O que é superação no esporte, na corrida de rua?

Pelo dicionário Houaiss, superação significa “ato ou efeito de superar; sobrepujamento”.  Algo bem direto. As pessoas adoram usar esse termo nas corridas de rua. Basta uma conversa entre corredores ou, principalmente, uma navegação pelas redes sociais, e lá estará ela “superação”. Muitas vezes, na minha forma de encarar a vida, essa palavra é usada de forma errônea.

Outro dia, corri a Meia de São Paulo, fiquei com uns amigos batendo papo e, ao ir embora, achei que a Avenida Pacaembu já estava aberta. Ainda não. Havia apenas uma faixa liberada para os carros e, então, fui indo embora lentamente. Do outro lado, no sentido contrário, pessoas completando os 21 km.

Fiquei observando e pensando. Algumas, passavam caminhando, tranquilas, dentro do ritmo proposto, de andar por 21 km. Perfeito. Outras, porém, trotavam, com os movimentos todos travados, não por algum problema físico, mas por esgotamento. Quase 3 horas de prova. O esforço era evidente no olhar, nos rostos. Me perguntei, então: isso é “superação” ou seria “sofrimento”? Não ultrapassa o ponto em que a corrida, em primeiro lugar, tem de dar prazer, saúde, qualidade de vida? Não estaria funcionando como o oposto?

E isso é comum observarmos em provas mais longas, como meia e maratona. Suba em uma esteira, para ter uma noção exata, coloque na velocidade de 8:00 min/km. Isso dará para completar 21.1 km, ou seja, uma meia-maratona, em 2:53:36, batendo papo, curtindo, divertindo-se. Se a pessoa chegou a essa reta final, sofrendo, tendo dificuldade para “encaixar” a respiração com os movimentos, para mim, está tudo errado.

Cansei de ver os comentários “vai guerreiro”, “leão”, “você superou-se”, “nossa, que exemplo”, para alguém que quebrou ou lesionou-se em uma maratona ou foi se arrastando até o final. Na maioria dos casos, passando do limite, agravando uma lesão que vai afastá-lo (a) do esporte por semanas ou meses, vai impossibilitá-lo de trabalhar, de brincar com os filhos… que “superação” é essa?

Para mim, podemos usar “superação” para a mulher que tem de cuidar dos filhos, do trabalho, dos afazeres diários cotidianos e ainda encontra tempo para cuidar dela, treinar. Ou o metalúrgico que trabalha por turno e, ainda assim, mesmo passando a noite em claro, antes de descansar, vai lá suar. Ou o jovem que trabalho o dia inteiro, estuda de noite e dá um jeito de não afastar-se do esporte. Ou o atleta “profissional” no Brasil que luta contra tudo e todos, sendo ainda cobrado com a estrutura que lhe oferecem.

Se você vai lá e treina. é por opção. Se estava com peso muito acima e resolveu emagrecer, cuidar da saúde, pode ser um exemplo, mas não vejo nada de superação nisso. Pois, se usarmos esse termo, do contrário, quando largou tudo (um adendo, os problemas de saúde que levam a isso, aí, não entram nesse comentário), ficou na rotina refrigerante, pizza, cerveja… diríamos o quê?

Ninguém precisa correr uma meia ou uma maratona, sem preparar-se para essas distâncias adequadamente. Isso não é superação. Há outras maneiras de superar-se no cotidiano, no dia a dia, na vida.

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