Blog do Corredor André Savazoni 13 de agosto de 2013 (8) (367)

O que eu penso quando corro? Em quilômetros

Um dos livros mais legais que já li sobre corrida (e que pode ser sobre a vida também, dependendo da interpretação) é “Do que eu falo quando eu falo de corrida”, do japonês Haruki Murakami. Fazendo em paralelo, hoje, se alguém me perguntar o que eu penso quando corro (provas ou treinos), responderei: em quilômetros. Ou melhor, na passagem de cada quilômetro.

É interessante porque, desde o início, a corrida sempre foi uma terapia. Para tirar o estresse do dia a dia. Termino sempre os treinos ou as provas com a cabeça melhor do que comecei. Já serviu para desenvolver projetos, para solucionar problemas, para pensar em pautas, para sonhar… Ultimamente, porém, na maior parte do tempo, não penso em mais nada. A não ser, quilômetros. Ou, mais precisamente, em quanto tenho de fechar cada quilômetro.

Ao mesmo tempo, a cabeça fica cheia e vazia. A melhor prova que considero ter feito até agora (pois a melhor está sempre por vir) foi a Golden Four Porto Alegre, no final de junho. Foi um recorde pessoal, mas não por isso. Pensei apenas em correr quilômetro a quilômetro. Todos abaixo de 4:00/km. Em mais nada. Concentrado e controlando. O tempo todo.

Não considero isso fácil. Pelo contrário. Muitas vezes, falho. Tendemos a divagar, pensar em outros pontos, começar a fazer contas, a nos entregar… há diversos fatores que poderia citar. Mas meu objetivo está mais do que definido: repetir o foco que estava em Porto Alegre. Prova após prova.

Nos treinos, tem sido assim. Gosto do auxílio da tecnologia, mas prefiro mais ainda a sensação de ir descobrindo um ritmo e a correr nele sem qualquer interferência externa. Na preparação para a Maratona de Nova York, tomei uma decisão: com exceção dos longões (pois gosto de fazer na rua), todos os intervalados serão na pista de atletismo, com as marcações da pista e um cronômetro simples. Mais nada.

Na semana passada, por exemplo, foram dois treinos assim: 15×300 m e 8x800m. Tenho o planejamento passado pelo Marcelo Camargo, calculo o quanto tenho de passar a cada 100m (nos tiros mais curtos) ou 200m e 400m (nos mais longos). As parciais são “anotadas” na cabeça.

Nesta segunda-feira, foram 15x400m. Tinha de fazê-los entre 1:21 e 1:23. Calculei o ritmo: 81 segundos, dividido por 4, deu que a cada 100 m tinha de fazer em 20s. Dessa forma, fiz o primeiro em 1:20, o último em 1:21. Todos os outros 13, 1:21 ou 1:22. Quinta-feira, será assim de novo. 7×1.000m entre 3:45-3:50. Ou seja, 45 s a cada 200m, com 1:30 e 3:00 as passagens dos dois 400m… É, não dá tempo de pensar em mais nada.

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8 Comments on “O que eu penso quando corro? Em quilômetros

  1. Que legal! adorei a matéria. Onde encontro esse livro citado a cima?

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    Elitânia, nas principais livrarias (nas online principalmente), você acha com facilidade. Pode buscar pelo nome do livro ou do autor. É bem fácil de encontrar.

    Abraço
    André

  2. André. O bom que é você conta com a estrutura da pista de atletismo do Bolão. Eu infelizmente tenho que usar as marcações de 100 em 100 metros de uma rua do Parque Toronto pulando duas lombadas. Se for tiro até 400 metros lá vai pois a partir de 500 metros começa uma leve subida.
    Um abraço e bons treinos!

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    Jeff, isso, realmente, influencia… tenho amigos que acham um lugar e pintam as marcações no chão! Mas, realmente, ter uma pista facilita demais

    Abraço
    André

  3. Fala André, muito bom o texto, após ler seu blog comecei a focar os treinos de velocidade e o resultado tem sido muito bom. Praticamente não consigo mais fazer treino de rodagem em pista, só treino faca na caveira mesmo e, tenho curtido bastante. Abraços

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    Então, Rodolfo, dá diferença mesmo. O único risco: a chance de lesão tende a ser maior. Mas nos alimentando e descansando corretamente, dá tudo certo.

    Abraço
    André

  4. Excelente texto André, inclusive o livro Do que eu falo quando eu falo de corrida, faz parte dos meus favoritos de cabeceira.
    Meu foco para o 1° semestre foi a minha primeira meia maratona, já concluida com um tempo abaixo do esperado. E agora retorno a busca do sub 50 nos 10k.
    E meus treinos vem sendo focados no tempo.
    Parabéns e um forte abraço.

  5. Meu sonho é Floripa ter uma pista de atletismo decente. Nem que seja uma só e eu tenha que dividir com mais 50 pessoas e correr na raia 8. Parece que a UFSC vai ter uma no futuro, mas acho que demora.

  6. André,parabéns pelo texto, vc está voando rsrsrs,os seus treinos vão me ajudar bastante,mas não agora, estou voltando a treinar d leve por conta de uma virose, mas daqui a 3 meses estou usado os treinos. um abração

  7. Adorei!! Esta é a pergunta que faço às pessoas que correm e a maioria responde: “Ah, sei lá penso em chegar”. E eu? na maioria das X penso em quanto ainda falta correr, enquanto deveria pensar o quanto eu já percorri. Não é facil!! Neste domingo, vi que exercitei o “fracionar os 10 Km”, ou seja, pensar em quilômetros, vencer quilômetro por quilômetro ficou mais fácil.Um grande abraço e muito obrigada! Marie Takata

  8. Nas provas e treinos de velocidade tb me mantenho focada apenas na corrida, o tempo todo. E é muito bom, pq tu aprende a te concentrar muito mais! Só relaxo a mente nas rodagens e até ouço música em alguna longos. Valeu a dica do livro, vou comprar!! Nos vemos na golden brasilia??

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