Notícias Redação 7 de novembro de 2011 (0) (91)

Meia de Buenos Aires: não tão perfeita, mas ainda querida

Muitos apostavam numa prova perfeita. Com base no que se viu o ano passado, a edição 2011 da  Meia-Maratona de Buenos Aires realmente prometia. Novo patrocinador, um número expressivo de inscritos e novamente recorde de participantes, com direito ainda a uma prova de 10 km de última hora. Considerando as duas corridas, o evento reuniu cerca de 20 mil pessoas, sendo 13 mil na meia e 7 mil na prova menor. A quantidade de brasileiros também aumentou consideravelmente em relação ao ano anterior, passando de 1,2 mil para 1,8 mil, conforme dados fornecidos pelos organizadores.

Realizada no dia 11 de setembro, a competição deste ano ainda foi válida como Campeonato Sul-Americano de Meia-Maratona, atraindo alguns dos melhores atletas da América do Sul para a disputa, entre eles Marilson Gomes dos Santos como a maior das estrelas.

Aproveitando a carona do novo patrocinador, a Claro, o evento incluiu de última hora um sistema vinculado ao chip de cronometragem, que prometia dar em tempo real as passagens dos corredores nas redes sociais, como Facebook e Twitter, tal como já acontece na Maratona de Nova York.

Com tantos pontos a favor e, agregando a isso o fato de o evento ser realizado numa cidade agradável e charmosa, a poucas horas de voo da maioria das cidades brasileiras, e ainda com clima e o percurso favoráveis a uma boa corrida, Buenos Aires parece sempre uma escolha acertada. Até porque, se a corrida não for boa, a viagem sempre valerá a pena.

 

SEM BAIAS NA LARGADA. Mas não foi o que aconteceu. A corrida, pelo menos do ponto de vista do que se esperava de uma meia-maratona de performance, esteve um pouco distante de ser considerada perfeita. E isso se viu já nos primeiros dias do evento. Depois de uma entrega de kit tumultuada, com filas enormes, em meio a muita bagunça, os prognósticos para o domingo, principalmente para quem estava ali em busca de tempo, não eram dos melhores.

Diferentemente do ano passado, quando os organizadores adotaram pela primeira vez a estratégia acertada de largada por baias, conforme o nível de performance dos corredores, a prova deste ano não levou em conta esse fato, mesmo dobrando o número de participantes, uma vez que a largada dos 10 km aconteceria simultaneamente. "Quem quisesse largar bem tratasse de chegar cedo ao local." Estas eram mais ou menos as palavras de quem perguntasse pelas pulseiras de baia e reclamasse pelo retrocesso da iniciativa.

Finalmente chegou o dia de prova. Temperatura fria, com cerca de 10 oC, como era previsto. Eram 7 horas da manhã quando aconteceu a largada, para um novo percurso, agora passando por mais pontos turísticos da cidade.

Com 20 mil corredores, por mais larga que fosse a Avenida Figueroa Alcorta, era fato que não haveria espaço suficiente para dispersão rápida dos corredores. E, se isso já não bastasse, após apenas 300 metros, a prova vira à direita e afunila, obrigando os corredores a caminhar. Depois disso, a dificuldade maior era para conseguir se desvencilhar dos mais lentos e dos paredões (corredores lado-a-lado, conversando…), que bloqueavam a passagem.

 

APERTO ATÉ O KM 3. Os brasileiros que lá estiveram foram quase unânimes em dizer que a grande dificuldade da prova foi conseguir estabelecer logo um ritmo, o que acaba sendo desanimador para quem busca performance. Mas a partir do km 3, um alívio para quem corria os 21 km, já que nesse ponto a prova se divide e o pessoal da meia pode seguir em frente sem tumulto.

Para quem já correu os outros anos, foi fácil notar que a mudança de percurso de fato ficou mais interessante, traduzindo um pouco mais da cidade de Buenos Aires, já que passa por pontos vários turísticos, como Casa Rosada, Nove de Julho, Plaza de Mayo, Teatro Colón, entre outros.

