Notícias Redação 1 de julho de 2012 (2) (135)

Na Meia do Glaciar, um visual de tirar o fôlego

Quer correr em uma prova que alterna momentos de frio, chuva, sol, neve, rajadas de ventos, subidas e descidas fortes e ainda poder passar por paisagens lindíssimas? É essa a cara da Meia-Maratona do Glaciar, na Argentina, que acontece dentro do Parque Nacional dos Glaciares (e onde fica a famosa e imensa geleira Perito Moreno), distante 78 km de El Calafate, onde a maioria dos competidores ficou hospedada.

Em El Calafate, cidade de 20 mil habitantes e que vive basicamente de turismo, criação de ovelhas e gado, nos confrontamos com paisagens lindíssimas que já serviam de prévia para o que iríamos encontrar no Parque. A entrega dos kits foi feita na sexta-feira; na sacola, chip descartável, numeral, camiseta comemorativa da prova e uma garrafa de isotônico. Diferentemente da Meia e da Maratona das Cataratas do Iguaçu, o ingresso do Parque Nacional dos Glaciares não estava incluso na inscrição da prova; era necessário comprá-lo lá mesmo. Às 7 da noite, houve o congresso técnico, em que o percurso foi detalhado para os corredores, e foi neste momento em que todos ficaram sabendo que o último quilômetro era em forte subida. No congresso soubemos ainda que havia 40 brasileiros na prova, cerca de 20% do total de competidores inscritos nas provas de 10 km e meia-maratona. Um número significativo, já que foi a primeira edição.

 

FRIO E CHUVA. O transporte para a largada foi feito em ônibus e vans que saíam da frente do hotel Los Álamos, mesmo local onde foi feito o congresso técnico, a partir das 8h. Ao chegar ao estacionamento do Parque já dava para sentir que, além do percurso difícil, a temperatura também não daria refresco, pois chovia e fazia perto de zero grau! Fui bem preparado para enfrentar o frio, mas tive que comprar um "poncho", ou melhor, uma capa de chuva dessas de plástico bem simples, para não congelar antes da prova. O tênis que tenho usado para correr tem vários "furos", então, coloquei um saco plástico nos pés para poder suportar melhor a temperatura e o vento.

O locutor estava bem animado e as pessoas respondiam com muita alegria, pulando o tempo todo. Mas como a temperatura estava muito baixa, não dava para saber se os saltos eram de empolgação ou para manter o corpo aquecido. Cinco minutos depois da largada, o frio já era suportável e fiquei correndo junto a dois uruguaios. Por volta do km 4, olhando para trás, podia-se observar o glaciar Perito Moreno, que deve ter feito algum acordo com São Pedro, pois onde corríamos o céu estava nublado, mas no Perito estava ensolarado.

Havia dois postos de abastecimento e como o percurso era basicamente de ida e volta, tínhamos quatro oportunidades de nos hidratar com água ou isotônico. Na pressa de guardar minha mochila no guarda-volumes, esqueci de pegar os dois sachês de gel de carboidrato que tinha levado. Nessa hora lembrei do editor Tomaz Lourenço, que costuma dizer "Se tem isotônico na prova, não levo gel". Fiquei tranquilo e deu certo.

 

ARCO-ÍRIS. A primeira parte tem muitas descidas, que na volta se tornaram verdadeiras "paredes". Aproveitei todas as descidas para acelerar. Eu diria que nessa prova não dá para pensar em fazer tempo, pois quando corremos muito focados não olhamos para os lados ou para as belezas do percurso. E não é que por volta do km 8 apareceu um arco-íris? Na outra margem do lago há uma cadeia de montanhas com neve no topo, que faz com que você pense estar nos Alpes Suíços. Por boa parte do trajeto há belas árvores que por vezes cercavam os corredores pelos dois lados da estrada.

Já na segunda parte, tínhamos que subir várias rampas e nesses momentos éramos brindados com rajadas de vento-contra que funcionavam como um freio a mais no já reduzido ritmo de subida. No terço final da prova, senti uma pequena batida na testa, como se uma pedrinha tivesse sido arremessada na minha direção: era neve. Tudo bem, não era uma nevasca, mas foi o tempero que faltava para deixar a prova ainda mais legal.

