“Mi Buenos Aires querido, cuando yo te vuelva a ver, no habrá más penas ni olvido…” Nada melhor para definir a fantástica capital argentina como a melodia de Carlos Gardel. Então, o primeiro ponto, não podemos tratar a Meia-Maratona de Buenos Aires como “somente” uma prova. Há um contexto envolvido na viagem. Único. Que precisa ser sentido, não dá para descrever com palavras ou imagens. Esse “todo” que a deixa cada vez mais “brasileira”, com mais de 1.800 inscritos nesta edição e, somando a no mínimo um acompanhante em média, ao menos 3.600 brasileiros invadindo a capital porteña no último final de semana.
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Os passeios pelos bosques de Palermo, o colorido de La Boca, um trote na Reserva Ecológica na beira do Rio da Prata, a mistura do novo e antigo em Recoleta, o charme do centro que tenta evitar uma decadência que atinge as principais metrópoles mundiais, os protestos sociais contra o aperto econômico atual ou os “anos de chumbo” tão recentes e ainda marcantes, as ações pró-Malvinhas… E ainda nem entramos na gastronomia – na carne, empanadas, doce de leite em todas as formas, alfajor, o vinho, ah, o vinho, esse merecia um capítulo a parte. Volto a dizer, ir para Meia de Buenos Aires é diferente de apenas inscrever-se em uma prova…
Pela segunda vez, participei dos 21 km. Houve melhoras e pioras em relação a 2010, minha estreia lá. Hoje, a prova entrou no calendário oficial da cidade. Está amplamente divulgada, todos sabiam da corrida, o que não ocorria há dois anos. Um avanço enorme. Havia muito mais gente pelas ruas durante o percurso, com mais animação, shows, calor humano. A Expo (apesar de preços pouco convidativos) estava bem completa, maior, com diversas opções. Com cara de expo. O kit melhorou, com camisa Adidas (marca oficial da prova) muito bonita, por exemplo.
Mas a organização, inexplicavelmente, deu passos atrás. Estranho. A começar pela largada, que há dois anos contava com baias por separação de ritmo. Ao retirar o kit, você informava o tempo pretendido, recebia uma pulseira e, assim, todos, independentemente do nível técnico, corriam desde o início como pretendiam. Agora, foi uma bagunça, que chegou a ter uma caminhada até o km 1. Havia placas de marcadores de ritmo – 4:30, 4:45, 5:00, 5:15, 5:30 por exemplo, mas não baias, só no “meio do povão”. Ia um pouco e parava. Minha mulher, Mari, que terminou em 2h01, disse que perto do km 1 parou tudo e houve uma longa caminhada até voltar a correr.
A mudança do percurso (foi idêntico ao de 2011 e diferente de 2010), a meu ver, não deixou a prova mais bonita (como a organização defende) e diminuiu umas das características principais: correr somente em largas e longas avenidas, com muitas retas. Agora, passamos por ruas estreitas pelo centro (que nada acrescentam) e colocaram um vaivem na região do porto, com asfalto ruim e buracos por cerca de 4 km (que neste ano ainda contou com um vento contra).
Outra bobagem: a distribuição de bananas durante os 21 km que, jogadas ao chão, transformaram o asfalto em uma pista de esqui, um escorrega daqui, escorrega de lá, principalmente para quem vinha mais atrás, já que foram quase 15 mil inscritos e cerca de 12 mil concluintes, um recorde no país. Faltaram ainda camisas no tamanho pedido no kit, principalmente para mulheres (G).
Todos erros bobos, que podem ser corrigidos facilmente. No geral, a nota média da Meia de Buenos Aires segue muito alta.
Hidratação com água e isotônico, foi correta. Havia muitas mesas por posto. Ouvi relatos de um pouco de confusão para quem vinha atrás, mas era uma prova muito cheia mesmo.
Dizem que quando você bate o seu recorde, a prova é perfeita. Bem, acima, fiz uma análise geral. Prós e contras. Foi longe de ser perfeita. Mas bati meu recorde pessoal. Em três segundos – 1:26:32. Eu dividiria minha prova em duas. Como estava muito frio (perfeito para correr), eram duas opções: largar mais na frente ou aquecer. Preferi a segunda. Como me recuso a pular grades, por respeito a quem ali está, fiquei bem para trás. Passei o primeiro km para 5:15, o segundo para 4:20. Só nesse tempo, perdi ao menos 1min30 em relação ao ritmo entre 4:00/4:05 por km que pretendia correr.
Depois do km 2, com a “pista livre”, comecei a apertar. O máximo que podia. Lembrei de uma entrevista do Paulo Roberto de Almeida Paula ao podcast Contra-Relógio no Ar: cada prova tem uma história, temos de fazer o máximo possível naquele dia, nas circunstâncias oferecidas. Pela primeira vez, fiz split bem negativo, uma prova crescente. Percorri 19,1 km em 1:16:57, o que dá 4:01 por km. Essa é a meta para a próxima meia.
E para quem ainda não foi a Buenos Aires. Ou não correu a meia porteña, comece a programação para 2013. Não irá se arrepender.