O circuito, que ainda continua rápido, ganhou algumas subidinhas e a prova hoje está um pouco distante de ser considerada totalmente plana. O atrativo do percurso é sem dúvida nenhuma o km 8, quando a competição atinge o centro da cidade e há várias bandas animando os atletas. A prova retorna a seu ponto de origem, com mais algumas subidinhas, que não oferecem muitos problemas.

Com postos de água a cada 5 km, intercalados com postos de isotônico, a reposição teria sido perfeita se a mesma tivesse sido feita em copo e não em pequenas garrafinhas de plástico, que se tornam perigosas quando jogadas ao chão. O mesmo aconteceu em dois postos de fruta, que entregaram mexerica e banana com casca, provocando vários escorregões.

 

RECORDES, APESAR DE TUDO.  Mesmo com os problemas no início de prova, muitos corredores conseguiram bater seus recordes pessoais e, com algumas ressalvas, deixaram Buenos Aires satisfeitos com a prova. Foi o caso da paulista Luciana Esteves de Oliveira, que corre há dois anos e fez em Buenos Aires sua terceira meia-maratona. Feliz com o recorde estabelecido, baixando em mais de 20 minutos do tempo anterior, a corredora adorou a prova. "Fiquei feliz da vida. No começo dei uma segurada e daí sobrou gás para o final. Nas outras duas provas, larguei forte e cheguei no final já cansada", comenta Luciana, que é administradora de empresas. Para ela, o ponto alto da prova foram as bandas no meio do percurso.

Luciana, que terminou os 21 km em 2h05, foi para Buenos Aires com um grupo de 20 pessoas, da equipe Antílope, de Alphaville (Grande SP), todos acompanhados da treinadora da equipe, a corredora e triatleta Sueli Braz, de 40 anos, que também fez a prova e sentiu a dificuldade da largada, como a maioria dos corredores, mesmo perdendo apenas 47 segundos em relação ao chip. "Achei a prova gostosa, mas tive dificuldade na largada, levei alguns empurrões e foi difícil estabelecer o ritmo, que ficou oscilando muito", conta Sueli, que tem 1h29 como recorde pessoal e terminou em Buenos Aires com 1h32. Também para ela, a parte do percurso que engloba o centro de Buenos Aires, a partir do km 8, foi o ponto mais alegre da prova, que, apesar das falhas, foi aprovada pela treinadora.

Corredora há cinco anos, a funcionária pública Denise Amaral, de 30 anos, escolheu Buenos Aires para estrear na distância. "Como sou apaixonada pela cidade e soube que a prova era bem organizada, me animei com a ideia", lembra Denise, que é de Brasília. "Achei a prova muito bem organizada e bonita. A hidratação foi bem distribuída, havia água, isotônico e frutas para todos", comenta a corredora, que levou cerca de 4 minutos para passar pelo pórtico de largada e não considerou isso prejudicial a sua prova. "Teve um empurra-empurra até passar pelo tapete, mas depois havia bastante espaço. O percurso é lindo, com exceção da parte final, ao passar por uma favela e pelo aeroporto, mas foi bom para não repetir uma parte do trajeto. Adorei as bandas de música pelo caminho." Para ela, que finalizou em 2h24, o ponto negativo da prova foi a demora e bagunça na entrega de kit.

 

KIT POBRE, MÚSICA LEGAL. Outra corredora que gostou bastante da prova foi a fisioterapeuta Marina Reis Campos Marinho, de 24 anos. Apesar de correr há pouco mais de 1 ano, Marina, que nasceu no Recife e mora no Rio, já tem quatro meias e, a exemplo de muitos, também bateu seu recorde na sua primeira experiência fora do país. Apesar de considerar a prova boa, Marina deixou Buenos Aires com a mesma sensação da maioria, o seja, que a organização deixou a desejar.

"A entrega dos kits foi uma bagunça. A feira estava muito legal, cheia de novidades, os estandes estavam ótimos, principalmente o da Adidas, mas estava tão bagunçada que algumas pessoas desistiam de ficar por lá", conta Marina, lembrando também que o kit não foi dos melhores. "Foi entregue em uma sacolinha de plástico (igual às de supermercado), não tinha nenhum atrativo e a blusa da prova não era nada bonita, além de não ter mais tamanho feminino quando fui pegar, no sábado", conta.

