POR ELIZABETH SZILASSY

Neste domingo, 29 de setembro, fui privilegiada por participar da 50ª Maratona de Berlim, que teve recorde de inscrições (58.212) de um total de 161 nações e de concluintes (54.280) sendo 54.062 corredores e 218 em cadeiras de rodas. Acabou se tornando a maior do mundo, ultrapassando as de Nova York, Chicago e Paris. Atingiu a maior porcentagem de mulheres (34,6 %), ou seja, 18.528 corredoras, contra 65,4 % no masculino (35.475).
Eu havia conseguido me qualificar para duas Majors, quando completei a minha 1ª maratona, em Porto Alegre em 2022: a de Boston, que corri em 2023 e a de Berlim que fiz ontem. Por ser da categoria de 60/64 anos, o índice era de 4h20 para Boston; para Berlim, a mesma coisa para mulheres acima de 60 anos. Infelizmente, minha amiga Vânia Macedo, de Caruaru, que havia me convidado para as três maratonas (Porto Alegre, Boston e Berlim) não foi sorteada para esta última e acabei viajando sozinha.
Cheguei em Berlim, na quinta-feira, vindo diretamente de Recife para Lisboa, e em seguida Frankfurt até chegar na capital alemã. Não há voos diretos do Brasil para Berlim. No dia seguinte, aproveitei para pegar o kit na feira, realizada no antigo aeroporto Tempelhof. A entrega dos kits (com número de peito, alfinetes, pulseira de acesso a largada) foi bem organizada. Lá fui informada sobre a área de largada e todas as opções que havia adquirido, ou seja, massagem antes da prova, gravação da medalha e fotos da corrida.
Também havia me inscrito para acompanhar a Cerimônia de Abertura, no mesmo dia 27/09, esperando ver alguns dos recordistas mundiais como Ronaldo da Costa, porém demorei demais na expo, e não deu para assistir. Depois soube que apenas três maratonistas participaram, Paul Tergat, Tigst Assefa e Tegla Loroupe. Gostaria de ter visto Eliud Kipchoge e Haile Gebrselassie, além de Kenenisa Bekele (campeão em 2016 e 2019)!
No sábado, aproveitei para conhecer a área em torno da largada e da chegada, próximo ao enorme parque verde Tiergarten. Fui assistir a uma colega do quarto no hostel participar da inline skating com 3.400 patinadores. Os corredores (10 mil) da prova de 5 km Generali estavam chegando e ainda teve uma competição de 4,2 km para crianças com cerca de 6 mil participantes, totalizando cerca de 20 mil fora os 55 mil da maratona.
Domingo, clima ótimo
Me alimentei bem na véspera, e comprei um sanduiche e duas bananas para comer logo cedo, já que o café da manhã do hostel não estaria disponível antes da minha saída. Berlim tem um excelente sistema de transporte público subterrâneo. Acabei pegando o Underground (U) desde o aeroporto, e usei para todo o deslocamento pela cidade. É rápido e foi de graça para os corredores.
As condições no dia da corrida foram perfeitas para correr bem. Percurso plano e temperatura em torno 10ºC. Por estar acostumada com o clima do Nordeste, procurei me proteger do frio durante a hora de espera para a largada, levando a folha de alumínio que ganhei na chegada da Maratona de Boston, e que descartei logo após a saída. A largada foi dividida em 10 zonas, determinada quando informamos o nosso tempo de qualificação, que para mim foi de 4:07:16. Porém, como essa foi a minha marca há 2 anos, ajustei o meu tempo previsto para 4h30, sendo colocada na zona J. Cheguei às 9 horas e a largada seria às 10h10, mas só começamos às 10h30.




Lá pelo km 10, notei pessoas já caminhando; achei estranho, e deduzi que tinham largado nas zonas anteriores, que teoricamente foram reservadas para pessoas com tempo previsto de conclusão melhor do que o meu. Dá para entender que eles informaram tempos não realizáveis. Também a presença de portadores de deficiências, que me acompanharam durante mais de 20 km do percurso, especificamente, visual, pois os guias informavam continuamente: Blind runner coming!
Durante o percurso, não faltou apoio, semelhante ao da torcida em Boston, embora em escala menor. Houve várias bandas de música tocando para nos animar, crianças colocando a sua mão, para nos transmitir energia, e cartazes como: “Pelo menos não está no trabalho!” ou “Você pagou por isso!”, para não reclamarmos do sofrimento – eu particularmente não sofri!
Vários géis e sem sal
Me preparei para as necessidades nutricionais do corpo ao longo dos 42 km com alimentação suplementar, levando 5 géis, que tomei a cada 7 km da prova, não sentindo nenhuma fraqueza ao longo da prova, mantendo um pace igual até o km 40 entre 6 e 6:30/km, e de 7 nos dois últimos quilômetros. Não tomei nenhuma cápsula do sal, sendo que com a temperatura baixa, e o meu ritmo confortável, não transpirei durante a maratona, não sendo necessário repor sais, diferentemente do que acontece em percursos com clima quente.
Ao longo do percurso tentei ficar à frente de pacers (marcadores de ritmo) identificados como Sub 4h30, porém no km 40 eles me passaram e não consegui mais lhes acompanhar, concluindo em 4:33:37, o meu 3º melhor tempo na maratona. Das 6 completadas, 3 foram com tempos acima de 5 horas, realizadas todas no nordeste do Brasil. As minhas colocações comparadas com os totais em cada categoria foram: 37.807ª entre 54.062 corredores, 10.681ª entre 18.587 mulheres, 59ª entre 226 mulheres da categoria 65 a 69 anos. Comparada com as outras 5 maratonas que completei, foi onde menos senti cansaço.



Logo recebemos a linda medalha, que imediatamente levei para o serviço de gravação pré-pago com o meu nome e o meu tempo. Nem fui atrás do lanche pós prova, pois não estava com fome, mas com frio, pois com o fim da corrida, o meu corpo começou a tremer, embora tenhamos recebido uma folha de alumínio para nos proteger. Não demorei na área pós prova, preferindo ir para o calor do hostel.
Na segunda-feira, cansada e feliz, voltei para a área da chegada, perto do Portão de Brandenburg, para tirar fotos e participar de um Walking Tour, uma caminhada de 7 km, aprendendo um pouquinho sobre os 300 anos da cidade de Berlim, onde aconteceram tantos acontecimentos significativos da história da Europa e do mundo.
Elizabeth Szilassy é canadense, engenheira agrônoma, vindo em 1983 como voluntária trabalhar em Pernambuco e por aqui ficou, morando atualmente em Brejo da Madre de Deus. Participa de provas de pista e de rua há vários anos, obtendo inúmeras premiações em sua faixa etária. Ela está no Ranking CR 2024, com 4:54:48, tempo conseguido na Internacional de Olinda.