O brasiliense Joaquim Carvalho Cruz, um dos maiores ídolos do atletismo brasileiro em todos os tempos, comemora 58 anos nesta sexta-feira (dia 12), recebe os parabéns da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e da Contra-Relógio, sendo personagem da série Aniversário, criada pela entidade para homenagear os medalhistas olímpicos e mundiais adultos.
A grande conquista de Joaquim Cruz, sem dúvida, foi a histórica medalha de ouro nos 800 m nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984 – a única em pista obtida pelo atletismo brasileiro. Ele ganhou prata nos Jogos de Seul-1988 e a medalha de bronze no Mundial de Helsinque-1983 – ambas também nos 800 m. Ele comemorou ainda duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis-1987 e de Mar Del Plata-1995 nos 1.500 m.
O ouro olímpico foi conquistado na tarde do dia 6 de agosto de 1984, exatamente às 16h51, na pista do Memorial Coliseum de Los Angeles, nos Estados Unidos. O atleta nascido em Taguatinga entrou para a história aos 21 anos, quando derrotou o então recordista mundial, o britânico Sebastian Coe, que ficou com a prata, e estabeleceu o recorde dos Jogos, com 1:43.00, que vigorou por 12 anos.
Joaquim foi perfeito em Los Angeles: venceu as eliminatórias, a semifinal e a final com sobra. Entrou seguro e confiante. Comemorou com uma pequena bandeira brasileira na pista, depois de abraçar o técnico Luiz Alberto de Oliveira, a quem considera o seu segundo pai. Treinou com Luiz Alberto – em toda a carreira – num grupo que tinha também Agberto Guimarães e José Luiz Barbosa, o Zequinha.
Quando cruzou a linha de chegada conta que primeiro agradeceu a Deus e depois foi pegar a bandeira que estava com o síndico do seu prédio na curva de largada dos 1.500 m para dividir o momento de glória e alegria com o povo brasileiro.
Ainda em agosto de 1984, Joaquim venceu o Meeting Internacional de Colônia, na Alemanha, com 1:41.77, ficando a apenas quatro centésimos de segundo do recorde mundial de Sebastian Coe. A marca é ainda hoje recorde brasileiro e sul-americano dos 800 m.
Joaquim foi líder do ranking mundial de 1984 nos 800 m, assim como em 1985 – foi novamente o número 1 ao marcar 1:42.49, em 28 de agosto, em Koblenz, na Alemanha.
A medalha olímpica de prata foi conquistada no dia 26 de setembro de 1988 na Coreia do Sul. Chegou a Seul como um dos favoritos ao título. E fez uma ótima prova, correndo com a inteligência de sempre e com mais experiência, aos 25 anos. Nos últimos 50 m, entretanto, quando liderava, foi ultrapassado pelo queniano Paul Ereng, mas chegou à frente do temido marroquino Said Aouita, medalha de bronze.
Joaquim Cruz comemorou bastante a sua segunda medalha olímpica porque, além de muito importante, foi resultado de muita superação. De 1984 a 1988, teve vários problemas de saúde – fez duas cirurgias, uma de joelho e outra no tendão, e uma crise de alergia, do grau mais alto possível (acordava à noite sem poder respirar, estava asmático). Teve de sair de Eugene, no Oregon, e morar na costa por causa dessas alergias.
Ficou fora de Barcelona-1992 por contusão e nos Jogos de Atlanta-1996 foi o escolhido para ser o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura, um de seus maiores orgulhos.
Filho de um marceneiro que deixou a cidade de Corrente, no Piauí, para ajudar a construir Brasília, em 1960, Joaquim gostava de jogar basquete na infância, mas foi convencido a praticar atletismo pelo professor Luiz Alberto de Oliveira, depois das pegadinhas do amigo Carlos Wanderley, que o indicou para o basquete e depois para o atletismo. No início era resistente à ideia, era mais prazeroso praticar um esporte coletivo, mas depois que começou a obter bons resultados resolveu apostar nas corridas.
Caçula de seis irmãos, Joaquim mudou para os Estados Unidos em 1981, a convite do norte-americano Bob Taylent para treinar na Universidade Brigham Young, na cidade de Provo, em Utah. Ele conheceu Taylent ainda quando jogava basquete pelo SESI. Antes de mudar para os Estados Unidos, Joaquim bateu o recorde mundial juvenil (sub-20) dos 800 m no Troféu Brasil de Atletismo de 1981, no Estádio Célio de Barros, no Rio de Janeiro. Deu as duas voltas na pista em 1:44.3, na cronometragem manual. No mesmo ano, derrotou o astro cubano Alberto Juantorena, campeão olímpico dos 400 e dos 800 m, na seletiva para a Copa do Mundo de Roma, na Itália.
Nos Estados Unidos, logo que chegou, passou por uma cirurgia para corrigir uma diferença de tamanho das pernas (a direita era dois centímetros mais curta do que a esquerda). No total, o brasiliense passou por oito cirurgias.
Parou de competir em 1997. Treinador da equipe de atletismo paralímpica dos Estados Unidos, Joaquim mora em San Diego, na Califórnia, com a mulher Mary Ellingson. Tem dois filhos: Kevin e Paulo, que segundo ele “estão criados”. Ele é formado em educação física na Point Loma Nazarene College, de San Diego.
Foto: Joaquim Cruz em Los Angeles (Corbis Seattle/Sonho e Conquista-COB)