No início, o retorno parecia um pouco melancólico, pois abri mão não só da grande metrópole de São Paulo, com todo o seu potencial científico e cultural, mas também de minhas corridas freqüentes ao final do dia no Parque do Ibirapuera e da oportunidade de poder a cada final de semana participar de uma prova diferente dentre as diversas opções do calendário de corridas da capital.
Desde criança sempre fui ligado às atividades esportivas, fruto da observação e acompanhamento de minha mãe que ministrava aulas de educação física e sempre nos motivava à prática de desportos. Pratiquei várias modalidades, mas a corrida, o ciclismo e a natação eram minhas favoritas.
Chegando aqui em 1997, após me organizar profissionalmente procurei uma academia para ocupar o restante do dia, que em uma cidade do interior pode ser bastante longo. Lá conheci Josiane, que seria minha grande companheira e, após alguns flertes nos treinos, logo nos apaixonamos e resolvemos dizer SIM um para o outro. Os nossos primeiros três anos de casamento foram um pouco tumultuados para os treinos, pois ganhamos três tesouros, João Pedro, Maria Clara e João Gustavo, razão de nosso viver e a partir daí começamos a participar de várias provas de ciclismo, natação e corridas curtas de 10 km e meias-maratonas, mas completar uma maratona sempre foi uma meta, por nós a ser alcançada, porém sabíamos que dificilmente poderíamos participar de tal prova, pois tínhamos em mente que o treinamento para tal fim seria árduo e ocuparia várias horas de nosso dia.
O tempo passou e como num piscar de olhos vimos nossos filhos crescerem e nossos 10 anos de casamento se aproximarem. Então fizemos uma reflexão de nosso relacionamento e pudemos verificar o quanto foi importante a prática de atividades físicas para o engrandecimento de cada um de nós como pessoa e como casal. Era chegada então a hora de tentar nosso grande objetivo: completar uma maratona.
Em novembro passado, verificamos o calendário de provas na Contra-Relógio e escolhemos aquela que poderia contemplar o glamour de tal ocasião: A Maratona de Paris. Fizemos logo a inscrição, compramos as passagens e agora só faltava a programação para nossos treinos. Sendo minha esposa, professora de Educação Física não tivemos dificuldades em fazer nossa programação para os quatro meses que antecederiam a prova.
Treinávamos sempre juntos o que ajudava nos dias de cansaço e temperatura adversa, pois um sempre motivava o outro perante as mais diversas dificuldades. Nossos treinos eram realizados 4 vezes por semana e intercalados com musculação e um dia de descanso, como preconizado pelas planilhas da revista. Apesar do tabu que existe acerca da exaustão dos treinos para uma maratona, julgamos que se há um objetivo a ser comprido, assim como um bom companheiro, tudo pode ser superado.
De grande importância em nossa preparação foi a parte nutricional, e sendo eu médico responsável pelo Serviço de Terapia Nutricional na Santa Casa de Montes Claros, pude fazer uma programação para nossa adaptação ao treinamento.
O tempo passou de forma veloz e logo nos vimos no aeroporto embarcando para nosso destino, a cidade de Paris. Chegamos na sexta-feira que antecede a prova numa tarde bastante fria. Fomos ao hotel, jantamos e procuramos descansar.
No sábado acordamos cedo e fomos buscar nossos kits. Passeamos de manhã pela exposição da maratona e almoçamos por lá mesmo. Voltamos então para o hotel a fim de descansar com havia sido previsto. A noite chegou e devido à grande expectativa formada tivemos muita dificuldade em pegar no sono.
Finalmente o domingo, 6 de abril, chegou. Acordamos às 5h30 h, tomamos banho e o café da manhã com frutas e cereais, procuramos nos hidratar bem. Quando saímos do hotel os termômetros indicavam zero grau. Pegamos o metrô em direção ao Arco do Triunfo, local da largada. O frio era intenso e estávamos preocupados, pois a temperatura em nossa cidade sempre se mantém acima dos 30˚ graus. Pelo trajeto do metrô, a cada estação passada, observamos a diversidade cultural reunida em um evento como uma maratona.
Descemos na estação Etoile, aos pés do Arco e nos deparamos com uma multidão de corredores, muitos brasileiros e todos num grande congraçamento. Deixamos nossos agasalhos no guarda-volume e nos dirigimos ao local da saída. Largamos, levando cada um 4 sachês de carboidrato em gel; havíamos programado correr a prova juntos e em ritmo que nos permitisse completar em pouco menos 4 horas, talvez uma meta ousada para a nossa primeira maratona, mas esse era o plano e assim o fizemos. Chegamos aos 21 km juntos e nos sentindo bastante inteiros, o que nos deu a certeza de completarmos bem a corrida. Como programado, completei em 3h51e Josiane em 3h56 e o mais importante é que chegamos felizes.
Permanecemos em Paris por mais 8 dias e sem dúvida fizemos uma recuperação ativa em nossos passeios pela linda Cidade Luz.
Marcelo Eustáquio Siqueira Rocha é assinante de Pouso Alegre, MG