Não há quem não preste atenção. Afinal, eles representam a ordem pública, a repressão policial e a austeridade. Há quatro anos o pelotão é convidado para inúmeras provas na capital federal, seja de 5, 10 e até 21 km, além de revezamentos. Eles garantem ser o único no gênero no Brasil e já receberam convites de organizadores de provas para correr em Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Sempre à frente da Tropa de Elite nas corridas está uma mulher de não mais que 1,60 m de altura. A subtenente Célia Rejane de Souza Brito, 43 anos, é simplesmente a preparadora física do Bope. Isso inclui treinar 82 homens. É dela a idéia de criar o Batalhão de Demonstração, uma forma importante de aproximação dos policiais com a comunidade, além de ser para eles um momento de integração e descontração.
Sub Célia , como é conhecida, é ex-triatleta profissional e vencedora de títulos internacionais. "Sou PM há 24 anos e ‘caveira' desde 1988", diz. Aliás, é a única "caveira" do Bope atualmente. Formada em Educação Física, ela acredita já ter treinado mais de 200 policiais militares. Segundo Célia, a preparação física do Bope é tão intensa que acaba sendo um celeiro para o surgimento de atletas de alto nível. "Todos são atletas de competição e de resultado, seja na capoeira, no triatlo ou na corrida", destaca a subtenente.
APOIO POPULAR. Por onde passa o Batalhão do Bope recebe elogios e se torna inspiração para os mais desmotivados. Afinal, quem não se anima em correr quando vê o pelotão no uniforme preto e usando coturnos? Os "caveiras" fazem sucesso até com as crianças. "O principal são os aplausos e o reconhecimento na rua. As crianças se espelham muito no policial", diz o sargento Euler Alves, referindo-se à responsabilidade do PM perante a sociedade. Já o sargento Francisco fala da importância que a participação nas corridas tem para amenizar o estigma de violência do Bope: "Nós somos o braço armado da sociedade, por isso buscamos o convívio com a comunidade".
Muitos policiais se destacam na corporação pelo sucesso no esporte. Entre eles estão os exemplos do soldado Leandro, 30 anos, e do cabo Roque Almeida, 40 anos. O primeiro foi campeão do Troféu Brasil de Triatlo em 2005, 2007 e 2009, e vice-campeão em 2010, além de quinto colocado no Triatlo de NewPort Beach, na Califórnia, entre tantos outros títulos. Este ano, vai participar do Mundial de Militares de Triatlo, Atletismo e Ciclismo, em Nova York. Já o cabo Roque foi campeão nas provas de 1500 e 800 metros no Campeonato Ibero-Americano de Polícias e Bombeiros, realizado em Manaus ano passado, e tem sido sempre o terceiro colocado na prova Sargento Gonzaguinha, classificatória para a São Silvestre, desde 2004. Está entre os 10 melhores nos 10 km em Brasília, com o tempo de 31:32. Seu melhor tempo em maratona foi em Porto Alegre, com 2h34, quando ficou em 16° na classificação geral. "A gente não só treina. A gente também trabalha. E ainda encontramos tempo para nos destacar", diz.
Para Leandro, os atletas são referência na PM, o que, segundo ele, alivia a imagem de repressão da corporação: "Na Califórnia, corri com o boné do Bope e senti os olhares desconfiados do público que, provavelmente, assistiu ao filme Tropa de Elite. Mas depois que terminei a prova entre os primeiros, fui muito bem recebido".
ATLETAS DE ONTEM E DE HOJE. Não é só com os policiais do Bope que a PM/DF se destaca no esporte. Desde 1970, o Centro de Capacitação Física (CCF) em Brasília trabalha para formar equipes de corrida, especialmente em longa distância. O chefe da unidade, major Marco Alves, 38 anos, relata a conquista de títulos nacionais e internacionais pelos militares, entre eles mais de 30 medalhas de ouro só no atletismo, com ênfase no Mundial de Atletismo de Policiais e Bombeiros e no Campeonato Ibero-Americano das Polícias e Bombeiros, competições anuais de caráter internacional. "A PM de Brasília leva equipes em várias modalidades, principalmente no atletismo, mas a corporação também se sobressai no judô, futebol, natação, xadrez, tênis de mesa e cabo de guerra", afirma. A parede com centenas de troféus e medalhas não deixa dúvidas disso.
Com cerca de 20 atletas de corrida participando de competições nacionais e internacionais, a PM de Brasília apóia essas iniciativas, já que esses policiais são considerados modelos para a tropa. A preparação física é de responsabilidade do CCF. E vale dizer: eles não são dispensados do trabalho de policiamento ostensivo nas ruas.
O ginásio do Centro tem seu nome em homenagem ao atleta mais famoso da corporação: Waldemar Florêncio da Silva, já falecido. Waldemar foi recordista sul-americano de marcha atlética por 20 anos. O recorde foi em 1979. Ele também foi o primeiro campeão da PM na Corrida de Reis, ainda no início da década de 80.
Para ilustrar esta reportagem, a PM apresentou à reportagem da CR policiais que engrossam a lista de atletas veteranos da corporação. Eles fizeram história nas competições e ainda hoje representam bem a instituição nas corridas de rua. Um deles é o sargento Osvaldo de Souza, 45 anos, campeão nos 1500 metros rasos e nos 5 mil metros rasos no Ibero-Americano e campeão mundial dos policiais e bombeiros em 2005 nas provas de 5 e 10 mil metros. Adepto da corrida de rua, tem seu melhor tempo na Maratona de Porto Alegre, com 2h20.
Afastado das provas, o major Marco Alves é outro exemplo de dedicação ao esporte. Competiu dos 9 aos 29 anos e hoje ainda destaca no currículo a participação em três maratonas e muitas outras competições de corrida nacionais e internacionais. Foi o primeiro campeão do Bope no triatlo, em 1998, e na Corrida dos Fuzileiros Navais na categoria oficial militar no mesmo ano. A equipe da PM de Brasília foi ainda vice-campeã na Maratona de Blumenau em 1998, por soma de pontos. Perderam apenas para a equipe do Cruzeiro, considerada hoje a melhor do Brasil.
Outro destaque da corporação é o sargento Carlos Tavares , 49 anos, atleta da PM desde 1986. Além da participação em três maratonas – com seu melhor tempo na de Porto Alegre em 2001, com 2h42, ele acumula presenças no Mundial dos Policiais e Bombeiros, Corrida do Sargento Gonzaguinha, São Silvestre e Corrida de Reis (seu melhor tempo foi a nona colocação geral em 1987).
Um dos mais jovens atletas é o soldado Marcelo Martins, 29 anos, detentor do excepcional tempo de 31:30 nos 10 km. Treinando forte desde 2006, já ficou entre os 100 primeiros na São Silvestre e venceu os 6 km da Corrida de Reis. Marcelo ainda não se arriscou em provas de maior distância, mas é saudado pelos colegas como uma verdadeira futura revelação.
Tanto apoio à corrida de rua e ao esporte se traduz na realização de uma prova com percursos de 5 e 10 km aberta à comunidade. A tradicional Corrida de Tiradentes faz parte há sete anos do calendário brasiliense de corridas de rua. Este ano, no dia 15 de maio, a PM de Brasília prevê a participação de três mil corredores e aguarda a presença de atletas quenianos e dos campeões Marilson dos Santos e Franck Caldeira. A premiação é convidativa: um carro para os primeiros lugares masculino e feminino, além de prêmios nas categorias.