20 de setembro de 2024

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Performance e Saúde admin 4 de novembro de 2014 (0) (98)

Planejar é preciso, periodizar também

Nem tinha virado o ano, começaram a pipocar, principalmente nas re¬des sociais, as confirma¬ções das datas de algu¬mas das principais corridas de rua de 2014. Uma das maiores do país e, provavelmente, prova-alvo de gran¬de parte dos praticantes do esporte, a Maratona do Rio saiu na frente e carimbou um "save the date" no dia 27 de julho.
Organizada pela mesma empresa, a Spiridon/Dream Factory, a Cor¬rida da Ponte, no Rio de Janeiro, também foi anunciada com ante¬cedência: 18 de maio. Esta última coincide com o dia da Maratona de Porto Alegre, tradicionalmente re¬alizada em junho, mas neste ano marcada para quase um mês antes. Tudo por causa do maior evento mundial de futebol.
Durante a Copa do Mundo 2014, que acontece no país entre os dias 12 de junho e 13 de julho, eventos esportivos que não estiverem liga¬dos à competição não podem acon¬tecer nas 12 cidades-sede: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Cuiabá, Brasília, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza e Manaus. Uma exigên¬cia da Fifa, que, como organizadora da Copa, tem o controle total sobre o calendário esportivo do país-sede por um mês. Sem mencionar que existem, ainda, proibições legais referentes a restrição comercial, marcas, patrocinadores e exibições públicas, tudo detalhado pela Lei Geral da Copa, do Governo Federal.
"Definimos a Maratona do Rio para duas semanas após a Copa. O encerramento do evento será no Es-tádio do Maracanã, na cidade, por isso essa prevenção. Não tivemos qualquer dificuldade em confirmar o dia 27 de julho junto à Prefeitura, porque a corrida, a maior do país na distância, já faz parte do calen¬dário esportivo brasileiro. Achamos importante divulgá-la com uma boa antecedência para que os corredo¬res possam iniciar seu planejamen¬to, principalmente os de fora do Rio, que precisam reservar hotel e com¬prar passagens. E, claro, dá para ajustar a planilha de treinamento com folga", afirma Carlos Sampaio, sócio-diretor da Spiridon Promoções e Eventos.

MAIS DATAS. Enquanto as pessoas "normais" fazem suas previsões e promessas de fim de ano, os corredo¬res de rua se preocupam com metas. Faz parte do nosso charme diferen¬ciado. Calendários divulgados com antecedência são o maior presente de Natal para essa espécie singular da humanidade porque, nem acabou um ano, já queremos escolher a prova-al¬vo do próximo. Daí o enorme sucesso do Calendário ASICS-CR, que foi de brinde com a edição de dezembro, mas que continua a ser enviado aos novos assinantes, junto com o boné dos 20 anos da revista.
Responsável pela organização de corridas de rua em todo o país, a Yescom também já anunciou em seu site uma boa parte de seu calendário. De acordo com sua asses¬soria de imprensa, a empresa vem se preparando há três anos para en¬frentar o "bloqueio" durante a Copa do Mundo e, portanto, as alterações serão mínimas em comparação com o ano passado.
Talvez a mais sentida pelos cor¬redores seja a Meia Maratona In¬ternacional de São Paulo, que fi¬cou para 23 de fevereiro (em 2013 foi na segunda metade de março), quando a temperatura e a umidade do ar costumam estar bem altas e interferem no rendimento. A Meia do Rio de Janeiro, também da Yes-com, está mantida para agosto, dia 31. Para maio, foram confirmadas: a Meia das Cataratas do Iguaçu, a Maratona de Porto Alegre, a Cor¬rida da Ponte, no Rio de Janeiro, e os 10 Km Tribuna FM, em Santos, todas no dia 18.
Corridas de distâncias menores, que costumam ser realizadas em circuitos ao longo do ano ou em vá-rias cidades, terão datas informa¬das paulatinamente. Como no caso do Circuito Corujão, que havia defi-nido apenas as datas para o Rio (24 de maio) e São Paulo (19 de julho) até o fechamento desta edição. O criador do Circuito Light Rio An¬tigo, Virgílio de Castilho, também antecipou o pré-agendamento do ca-lendário de 2014 para as principais disputas organizadas pela sua em¬presa, a DeCastilho, para facilitar a vida dos participantes.
As datas das cinco etapas estão escolhidas, mas pode haver peque¬nas alterações durante o ano: 16 de março (Etapa Lapa), 11 de maio (Etapa Praça Tiradentes), 10 de agosto (Etapa Paço Imperial), 12 de outubro (Etapa Cinelândia) e 7 de dezembro (Etapa Porto Maravi¬lha). "As inscrições já estão abertas, inclusive para um produto que cha¬mamos de ‘Combo Light Rio Antigo 2014', onde o atleta paga quatro e corre as cinco edições do circuito", disse Virgílio.
A Mizuno decidiu trocar seu circuito de corridas de 10 milhas, que vinha fazendo há dois anos, por meias-ma¬ratonas. Que, como as da Asics, serão "puras", ou seja, só haverá a prova de 21,1 km. E já reservou datas no calendário de 2014, embora não este¬jam descartadas alterações. Fiquem de olho nestas datas, adiantadas pela assessoria de imprensa da Mizuno: 23 de março, em Belo Horizonte; 13 de abril, em São Paulo; 27 de julho, em Porto Alegre; e 24 de agosto, em Salvador. Apenas duas cidades do circuito ainda não tinham data pré¬-agendada: Rio de Janeiro (maio) e Brasília (outubro).

