Performance e Saúde admin 10 de março de 2015 (0) (98)

No sangue, o possível diagnóstico dos problemas

Você certamente já ouviu que todo o corredor deve escutar o seu corpo. Estar atento ao que ele diz certamente pode ajudá-lo a melhorar sua performance e evitar lesões. Mas e quando o atleta não sente dores ou incômodos e só se dá conta de que algo não vai bem quando os resultados não são os esperados? A resposta pode estar no sangue. Estresse muscular ou hepático, taxas irregulares de proteína e carboidrato são alguns dos sintomas que afetam o rendimento e que somente um estudo sanguíneo pode detectar.
Segundo o farmacêutico-bioquímico Alexandre Cosendey, através do sangue – e também da análise de órgãos e tecidos – pode-se identificar o perfil metabólico de cada pessoa e fazer os ajustes para equilibrar o organismo.
"O sangue, apesar de ser líquido, é considerado um tecido e, dos tecidos que compõem o corpo humano, é o único que sempre tem contato com todas as células do corpo. Desse modo, ele está sempre levando nutrientes e trazendo o lixo das células para serem excretados pelo organismo. Toda essa química que vai e vem pode ser detectada e medida por um sistema de análise, traduzindo todo o comportamento do organismo em nível celular", explica Cosendey, lembrando que na maioria das vezes é possível corrigir o metabolismo antes mesmo de aparecerem os sintomas nos órgãos.
Mas não basta um simples exame de sangue. "Um exame mostra muito pouco. Revela somente o que foi examinado e não um comportamento fisiológico. Um exame de glicose, por exemplo, indica apenas a quantidade de glicose no sangue, e não o metabolismo glicídico ou a incidência do diabetes. Para o entendimento da fisiologia é preciso um conjunto de exames previamente estipulados", afirma Cosendey.
No caso dos corredores ou de qualquer outro praticante de atividade física, a vantagem destes estudos é a possibilidade de saber se as células – e consequentemente todo o organismo – estão preparadas para suportar a carga de exercícios. Afinal, se elas trabalham demasiadamente sem ter o apoio dos nutrientes necessários, como água, repouso e substâncias endógenas (que se desenvolvem dentro do organismo), acabam sofrendo desequilíbrio e isso interfere diretamente no funcionamento do organismo.
"A planilha elaborada pelo treinador, na maioria das vezes, compõe-se de um conjunto de atividades de sobrecarga para adaptarem as células musculares, ósseas, cardíacas e outras, a suportar os próprios treinos e competições. Estas planilhas pressupõem que as células estejam íntegras e com suporte nutricional adequado para se recuperarem e se adaptarem, caso contrário entrarão em estresse excessivo, o que pode levá-las à morte. O estudo pode revelar quais condutas podem fazer com que o atleta se aproxime do seu potencial máximo, sem riscos de lesões ou doenças", diz Cosendey, lembrando que o treinador não tem como "enxergar" as células do atleta.

ANEMIA. Para o treinador Joaquim Ferrari, um estudo complexo do sangue pode apontar diversas causas para a queda de rendimento de alguns atletas, mas lembra que na maioria das vezes são fatores até certo ponto simples que afetam o rendimento dos corredores. Problemas que podem ser identificados num simples hemograma.
"A anemia é um bom exemplo. O transporte de oxigênio no sangue é feito principalmente pelas hemoglobinas. Durante a atividade física há aumento no consumo de oxigênio pelas células musculares. Se o atleta tiver baixo índice de hemoglobina, certamente terá carência de oxigênio nas células, o que vai prejudicar o seu rendimento, piorando sua performance" explica Ferrari, que fez aperfeiçoamento em Bioquímica Médica e já coordenou o Laboratório de Fisiologia do Exército.
Ferrari, no entanto, lembra que a interpretação de um exame de sangue que aponte um quadro de anemia deve sempre levar em conta que as amostras são de um atleta.
"O atleta, em função de uma adaptação fisiológica, tem um sangue mais líquido que o não atleta. Como o exame dosa a concentração de hemoglobina, pode haver uma interpretação errada, indicando anemia, quando na verdade ocorre apenas aumento do volume de plasma, a parte líquida do sangue. Uma boa forma de eliminar essa fonte de erro é medir as reservas corporais de ferro, através de um exame sanguíneo de dosagem dos níveis de ferritina", completa Ferrari.

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