20 de setembro de 2024

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Performance e Saúde admin 1 de março de 2018 (0) (329)

O que mais afeta o resultado em maratona?

Entre os diversos aspectos que irão influenciar a dificuldade de uma maratona, destacam-se o clima, a umidade e altitude e a altimetria do percurso. Cada um destes pode individualmente arruinar o planejamento de um corredor e, combinados, o efeito pode ser ainda maior. Por isso, é sempre bom saber se o trajeto é plano ou tem muito sobe e desce, a quantos metros do nível do mar ele transcorre (muitas cidades podem não ser exatamente em altitude, mas já altas o bastante para terem pequenos efeitos sobre a performance) e também o clima previsto no dia da prova. Sabendo os efeitos de cada um destes, é possível planejar uma estratégia mais adequada de treinos e de como correr a maratona.

TEMPERATURA. O aquecimento do corpo durante o exercício é o resultado da geração de calor (o metabolismo) menos a perda para o ambiente (pela diferença de temperatura e evaporação do suor), sendo assim uma variável razoavelmente simples de calcular. Quando se fala em estresse térmico durante a atividade física, se prefere utilizar a medida do chamado bulbo úmido, pois esta leva em conta fatores como a umidade. Como este cálculo não é popular fora do meio especializado, vamos utilizar aqui o chamado bulbo seco, que é a temperatura com a qual estamos acostumados nas previsões do tempo.
Um estudo de 2012 analisou os tempos de mais de 1,7 milhão de maratonistas e concluiu que a temperatura ideal para correr os 42 km fica entre 5 e 10°C. Depois disso, existe uma relação quadrática entre temperatura e performance. O que isso quer dizer? O primeiro gráfico da matéria explica: perceba que em condições ideais, em clima frio, uma mudança de temperatura de cerca de 5°C provoca pouca ou quase nenhuma mudança no rendimento do atleta.
Por outro lado, quando se comparam as diferenças de performance entre 20 e 25°C, por exemplo, (portanto a mesma diferença de 5°C entre 5°C e 10°C), percebe-se uma queda de rendimento muito mais significativa. Isso ocorre porque em temperaturas mais frias a "possibilidade" de perda de calor é maior que nossa capacidade de resfriamento em função do suor; então, a temperatura pode até subir um pouco que a perda de calor não se altera significativamente, pois a capacidade ainda é menor que a "possibilidade".
Em ambientes mais quentes, por outro lado, eventualmente chegamos ao teto da capacidade de perda de calor, que se torna maior que a "possibilidade", e o corpo passa a acumular calor mais rapidamente. Assim, mudanças na temperatura ambiente passam a ter um efeito mais direto no ganho de temperatura corporal, e por consequência na performance. Ao "perceber" que o organismo está esquentando demais, nosso cérebro aumenta a percepção de esforço para nos forçar a diminuir o ritmo e, assim, reduzir a produção de calor.

UMIDADE. Além da temperatura, a umidade também afeta nossa capacidade de perder calor para o ambiente. Se a umidade relativa for 100%, o suor simplesmente não evapora, perdendo sua função de resfriamento do corpo. Assim, umidades relativas de até 60% são consideradas como ideais para a performance, pois valores abaixo disso não comprometem a evaporação do suor de forma significativa.
Ainda no quesito transpiração, existe a questão do sal na pele: acúmulo de sal também dificulta a evaporação do suor, e para isso se recomenda o uso das esponjas molhadas, quando oferecidas ou simplesmente se jogar água dos copos recebidos. Dessa forma, a saída do suor pelos poros da pele é favorecida.
Um último ponto com relação ao clima é a relação corredor X prova. Uma pessoa que treine em climas quentes sempre sentirá um ganho de performance ao seguir para um ambiente mais frio, mesmo que longe do ideal. Da mesma forma, um corredor que treina em ambientes frios precisará de um tempo extra para se aclimatar ao clima mais quente da prova e, dessa forma, tentar reduzir a perda de rendimento.