O quilômetro final se mostrou mais difícil do que eu pensava. Era uma subida forte em ziguezague, em intermináveis 700 metros de aclive bem íngreme! Para tornar a brincadeira mais divertida, as rajadas de vento agora eram a favor e senti vários empurrões de ajuda na escalada. Ao chegar ao topo, um staff gritava: "Chico, 50 metros abajo!". Foi o que eu precisava para acelerar no final. Vejo o pórtico e duas garotas do staff seguravam a faixa de chegada para mim. Levanto os braços como se tivesse vencido a prova e logo depois a medalha é colocada no meu peito – "regalos" que só uma corrida com 280 participantes pode se dar o luxo de oferecer. Completei em 1h57, contente e radiante por ter superado o percurso com paisagens incríveis.

A prova foi vencida por Martin Ñancucheo, com 1h12. Martin mora e treina em Esquel, cidade argentina incrustada na Cordilheira dos Andes e, por isso, não teve dificuldades para enfrentar o frio e as rampas. Entre as mulheres, Milena Rosa Cantadori, paulista de São João da Boa Vista, aproveitou a ausência de atletas de elite no feminino e levou a premiação para casa, ao concluir em 1h46. "Corri sem relógio porque sabia que havia muitas subidas e não tinha sentido ficar preocupada com o ritmo. Quando me disseram que eu era a primeira mulher, pouco antes da chegada, nem acreditei", disse.

Dada as belezas do local, recomendo aos que queiram participar da segunda edição que reservem alguns dias para passeios. Chegar na quinta-feira e ir embora no domingo ou segunda é o ideal para aproveitar tudo que El Calafate pode oferecer (veja boxe). Alguns brasileiros estenderam a viagem para Ushuaia, no extremo sul da patagônia argentina. A Meia do Glaciar em 2013 já está marcada: 6 de abril. Os organizadores pretendem se juntar à Meia das Cataratas e à Meia Douro Vinhateiro, em Portugal, para fazer parte do Circuito de Meias-Maratonas em Parques Nacionais tombados considerados patrimônio mundial da humanidade pela Unesco. Mais informações em www.maratondelglaciar.com

 

CORRIDA E TURISMO

Além da excelente parilla argentina e do assado de cordeiro, especialidade da região, há vários e belos passeios na região.

GLACIARIUM: um museu que explica a formação das geleiras, sua descoberta e desbravamento a partir de vários painéis, vídeos, cinema 3D e instalações interativas. Há também um bar de gelo, único do mundo feito com gelo das geleiras. Info: www.glaciarium.com

AVENTURA: Com a ajuda de um veículo 4×4, sobe-se a quase 1.000 metros de altura para ter uma linda visão panorâmica de El Calafate com o Lago Argentino. Na volta um passeio pelo "Labirinto das Pedras", que tem formações rochosas muito interessantes. Info: www.miloutdoor.com

MINITREKKING: Uma caminhada pelo próprio glaciar Perito Moreno, com "grampones", garras presas ao calçado. Ver o glaciar de tão perto, andar por sua superfície e beber sua água é uma experiência ímpar. Há também outro trekking mais longo, de cerca de 6 horas, que explora ainda mais a geleira. Para começar o trekking temos que fazer uma travessia de barco de 20 minutos para a outra margem do rio e ficamos cara a cara com a parede de gelo. Info.: www.hieloyaventura.com

 

ESTÂNCIA NIBEPO AIKE: Fazenda pertencente aos primeiros moradores que povoaram a região no final do século 18. É possível acompanhar a tosa de uma ovelha com tesoura (método usado pelos fundadores da estância) e comer um churrasco de cordeiro. Info.: www.nibepoaike.com.ar

CENTRO DE INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA: Museu com painéis que contam a história de formação do universo, glaciares e povoamento da Patagônia. Tem montagens de dinossauros e mamíferos que eram encontrados na região há milhares de anos. Info.: www.museocalafate.com.ar

 

 

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2 Comments on “Na Meia do Glaciar, um visual de tirar o fôlego

  1. DAS CATARATAS E D’OURO JÁ FIZ; TAÍ NOVO BELO DESAFIO ;

  2. Estou fechando o pacote com a Kamel , nesse começo de fevereiro; a expectativa ja é muito grande , por uma super prova (em todos os sentidos ) que abril chegue logo…

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