Blog do Corredor André Savazoni 11 de julho de 2016 (0) (253)

O gol de Éder e a (esperada) ausência de fronteiras no esporte

O texto de hoje não tem a ver com corrida. Tem relação direta com o esporte.

Opa, então, está diretamente ligado ao atletismo. Que o diga Mo Farah e outros atletas imigrantes e naturalizados. Mesmo assim, o pano de fundo é o futebol, a Europa e um período de muita turbulência.

eder“Vivemos momentos obscuros, de turbulências, da dúvida do futuro, da insegurança do desconhecido.

Momentos em que crescem disputas, brigas ou guerras por causa da cor de pele, da origem, da descendência, da cultura.

Momentos em que são bajuladas pessoas que nem merecem ser citadas e fazem apologia a pensamentos que nem deveriam mais seguir.

Não navegamos em mares calmos. A tempestade é forte. Rumo ao desconhecido. Na mesma forma que nos séculos 14 e 15 os navegadores portugueses partiram para a África, Ásia e América do Sul. Tudo em nome das descobertas e conquistas.

Na África, as benfeitorias serviam de portos seguros para as navegações. E de fonte de recursos vegetais e minerais, além de mão de obra, ou melhor, de escravidão.

Em um momento em que o xenofobismo é evidente, tão nítido como a água cristalina encontrada pelos navegadores em séculos passados, mas também tão perigosa como a passagem pelo Cabo das Tormentas, o esporte, o futebol, dá uma tapa na cara.

Uma resposta que muitos não percebem ou não querem perceber. Em que uma França tão egocêntrica tinha oito negros e três brancos no time titular. Em que Portugal tem a origem dos imigrantes, da tradição que ajudou a formar a bela cultura portuguesa.

Em que um atacante nascido em Guiné Bissau, um dos últimos locais a resistir à conquista portuguesa e que, em 1974, foi a primeira das colônias africanas a ter a independência reconhecida por Portugal, a ser o grande representante desse momento.

O gol de Éder representa o grito de independência do futebol português. A maior conquista da história. Algo que nem a geração de Eusébio ou Luis Figo conseguiu.

Um dos maiores feitos esportivos português passou pelos pés de um imigrante (de vários, por sinal), natural de um país que sempre lutou pela soberania e que representa essa ausência de fronteiras que deveria perpetuar no mundo atual. Deveria.

O capitão e ídolo Cristiano Ronaldo marcou um golaço ao dedicar o título a todos os imigrantes. A simbologia é enorme.

Diariamente, milhares de imigrantes saem de zonas de guerra para tentar uma sobrevivência, uma vida digna na Europa. E países europeus vão virando as costas. Que diga ter sido esse um dos motivos da campanha que levou à votação de saída do Reino Unido da Comunidade Europeia. Ou do crescimento (inclusive no Brasil) de políticos e eleitores xenófobos.

Dentro do esporte, no futebol principalmente, está mais do que provado que o espaço é de todos, que são portugueses ou franceses como o mais “puro” na questão biológica dos portugueses e franceses, se é que isso ainda existe hoje em dia com a miscigenação existente.

O gol de Éder foi muito mais do que o do título. Foi de um grito de independência em um momento obscuro, de turbulência, de rumo ao desconhecido.”

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