Performance e Saúde admin 10 de março de 2015 (0) (112)

Os tortuosos caminhos da nutrição

Um artigo publicado este ano no prestigiado New England Journal of Medicine tenta desfazer mitos como este. De onde veio esta ideia ninguém sabe, mas o fato é que para afirmarmos algo assim precisaríamos medir o gasto calórico de indivíduos durante a atividade sexual nas mais variadas situações. Diferentes hipóteses precisariam ser testadas, já que o gasto de um homem deve ser diferente do de uma mulher, o de um indivíduo de 20 anos não deve ser o mesmo que o de alguém com 80 anos de idade, poderão existir diferenças entre um casal no início de um namoro e de outro casado há 5, 10 ou 20 anos, entre dias mais e menos animados, em diferentes posições e por aí vai…
Sem recrutar uma grande amostra de pessoas, representativas de todas as possibilidades e dispostas a se voluntariar para este tipo de estudo, fica difícil ter uma resposta para esta pergunta. O que parece claro é que, em se tratando do universo da nutrição, muitas afirmações ainda carecem de evidências científicas.
Um mito bastante difundido é o de que o consumo de vitaminas antioxidantes previne o envelhecimento, pois combatem os radicais livres. O que muita gente não sabe é que os radicais livres possuem muitas funções importantíssimas no nosso organismo, principalmente nos protegendo contra micro-organismos causadores de doenças. O excesso de radicais livres realmente pode danificar células saudáveis, porém o consumo indiscriminado pode ser bastante prejudicial, não contribuindo em nada para a prevenção do envelhecimento.

ENVELHECIMENTO INEVITÁVEL. Existem, aliás, mais de 300 teorias científicas que tentam explicar como ocorre o inevitável envelhecimento humano. Uma das mais aceitas é a de que danos no DNA, que se acumulam ao longo do tempo, danificam as células, encurtam os telômeros e levam ao aparecimento de tumores. Para prevenir os danos no material genético, uma alimentação variada e rica em alimentos de origem vegetal é a melhor estratégia.
O consumo de alimentos contendo fibras dietéticas (presentes nos cereais integrais, frutas e verduras) diminui, por exemplo, o risco de câncer de esôfago, cólon e reto. Hortaliças sem amido (como folhosos, abobrinha, tomate, berinjela, couve-flor e brócolis) reduzem o risco dos cânceres de boca, faringe, laringe, esôfago, pulmão, estômago, cólon, reto. Já as hortaliças que contêm alicina (alho, cebola, alho porró e cebolinha) diminuem o risco de câncer de estômago, cólon, reto, ovários e endométrio. E as pimentas baixam o risco de câncer de boca, laringe, faringe, laringe, estômago, pâncreas, fígado, cólon, reto, próstata e pulmões.
Telômeros são estruturas que protegem as extremidades dos cromossomos. Quanto maior é a exposição às toxinas, maior o encurtamento dos telômeros e mais veloz é o envelhecimento e o aparecimento de doenças. Para prevenir o encurtamento rápido dos telômeros, o ambiente deve ser controlado. O estresse é um dos fatores que mais contribuem para a diminuição do comprimento dos telômeros, assim como o tabagismo e o consumo excessivo de álcool. Por outro lado, dietas com baixo índice glicêmico, ricas em fibras, ômega-3, vitaminas C, D e E protegem os telômeros.

NOVO GURU. Comer pouco também é, de longe, a intervenção que melhor estende a longevidade em modelos animais. Populações mais magras também parecem viver mais. Mesmo assim, nem todos os pesquisadores concordam com isso. O físico e jornalista Gary Taubes, autor dos livros "Why we get fat", "Good calories, bad calories", "Diet delusion" e "Bad Science", todos sem tradução para o português, é um dos que mais questionam na atualidade a eficácia e os benefícios das dietas hipocalóricas.
De acordo com o autor e seus muitos seguidores, o que engorda e acelera o envelhecimento não é o número de calorias da dieta e sim o consumo exagerado de carboidratos. Estes nutrientes em sua forma simples são rapidamente absorvidos, provocando uma exagerada secreção de insulina, a qual aumenta o estoque de gordura corporal, conduz à inflamação e à maioria das doenças metabólicas da atualidade.
A solução, de acordo com o autor e pesquisadores desta linha, é reduzir drasticamente o consumo de carboidratos simples e de alto índice glicêmico, incluindo açúcar, farinhas, pães, biscoitos, bolos, pizza, arroz, batatas e laticínios. Nutricionistas esportivos são extremamente resistentes a esta visão da nutrição, já que a secreção de insulina promove o anabolismo, o ganho de massa magra e o estoque de glicogênio para futuros treinos e competições. Até o momento os estudos científicos têm mostrado que atletas com maior consumo de carboidratos têm um rendimento superior em relação aos que possuem menor consumo de carboidratos e maior consumo de gordura.

EXERCÍCIO ENGORDA! Taubes também provoca a comunidade científica ao indicar que as pessoas não façam exercícios se quiserem emagrecer. Para ele, a atividade física aumenta o apetite em um grau que o torna uma ferramenta ineficiente na perda de peso. Sua visão gerou uma série de debates acalorados nos Estados Unidos, envolvendo profissionais de saúde, como cardiologistas, educadores físicos e nutricionistas, que não concordam com sua visão reducionista, já que o exercício comprovadamente tem se mostrado benéfico para a saúde física, emocional e também para a redução e manutenção do peso.
Na mesma linha de Taubes está o livro "The Smarter Science of Slim", de Jonathan Bailor, formado em ciências da computação e autoproclamado um estudioso e palestrante do mundo fitness. Bailor também declara guerra aos carboidratos de alto índice glicêmico, retirando do prato grãos, farinha, batatas, arroz, massas. Na dieta entrariam apenas frutas e vegetais bastante ricos em fibras e água (como melão, morangos, pêssego, ameixa, laranja, maçã, folhosos, pepino, brócolis, repolho), acompanhadas de carnes e peixes. Além disso, advoga que precisamos de apenas 20 minutos de exercícios vigorosos por semana para atingir a boa forma desejada.
São muitos os paradoxos da ciência. O que Taubes e Bailor fizeram, além de alcançarem fama internacional ao saírem da física e da computação, respectivamente, e migrarem para o mundo da nutrição, foram levantar hipóteses a serem testadas. Gary Taubes, por exemplo, conseguiu angariar fundos para pesquisa, criando o Nutrition Science Initiative, instituto dedicado a estudo da obesidade e doenças a ela associadas. Conseguiu também o apoio de universidades importantes, que se comprometeram a planejar testes rigorosos para avaliar a diferença entre os diferentes planos alimentares na redução de peso e na qualidade de vida. É esperar para ver.

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