Sem categoria admin 12 de outubro de 2014 (0) (87)

Para evitar lesões, faça exercícios proprioceptivos

Quanto mais preparado o corredor estiver, melhores serão os resultados nos treinos e principalmente nas provas. Isso é fato! Também está mais que provada a importância do trabalho de fortalecimento e de alongamento dos músculos para os corredores. Porém, existe um tipo de exercício pouco lembrado, mas muito importante, que complementa a atividade esportiva, protegendo de lesões articulações, tendões e músculos. Eles são conhecidos como exercícios de propriocepção ou proprioceptivos.
Propriocepção – ou cinestesia – é a percepção do próprio corpo, ou seja, a capacidade de perceber o movimento e a posição corporal sem utilizar a visão. Sem olhar, você pode dizer em que posição está seu joelho, dobrado ou esticado? Isso é propriocepção.
É um assunto complexo que envolve muitos tipos de receptores e várias classificações de percepção, mas o foco aqui será a corrida e a prevenção de lesões.
Para que a percepção ocorra, é preciso que o cérebro, mais especificamente o Sistema Nervoso Central, receba as informações. Isso é feito por receptores chamados de proprioceptores, que são órgãos sensoriais especializados com função de transformar o estímulo (mudança de terreno, posição, movimentos) em mensagens, permitindo que o cérebro nos informe velocidade, posição, angulação e intensidade de um movimento.
Esses elementos sensoriais se localizam em músculos, tendões, ligamentos, articulação e pele. Além de nos informar o que está acontecendo com as partes do nosso corpo, essa capacidade humana também é responsável pelo equilíbrio estático e dinâmico. Tente ficar num pé só. Conseguiu? Isso também é competência cinestésica.
Os proprioceptores são estimulados constantemente no nosso dia a dia quando andamos ou mesmo quando ficamos parados, mas para a prática esportiva é preciso um trabalho mais específico para manter as articulações, músculos e tendões protegidos, evitando lesões.

A AJUDA NA CORRIDA. A corrida é um esporte em que o corpo tem que se adaptar às mudanças a cada segundo, a cada toque do pé no chão e nas mudanças de direção. Isso faz com que os proprioceptores sejam estimulados muitas vezes e, a cada estímulo, temos músculos sendo solicitados para que a ação perceptiva seja cumprida. Assim, além do gasto energético das contrações musculares e respiração, o corredor também gastará energia quando o corpo tenta ajustar a postura e o equilíbrio durante a corrida. Isso quer dizer que se o sistema cinestésico não estiver adequado, haverá maior gasto energético na prática esportiva.
Durante a corrida, qualquer modificação no comprimento de uma fibra muscular, ligamento ou movimento excessivo de uma articulação irá estimular os proprioceptores. Eles irão informar ao cérebro sobre a mudança do padrão da corrida e este mandará uma ordem de "corrigir" a alteração, tentando evitar uma lesão.
Um exemplo disso é numa situação em que o corredor pisa num terreno irregular (buraco ou elevação). A mudança da posição do pé estimula o sistema sensorial que informa o cérebro sobre os riscos de lesão e este manda a ordem de ativar a musculatura de forma mais vigorosa para evitar uma entorse de tornozelo. Essa reação é muito rápida, leva milésimos de segundos!
Caso aconteça um movimento mais brusco ou o início do movimento de entorse, forçando o tornozelo demasiadamente para um lado, por exemplo, os componentes formadores do sistema cinestésico que se localizam do lado estirado percebem o excesso de alongamento, enviam informações para o cérebro e este vai mandar ordens para que a musculatura daquele lado se contraia rapidamente e endireite o pé, levando o tornozelo para a posição neutra, para tentar evitar a lesão.
Isso acontece porque o corpo tem uma memória de movimentos e posições, principalmente quando o assunto é esporte, em que sempre haverá movimentos repetitivos. Assim, ele tem guardada a informação da posição correta e do padrão de movimento adequado para a corrida e, quando algo parece errado, os proprioceptores entram em ação e ajustam o movimento ou posição.
Quando uma articulação, músculo, tendão ou ligamento é lesionado, essa memória de equilíbrio e proteção é perdida, pois os receptores também se lesionam, fazendo com que as articulações fiquem mais predispostas a novas contusões. Por esse motivo, é necessária uma atenção maior ao treino proprioceptivo para que todas as estruturas sejam estimuladas, "acordando" novamente os órgãos sensoriais. É importante incluir, portanto, os exercícios de propriocepção nos treinos de corrida após uma lesão para evitar recidivas.
Quando a corrida é em aclives e declives ou mesmo nas curvas, a função cinestésica é ativar a musculatura para que ela se adapte à mudança de inclinação do terreno ou do corpo, mantendo a estabilidade das articulações e o equilíbrio, o que protegerá as estruturas (músculos, tendões e ligamentos) e evitará lesões. Isso acaba exigindo mais função dos músculos e mais gasto energético. Esta é mais uma razão importante para incluir as atividades proprioceptivas nos treinos.
Quanto melhor for a percepção do corpo e as reações de proteção, menor o risco de lesão e melhor o desempenho.
O corpo trabalha com memória neuromuscular, ou seja, quanto mais estímulos receber, maior será a capacidade em se proteger. Quando é feito um bom trabalho de propriocepção, o corpo aprende a reagir mais rapidamente às mudanças ocorridas durante a corrida. O organismo reconhece o estímulo, se adapta a ele e ajusta o equilíbrio ou movimento articular necessário para manter as estruturas físicas saudáveis e evitar lesões.
É importante ter em mente que o trabalho de cinestesia não é apenas tratamento, mas um método preventivo de lesões e um aliado do corredor para melhorar a ação muscular e o desempenho.

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