ALTITUDE. A altitude (altura em relação ao nível do mar) possui dois efeitos sobre a performance: o primeiro, menos conhecido, é positivo: com o ar mais "fino" – há menos moléculas de gás por unidade de volume – a resistência do vento é menor em altitude, inclusive por isso recordes em provas de velocidade e saltos não são oficializados quando realizados nessas condições.
Este efeito é obviamente menor nas provas de longa distância, quando o segundo efeito, a diminuição da pressão de oxigênio (O2) no ar (por haver menos moléculas por volume de ar) é deletério para a performance. Se por um lado a menor quantidade de O2 no ar diminui a resistência ao deslocamento, por outro ela dificulta a difusão de O2 do ar para o sangue (troca gasosa nos pulmões), diminuindo assim o oxigênio que é levado aos músculos durante o exercício.
Considere o segundo gráfico, que propõe uma equivalência de performance para a maratona quando realizada em diferentes altitudes. Repare que, apesar de perda de O2 no ar ser linear conforme se sobe, a estimativa é que a queda de performance também tenha formato curvilíneo. Isso se deve à afinidade da hemoglobina com o oxigênio, que resiste razoavelmente bem a pequenas quedas na pressão de O2, mas após determinado ponto esta perda de afinidade se acentua, diminuindo a oxigenação do sangue. Com menos O2 circulante, a máxima intensidade de exercício sustentável por longos períodos cai consideravelmente.

ALTIMETRIA. A altimetria de uma prova – o perfil de altitude, quantificando as subidas e descidas no percurso – também influencia os resultados finais, pelo menos de duas formas, mas neste caso as duas negativas: primeiro, existe um custo energético adicional para subir (e menor para descer) e, segundo, há um desgaste muscular exacerbado, principalmente nas descidas. Mas a influência direta da altimetria sobre os resultados em uma maratona é muito mais difícil de quantificar, do que a da temperatura ambiente.
Do ponto de vista energético, o que se sabe é que na inclinação positiva (ganho de altitude, geralmente expresso em %) a cada 1% de inclinação, o custo energético aumenta em cerca de 3,5%, enquanto que para descer a mesma inclinação negativa (-1%) a redução do gasto energético é de apenas 1,8%, ou seja, a soma não fecha em zero! Portanto, mesmo que comece e termine no mesmo ponto, uma prova com altimetria variada demanda um gasto energético maior do que uma com trajeto plano.
Além disso, a altimetria variada exige preparo específico tanto para as subidas quanto para as descidas. As primeiras ativam os músculos de forma ligeiramente diferente, e caso estes não estejam prontos, a fadiga muscular surgirá de forma muito mais rápida, forçando o ritmo lento, independente do gasto energético.
De forma similar, a corrida em inclinação negativa causa mais dano muscular, e este pode resultar em dores e perda de força durante a prova, o que também irá diminuir a velocidade do corredor para além do projetado pela diferença de gasto energético.
Tudo isso explica porque mesmo nas maratonas "em descida", como Boston e outras, em que o ponto de chegada fica abaixo do da largada, o rendimento do corredor costuma ser pior do que ele obtém numa prova mais plana.

 

RESUMÃO

1 – Baixas temperatura e umidade são fundamentais para o melhor desempenho. Mesmo em um percurso ideal (plano), temperaturas superiores a 20°C levam a quase 5% de "perda" de performance.
2 – Quando a umidade está acima de 60% prejudica a evaporação do suor, afetando o resfriamento do corpo e o rendimento. Por outro lado, valores abaixo de 20-30% também podem trazer desconforto térmico.
3 – O efeito da altitude sobre a performance somente é preocupante acima de 1.500 m, sendo assim bem menos importante que temperaturas acima dos 20°C.
4 – A altimetria variada sempre irá ter um efeito negativo sobre o resultado final. Mesmo em provas em que a chegada fique abaixo da largada, o dano muscular durante a prova muita vezes prejudica o corredor mais do que o ganho energético da descida.

 

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