Blog do Corredor Fernanda Paradizo 15 de junho de 2018 (0) (207)

No embalo do mais puro rock’n’roll

Provas planas, bem organizadas, com largadas divididas por baias de performance e uma banda de música tocando pelo menos a cada 1 milha (1,6 km). Para a maioria dos corredores, estas são características que com certeza fazem a diferença na hora de escolher que prova correr, principalmente para quem busca resultado. E quem quiser encarar uma meia ou maratona desse jeito nos Estados Unidos pode escolher de olho fechado qualquer uma da Rock'n'Roll Marathon Series, que com certeza não sairá desapontado.

A série teve seu início em 1998 na Califórnia, com a San Diego Rock'n'Roll Marathon, e foi incorporando eventos de porte em seu calendário. Ao todo são 23 provas, com distâncias de maratona, meia e até um 10 km, em Nova York, espalhados por várias regiões dos Estados Unidos. E, como se não bastante, a série acabou de colocar sua marca em quatro provas fora do país, em 2012, sendo uma em Montreal, Canadá, e as outras três na Europa: Madri (Espanha), Lisboa (Portugal) e Edimburgo (Escócia).

Com todos estes ingredientes, a vontade de fazer uma meia-maratona do circuito já me perseguia há algum tempo. Como minha agenda de corridas sempre tem que estar ligada a datas de eventos que eu cubra no exterior, esperei por algum tempo até que houvesse uma real oportunidade. E, depois de várias tentativas de conciliar a agenda, surgiu então a chance de correr a San José Half Marathon, na Califórnia, dia 2 de outubro. A cidade fica a 50 minutos de carro de San Francisco.

Era minha sexta meia em 2011 e muito provavelmente minha última oportunidade do ano de correr os 21 km abaixo de 1h45, tempo que persegui este ano sem sucesso. O mais perto que cheguei foi na Golden Four Asics de SP, quando corri para 1h46. Programei o roteiro da viagem, mesclando corrida e trabalho. Não tive nenhuma dificuldade em fazer a inscrição. Entrei no site e paguei o valor de 110 dólares, um preço um pouco salgado quando comparado às provas do Brasil, mas comum nos eventos nos EUA, principalmente quando as provas já são consagradas. Recebi minha comprovação na hora e depois de uma semana meu nome já constava na lista dos inscritos.

 

DOIS MEDALHISTAS OLÍMPICOS.  Eu sabia pouca coisa da prova, até porque não havia muita informação no site. Apenas que era plana, realizada numa temperatura agradável e com todos os ingredientes de uma prova rock'n'roll, o que me enchia de esperança de que seria um grande evento. Outra informação que eu tinha era de que Meb Keflezighi, prata na maratona dos Jogos de Atenas 2004 e campeão da Maratona de Nova York em 2009, havia sido bicampeão ali e estava retornando não só para tentar o tri, mas principalmente para finalizar sua preparação para a Maratona de Nova York. Outra presença ilustre era Deena Kastor, medalha de bronze na maratona dos Jogos de Atenas 2004, recordista norte-americana de meia-maratona (1:07:34) e primeira americana a correr uma maratona sub 2h20 (2:19:36, em Londres 2006). Seria seu retorno às competições sete meses depois de dar à luz a Piper, sua primeira filha.

Programei minha viagem para estar na California na quinta-feira, que era o tempo necessário para chegar com calma, conseguir entrar no fuso horário, de 4 horas, poder pegar o kit da prova e descansar. E assim fiz, mas voltei no sábado à feira para olhar com mais calma os estandes. Para quem quisesse levar para casa uma recordação ao estilo rock'n'roll, o site Competitor.com fazia fotos a caráter para quem quisesse. Era só chegar lá, escolher um acessório qualquer, como guitarra, óculos, plumas, jaquetas e outras parafernálias, para ser fotografado. As fotos foram depois divulgadas no facebook da prova e mandadas por e-mail para cada corredor.

