Acidentes de trânsito matam mais de 40 mil pessoas e deixam outras 400 mil com alguma sequela por ano no Brasil, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde e DPVAT (seguro obrigatório de automóveis). Os números são alarmantes. Quando as estatísticas ganham rostos, tudo isso fica ainda mais impressionante. Há histórias de dor, perda, mas há também casos de superação. Um deles é o do cearense Cristiano Soares de Souza.
Quem observa o atleta de 25 anos correr apoiado em um par de muletas e sorriso no rosto, não imagina o drama vivido há pouco mais de dois anos. Cristiano perdeu o pé esquerdo após um acidente no qual a moto que pilotava foi atingida por um carro na cidade de Crateús, no sertão cearense.
“Fiquei deprimido, pois achava que me tornaria um inútil. Uma das coisas que eu mais gostava de fazer era jogar futebol e, depois do acidente, fiquei sem ter o que fazer. A vida ficou sem sentido. Mas os amigos me incentivaram a entrar no mundo das corridas de rua. Me disseram que eu poderia participar com a cadeira de rodas”, conta.
O início, como é natural, não foi fácil. Mas, para Cristiano, teve um componente psicológico a mais. “Levei um ano para me recuperar do acidente e, quando resolvi participar de provas de corrida de rua com a cadeira de rodas, achei horrível. Sofria com as pistas inclinadas e alguém tinha de me empurrar nas subidas. Quando isso acontecia, eu me sentia mais inútil ainda”, relembra. A solução para seguir no esporte foi se adaptar. “Resolvi pegar a muleta e tentar. No início, fazia metade da prova de muleta e metade de cadeira de rodas. Com o tempo, larguei a cadeira e hoje faço o percurso todo de pé.”
O segundo semestre esportivo de Cristiano está sendo movimentado. Começou com a etapa de Campo Grande do Circuito Caixa – disputada dia 1º de julho, no Parque das Nações Indígenas – onde completou os 5 km com o tempo de 44:23. “Estou na corrida de rua há um ano e estou completamente adaptado a praticar o esporte com as muletas. É bem legal, porque muitas pessoas se aproximam, me dão tapinhas nas costas e me agradecem por ser um incentivo a mais para que sigam praticando atividade física”, afirma ele que também disputou a Maratona em Movimento, em Goiânia; a Meia-Maratona do Rio; a Corrida da BRF, em Santa Catarina; entre outras. Ainda se aventurou além das fronteiras nacionais, na Maratona de Punta Del Este, no Uruguai. Até o final do ano, pelo menos mais três provas estão na programação do paratleta.
Mesmo feliz com a participação nas corridas de rua com o apoio de seu par de muletas, Cristiano sonha com a Paralimpíada. “Eu não tenho patrocínio. Consigo viajar de ônibus em função do benefício (desde 2013, o passe livre para pessoas com deficiências é uma exigência da Agência Nacional de Transporte Terrestre) e às vezes consigo apoio de hotéis, que me dão descontos ou uma diária. Mas meu sonho é me tornar um paratleta olímpico. O problema é o alto custo de uma prótese de titânio para competição (um kit básico de acessórios para um atleta amputado não sai por menos de R$ 100 mil), mas sigo treinando, correndo e esperando que um dia apareça o apoio necessário”, diz.
Em 15 anos de história, o Circuito Caixa tem acolhido os portadores de diferentes tipos de deficiência. Em 2018, ampliou as ações ao passar a integrar o calendário do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). A etapa de São Paulo, marcada para 21 de outubro, será a última da temporada a contar pontos para o ranking da entidade e a previsão dos organizadores é para grande volume de inscritos entre os atletas dessa categoria.