2 de outubro de 2024

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Aos 65 anos, 4h33 na maior maratona do mundo, a 50ª de Berlim, com 54 mil corredores de 161 países!

POR ELIZABETH SZILASSY


Neste domingo, 29 de setembro, fui privilegiada por participar da 50ª Maratona de Berlim, que teve recorde de inscrições (58.212) de um total de 161 nações e de concluintes (54.280) sendo 54.062 corredores e 218 em cadeiras de rodas. Acabou se tornando a maior do mundo, ultrapassando as de Nova York, Chicago e Paris. Atingiu a maior porcentagem de mulheres (34,6 %), ou seja, 18.528 corredoras, contra 65,4 % no masculino (35.475).

Eu havia conseguido me qualificar para duas Majors, quando completei a minha 1ª maratona, em Porto Alegre em 2022: a de Boston, que corri em 2023 e a de Berlim que fiz ontem. Por ser da categoria de 60/64 anos, o índice era de 4h20 para Boston; para Berlim, a mesma coisa para mulheres acima de 60 anos. Infelizmente, minha amiga Vânia Macedo, de Caruaru, que havia me convidado para as três maratonas (Porto Alegre, Boston e Berlim) não foi sorteada para esta última e acabei viajando sozinha.

Cheguei em Berlim, na quinta-feira, vindo diretamente de Recife para Lisboa, e em seguida Frankfurt até chegar na capital alemã. Não há voos diretos do Brasil para Berlim. No dia seguinte, aproveitei para pegar o kit na feira, realizada no antigo aeroporto Tempelhof. A entrega dos kits (com número de peito, alfinetes, pulseira de acesso a largada) foi bem organizada. Lá fui informada sobre a área de largada e todas as opções que havia adquirido, ou seja, massagem antes da prova, gravação da medalha e fotos da corrida.

Também havia me inscrito para acompanhar a Cerimônia de Abertura, no mesmo dia 27/09, esperando ver alguns dos recordistas mundiais como Ronaldo da Costa, porém demorei demais na expo, e não deu para assistir. Depois soube que apenas três maratonistas participaram, Paul Tergat, Tigst Assefa e Tegla Loroupe. Gostaria de ter visto Eliud Kipchoge e Haile Gebrselassie, além de Kenenisa Bekele (campeão em 2016 e 2019)!

No sábado, aproveitei para conhecer a área em torno da largada e da chegada, próximo ao enorme parque verde Tiergarten. Fui assistir a uma colega do quarto no hostel participar da inline skating com 3.400 patinadores. Os corredores (10 mil) da prova de 5 km Generali estavam chegando e ainda teve uma competição de 4,2 km para crianças com cerca de 6 mil participantes, totalizando cerca de 20 mil fora os 55 mil da maratona.

Domingo, clima ótimo

Me alimentei bem na véspera, e comprei um sanduiche e duas bananas para comer logo cedo, já que o café da manhã do hostel não estaria disponível antes da minha saída. Berlim tem um excelente sistema de transporte público subterrâneo. Acabei pegando o Underground (U) desde o aeroporto, e usei para todo o deslocamento pela cidade. É rápido e foi de graça para os corredores.

As condições no dia da corrida foram perfeitas para correr bem. Percurso plano e temperatura em torno 10ºC. Por estar acostumada com o clima do Nordeste, procurei me proteger do frio durante a hora de espera para a largada, levando a folha de alumínio que ganhei na chegada da Maratona de Boston, e que descartei logo após a saída. A largada foi dividida em 10 zonas, determinada quando informamos o nosso tempo de qualificação, que para mim foi de 4:07:16. Porém, como essa foi a minha marca há 2 anos, ajustei o meu tempo previsto para 4h30, sendo colocada na zona J. Cheguei às 9 horas e a largada seria às 10h10, mas só começamos às 10h30.


Lá pelo km 10, notei pessoas já caminhando; achei estranho, e deduzi que tinham largado nas zonas anteriores, que teoricamente foram reservadas para pessoas com tempo previsto de conclusão melhor do que o meu. Dá para entender que eles informaram tempos não realizáveis. Também a presença de portadores de deficiências, que me acompanharam durante mais de 20 km do percurso, especificamente, visual, pois os guias informavam continuamente: Blind runner coming!

Durante o percurso, não faltou apoio, semelhante ao da torcida em Boston, embora em escala menor. Houve várias bandas de música tocando para nos animar, crianças colocando a sua mão, para nos transmitir energia, e cartazes como: “Pelo menos não está no trabalho!” ou “Você pagou por isso!”, para não reclamarmos do sofrimento – eu particularmente não sofri!

Vários géis e sem sal

Me preparei para as necessidades nutricionais do corpo ao longo dos 42 km com alimentação suplementar, levando 5 géis, que tomei a cada 7 km da prova, não sentindo nenhuma fraqueza ao longo da prova, mantendo um pace igual até o km 40 entre 6 e 6:30/km, e de 7 nos dois últimos quilômetros. Não tomei nenhuma cápsula do sal, sendo que com a temperatura baixa, e o meu ritmo confortável, não transpirei durante a maratona, não sendo necessário repor sais, diferentemente do que acontece em percursos com clima quente.

Ao longo do percurso tentei ficar à frente de pacers (marcadores de ritmo) identificados como Sub 4h30, porém no km 40 eles me passaram e não consegui mais lhes acompanhar, concluindo em 4:33:37, o meu 3º melhor tempo na maratona. Das 6 completadas, 3 foram com tempos acima de 5 horas, realizadas todas no nordeste do Brasil. As minhas colocações comparadas com os totais em cada categoria foram: 37.807ª entre 54.062 corredores, 10.681ª entre 18.587 mulheres, 59ª entre 226 mulheres da categoria 65 a 69 anos. Comparada com as outras 5 maratonas que completei, foi onde menos senti cansaço.


Logo recebemos a linda medalha, que imediatamente levei para o serviço de gravação pré-pago com o meu nome e o meu tempo. Nem fui atrás do lanche pós prova, pois não estava com fome, mas com frio, pois com o fim da corrida, o meu corpo começou a tremer, embora tenhamos recebido uma folha de alumínio para nos proteger. Não demorei na área pós prova, preferindo ir para o calor do hostel.

Na segunda-feira, cansada e feliz, voltei para a área da chegada, perto do Portão de Brandenburg, para tirar fotos e participar de um Walking Tour, uma caminhada de 7 km, aprendendo um pouquinho sobre os 300 anos da cidade de Berlim, onde aconteceram tantos acontecimentos significativos da história da Europa e do mundo.


Elizabeth Szilassy é canadense, engenheira agrônoma, vindo em 1983 como voluntária trabalhar em Pernambuco e por aqui ficou, morando atualmente em Brejo da Madre de Deus. Participa de provas de pista e de rua há vários anos, obtendo inúmeras premiações em sua faixa etária. Ela está no Ranking CR 2024, com 4:54:48, tempo conseguido na Internacional de Olinda.

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