Eram mais de 10 mil inscritos na prova, que só tem opção de 21 km. Como a largada da prova era às 8h, programei-me para chegar ao local com 1 hora de antecedência, que é o que costumo fazer no Brasil. Uma das coisas que chama atenção nos EUA é as pessoas chegarem ao local muito perto do horário da prova, com cerca de 30 minutos ou menos. Mais admirável ainda é que, mesmo assim, as coisas acontecem sempre de forma organizada. Banheiros tranquilos, guarda-volumes também.

 

CADA UM NA SUA BAIA. Ainda frustrada com a Meia de Buenos Aires deste ano, que teve uma das largadas mais tumultuadas que vivenciei em corridas no exterior, fiquei com receio que acontecesse algo parecido e resolvi ir até o local para checar e constatar uma calma total. Terminei meu aquecimento 10 minutos antes da largada e entrei na minha baia sem o menor problema. Tentei procurar alguém para mostrar meu número de acesso, que me dava direito a largar logo na segunda baia, mas não havia ninguém ali disposto a olhar. Não acreditando no nível de civilidade das pessoas, ainda que esteja acostumada a correr provas nos EUA, resolvi checar atentamente o número dos corredores e atestei que todos tinham a numeração permitida para estar ali. E nada do empurra-empurra habitual das provas grandes no Brasil.

Após o hino americano, ao som do refrão de "We will rock you", do Queen, a prova largou. Levei 17 segundos para passar a linha de largada. Sabia que havia um marcador de ritmo de 1h45, identificado com bixigas, um pouco atrás de mim, mas preferi seguir meu próprio passo e logo percebi que estava num bom dia e por isso mesmo arriscaria a fazer um bom resultado.

Na passagem dos 5 km (havia cronômetro a cada 5 km) vi que no ritmo que estava fecharia em 1h43. Corri o tempo todo num pelotão de mulheres bem ritmadas, que se revezavam na frente. Aliás, isso foi algo que sempre me chamou atenção na prova e tem sido um grande diferencial das meias maratonas nos EUA, em que as próprias pesquisas locais indicam ser a distância que mais cresce nos EUA e a preferida do público feminino. Confirmei essa informação mais tarde ao checar os resultados, que mostraram que, do total de concluintes, 55% eram mulheres.

 

FELICIDADE: 1:43:28. Apesar de todo o entusiasmo e do grupo de pacers improvisado, confesso que foi muito difícil manter o ritmo nas milhas finais. Fiz e refiz as contas por várias vezes e todas elas davam 1h43. Do grupo de mulheres, eu e outra garota fomos deixadas para trás, mas não me preocupei, achando que forçaria o ritmo no final, o que não consegui fazer. Mas mesmo assim, completei em 1:43:28 (tempo líquido).

Posso dizer que as bandas ao longo do percurso e animação das cheerleaders ajudaram muito. Havia muita música boa no percurso, como Rolling Stones, Eric Clapton, Beatles, Creendance e outros, que animavam para valer. Cruzei a linha de chegada com um grande alívio, satisfeita e muito feliz, como há muito tempo não me acontecia. Nem quando bati meu recorde pessoal na distância em 2004, em Lisboa (1h38), senti isso.

Ao final da prova, peguei minha câmera fotográfica para fazer algumas fotos dos vencedores: Meb Keflezighi (1:02:17) e Deena Kastor (1:12:23). Depois, não tive dúvida; entrei numa fila para tirar uma foto com ela. Terminada a premiação, ainda fiquei algum tempo por ali sentada na grama, como a maioria dos corredores, curtindo o show de rock ao final, também característico das provas da série. Foi sensacional!

Achei que dava por encerrada minha temporada de corridas em 2011, mas três semanas depois não me contive e corri outra meia da série, desta vez em Los Angeles, para onde tinha ido fazer um curso de inglês. Uma prova ainda mais festiva, porque coincidia com o Halloween, como bem mostram as fotos.

 

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