PRE-PA-RAR. A falta de objetivo pode atrapalhar o corredor e, até, fazê-lo desistir do esporte por não evoluir. Por isso, é importante se¬guir um planejamento. Com metas traçadas é possível melhorar a per-formance e chegar a "vitórias" antes inimagináveis, mesmo que isso não envolva, necessariamente, subir em pódios. "Todos os corredores devem realizar um planejamento, indepen¬dentemente do nível de condiciona¬mento", diz o fisiologista Leonardo
Lima. "É importante definir quais serão as provas ideais, sempre consi¬derando o objetivo principal de cada corredor." Para isso, é recomendável a ajuda de um treinador.
Praticante do esporte desde 2004, Majo Yslei Souza pretende baixar seu tempo nos 21 km e figurar no seleto grupo dos TOP 100 da Golden Four Asics deste ano. A primeira parada escolhida será a Corrida da Ponte, no Rio, e para alcançar seus objetivos, a primeira providência do maratonista para 2014 foi contratar um treinador. "Nunca tive. Sempre segui as intuições do meu corpo, seja em prova longa ou curta. Mas pas¬sei por um bom aprendizado no ano passado, e resolvi mudar. Foi nos 75 km da Bertioga-Maresias: uma semana antes fiz 45 km de treino, estratégia minha, porque achei que precisava fazer no mínimo isso. Er¬rei, porque me senti muito cansado na prova depois do km 45. Agora já estou recebendo planilhas de um treinador de São Paulo e pretendo fazer seis meias, pelo menos, neste ano, sem erros."
De acordo com Lima, que ministra palestras e cursos preparatórios de treinadores de corrida, há dois pontos fundamentais nessa fase de planejamento: objetivo e desafio. O objetivo, segundo o especialista, é fundamental na relação entre trei¬nador e corredor, e poderá ser des¬de uma prova especial, como uma maratona, ou simplesmente saú¬de ou estética. Já o desafio são as metas que o treinador propõe para possibilitar que seu aluno alcance o objetivo traçado. "O que importa é a objetividade estar bem clara e consolidada para que o trabalho seja bem desenvolvido. O desafio está relacionado à motivação e su-peração, provas simuladas e trei¬nos especiais."
Além das planilhas com os trei¬nos de corrida, é indicado elaborar, em paralelo, uma periodização do treinamento de força. Para Lima, um ciclo mais eficiente compõe a capacidade biomotora de força, como outras capacidades também. O especialista explica que, sem esse entendimento e reflexão técnica, as cargas de treinamento e os estímu¬los serão inadequados para aquele atleta. "O ideal, na minha opinião, é que o próprio treinador monte o trabalho de força. Caso o treinador peça para outro colega fazer a parte de força, deverá ser elaborado em conjunto, para que a periodização esteja adequada nos métodos e es¬tímulos." Ou seja: tudo deve ser pe¬riodizado em se tratando de treina¬mento de corrida de rua.

PERIODIZAÇÃO. Ela é complexa, mas é de fundamental importância. Um profissional de Educação Física com experiência em treinamento pode fazer uma avaliação criteriosa do condicionamento físico do corre¬dor e, junto com ele, definir as pro¬vas-alvo e traçar metas condizentes com esse preparo – ou de acordo com uma possível evolução nos treina¬mentos. A falha nessa preparação pode causar grande frustração. Por isso, o treinador deve fazer a seg¬mentação dos treinos do seu atleta de acordo com vários fatores, mas sem copiar o que é feito por outros técnicos ou autores famosos.
Na opinião de Carlos Ventura, au¬tor dos livros Corredor de Rua e Ma¬nual do corredor, a melhor divisão de estágios preparatórios é aquela que estabelece parâmetros que possam ser atingidos: "Vivemos em um clima tropical, e nem sempre a periodiza¬ção feita por um técnico importante do atletismo europeu ou americano é benéfica. Um jovem que vive no in¬terior de Pernambuco e outro do Rio Grande do Sul, por exemplo, têm pa¬drões fisiológicos e de vida totalmen¬te diferentes daquele que vive na Su¬écia ou Dinamarca. O treinador deve ter criatividade e bom senso".
A periodização se divide em ma¬crociclo, que é a visão do treinamen¬to anual, mesociclo, relacionando a mês ou meses, e microciclo, que são os treinos de alguns dias ou sema¬nas. A programação de um corredor de fundo pode variar de um técnico para outro, porque cada um deve ter sua forma de planejamento. Carlos Ventura trabalha um ciclo de trei¬namento comum, com um macro de 12 meses. O período de base – o corredor repousa com atividades lú¬dicas, como natação, vôlei, futebol e corridas diárias de 20 minutos ape¬nas – é fixado no início do ano, em janeiro/fevereiro, logo após o princi¬pal evento, no caso, a São Silvestre, que costuma ser a prova-alvo de trabalho de quem ele orienta.
Como técnico, Ventura foi duas ve¬zes campeão na São Silvestre, com José João da Silva, e usa a corrida como "norte" para sua periodização bem brasileira. "Estabeleço fase competitiva duas vezes por ano, julho e dezembro, como a maioria dos treinadores dos atletas de elite. O período competitivo 1, o princi¬pal, é o de dezembro, visando à São Silvestre, quando o rendimento do corredor deve se aproximar dos 80 a 90% de sua capacidade. No mês de julho estabeleço o período com¬petitivo 2, em que o rendimento do corredor para uma prova importan¬te pode ser de 60 a 70%."

 

 

Check-list da periodização

Comece por uma avaliação do seu condicionamento
– Faça pelo menos um mês de base
– Estabeleça um objetivo: maratona, meia-maratona, 10 k
– Defina uma prova-alvo
– Escolha provas-teste (geralmente com percurso menor)
– Reserve pelo menos uma semana para descansar após a prova-alvo
– Volte para o período de base

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