridas e treinos", afirma. "Os treinamentos são diários, pela manhã e à tarde. Estudo à noite, celebro missas à tarde. Então, todo dia tenho agenda cheia, mas bem divertida", diz. "Uma vez ao mês tenho tirado para competir. Agora estou me preparando para correr a Meia-Maratona de Foz do Iguaçu (dia 8 de julho). Tenho patrocínio da Fila e da Arbaza Alimentos. E ajuda da prefeitura de Caibi", conta padre Vanderlei. "Graças a esses apoiadores consigo levar uma mensagem de fé e otimismo a muitos atletas e famílias. Quando é possível, e sou convidado, faço também a abertura das corridas falando palavras de apoio. Isso faz parte da rotina do meu dia a dia. Gosto do que faço e me sinto bem, mentalmente e espiritualmente."

 

NÚMEROS DE RESPEITO. E os resultados da dedicação de padre Vanderlei não são comprovados somente no campo religioso e motivacional, passando seu exemplo a outras pessoas. Nas corridas também se destaca. Seus melhores tempos são 16:09 nos 5 km; 33:15 nos 10 km; 1h16 na meia e 2h50 na maratona. Em março, disputou a Meia-Maratona de Florianópolis, completando os 21 km em 1:18:40. No ano passado, fez 58:56 na São Silvestre debaixo de muita chuva. Por sinal, no dia 2 de junho, o religioso tinha um compromisso agendado: lançaria a segunda oração pelos atletas em uma prova rústica de 5 km em Caibi chamada Corrida do Padre, que comemora o aniversário da cidade. E, quem quiser ler mais, padre Vanderlei tem um blog, onde prega corrida – www.padrecorredorvander.blogspot.com.br.

 

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