Nos meses de abril e maio próximos, muitos corredores enfrentarão o dilema de participar ou não de meias e maratonas com datas bem próximas, ou seja, apenas uma semana geralmente. A dúvida é fruto de algumas "correntes de pensamento", que defendem várias semanas de intervalo entre provas longas, para que o organismo se recupere adequadamente. Nesse sentido, a restrição maior costuma ser nas datas entre maratonas, enquanto uma meia seguida de maratona não é algo que sofra grandes restrições.
Aliás, essa questão de proximidade parece que está caindo de vez por terra, por pressão dos corredores, e os treinadores (para os que tem) acabam tendo que concordar, apenas fazendo alguns alertas e recomendações. Esse fato fica flagrante quando se lembra que no último Desafio do Pateta, em que se corre a meia da Disney no sábado e a maratona no domingo, nada menos que 164 brasileiros (dos 724 que lá estiveram…) fizeram a dobradinha, conforme se viu na CR de fevereiro.
A revista sempre defendeu que não somente não havia problema de se correr uma maratona, após uma meia no intervalo de uma semana, como era até indicado, sendo este editor um viciado nessa sequência, tendo já corrido dessa forma por diversas vezes, com bons resultados. Igualmente comentávamos que a participação em duas maratonas seguidas, ou seja, com intervalo de uma semana, não era algo tão incrível assim, passível de trazer lesões ou de deixar o corredor esgotado pelas próximas semanas.
PARIS E LONDRES EM SEGUIDA. Nesse sentido, em 2000 resolvi fazer um "teste": correr a maratona de Paris num domingo e a de Londres no outro. Queria saber e sentir se essa sequência era viável, para então passar para os leitores. Previamente decidi que correria a primeira para valer, descansaria na semana (fiz apenas um trote de 40 minutos na quarta-feira) e entraria na prova londrina sem preocupação com o relógio, apenas para conhecê-la. E assim aconteceu. Fiz Paris para 3h28, chegando cansado, mas não "acabado"; depois em Londres corri sem qualquer preocupação com o tempo, a ponto de nem me lembrar em quanto concluí, mas acredito que tenha sido em pouco abaixo de 4 horas, em parte também por ter corrido com fome.
O importante é que corri fácil, confirmando a suposição de que duas maratonas em seguida é uma opção interessante, desde que não se tenha a ilusão de ir bem nas duas. O que explica a viabilidade dessa alternativa é que ao se terminar uma maratona, mesmo que cansado, não se perde obviamente o condicionamento conseguido depois de alguns meses de treinamento, bastando descansar entre as duas provas. Aliás, essa situação aconteceu também em 2008, mas em distâncias diferentes. Fiz a Comrades de 87 km (em subida) na África do Sul, voltei na segunda-feira e no domingo estava largando na meia da Maratona do Rio, para "relaxar". Só que ainda estava tão treinado que acabei voando na prova, mesmo porque eram "apenas" 21 km…
Agora, voltando ao tema desta matéria, vamos aos dilemas ou dobradinhas de abril e maio, que como se verá não são tão complicados assim e para muita gente são situações até favoráveis.
NO PERCURSO, 2 BOLACHAS DE CHOCOLATE
A Maratona de Londres, que fiz apenas aquela vez, entrou para minha história de corredor nem tanto pela sequência pós Paris, mas sim pela minha confusa ida para a prova. Para resumir, perdi a hora no dia, me arrumei apressado e acabei entrando no ônibus dos estrangeiros que estavam no hotel, sem tomar café da manhã. Na sacola que levei para a largada, encontrei uma banana e já fui comendo na viagem até a saída. Imaginava que chegando lá haveria algo para comer, mas só ofereciam café, água e chá.
Como não ia fazer a prova para valer, não me preocupei muito, também acreditando em um bom abastecimento no percurso. Mas só encontrava água e isotônico nos postos. Aí, lá pelo km 30, quando a fome já estava incomodando, vi uma criança na calçada com duas bolachas de chocolate na mão e me pareceu que ela estava oferecendo aos corredores. Até hoje não sei se a oferta existia ou não, só lembro que na hora não tive dúvida que era para mim que ela estava guardando as bolachas… Na chegada devorei dois sanduíches oferecidos pela organização e levei mais dois para comer até o hotel: o melhor lanche pós corrida da minha vida.