A largada foi um ponto negativo para Marina: "A quantidade de gente atrapalhava, pois no começo eu mal consegui correr de tanta gente, que parava para aparecer na TV. Perdi cerca de 2 minutos no começo e passei o resto da prova pensando que tinha que recuperar aquilo. Mas, passado esse tumulto inicial, a prova se tornou uma delícia. O clima ajudou muito."

A corredora, que finalizou em 1h51, também aponta as bandas no percurso como o grande fator positivo. "Lembro de ouvir Beatles no km 6, o que me trouxe à memória várias pessoas que estavam torcendo por mim naquele momento. Além disso, o percurso é muito agradável. A chegada é genial, com uma banda superanimada, arquibancada com as pessoas torcendo, tudo isso ajuda no sprint final."

O professor carioca Nelton Araújo, de 27 anos, também fez seu melhor tempo de meia em Buenos Aires. Corredor há 3 anos, a corrida entrou na sua vida para ajudar num processo de emagrecimento, em que conseguiu perder 52 kg. Com 1h24 como melhor tempo para os 21 km, conquistado este ano na meia do Rio que acontece junto com a maratona, o objetivo em Buenos Aires era baixar em 2 minutos seu tempo. E não deu outra. Nelton cruzou a linha de chegada com 1h22.

Embora o resultado tenha sido favorável e dentro da expectativa, o carioca achou pontos falhos na organização. "Foi uma decepção, pois pelo que vendiam era para ser a prova do ano, sobretudo no aspecto da interatividade com as mídias digitais. Tenho amigos corredores que ficaram no Twitter esperando as passagens. Só conseguiram me achar no site da prova e com uma demora enorme", comenta Nelton, que também não gostou da entrega do kit. "Apesar de a feira ter sido bem legal, em comparação com as que acontecem no Brasil, havia filas enormes. Levei uma hora para pegar o kit. Ao chegar para pegar o kit, perguntei sobre pulseira para saída por tempo e não havia. Logo imaginei o caos que seria a largada, como foi."

Sobre a prova em si, Nelton partilha da mesma opinião da maioria. "Tirando a entrega de kit e a largada, o resto foi muito bom. Eu voltaria a Buenos Aires com certeza. Se houver as alterações que esperamos, vai ser sem dúvida uma prova excelente. E se eu ganhar o prêmio da Contra-Relógio então, será melhor ainda", brinca Nelton, referindo-se à promoção lançada recentemente na revista, que sorteará 18 pacotes para correr na cidade, seja para a meia-maratona ou para a maratona, que acontece um mês depois.

O VOO SOLITÁRIO DE MARILSON

Se para os amadores a prova não foi tão boa quanto esperavam, aqueles que correram à frente, sem ninguém atrapalhando, classificaram a competição como perfeita. "Bem organizada, clima favorável e percurso bom para resultado", era o que diziam os atletas da elite brasileira após a prova.

Para Marilson Gomes dos Santos, a prova valia muito mais do que um título. Já na fase final de preparação para a Maratona de Chicago, dia 9 de outubro, correr os 21 km na Argentina servia também como uma avaliação do que virá pela frente. Depois de uma corrida solitária, em que liderou do começo ao fim, o brasileiro sagrou-se campeão sul-americano, finalizando a prova em 1:01:13.

No feminino, Adriana Aparecida da Silva, que se prepara em Paipa para representar o Brasil na maratona feminina do Pan, teve uma prova um pouco diferente, com várias atletas com chance de vitória pelo menos até o km 17, quando ela escapou e definiu a disputa, cruzando a linha de chegada com 1:13:16, baixando em cerca de 47 segundos seu recorde pessoal de meia-maratona (em Lisboa 2011) e sagrando-se campeã sul-americana da distânca.

Já na meia-maratona, que tinha a classificação separada do Campeonato Sul-americano, também deu dobradinha brasileira. Representante do Brasil no maratona no Pan, Jean Carlos da Silva foi o campeão da prova, com 1:04:45, chegando atrás na classificação geral apenas de Marilson. Sexta atleta a cruzar a linha de chegada, Rosângela Pereira Faria foi a campeã no feminino, com 1:15:20.

Os resultados podem ser acessados no site www.21kmbuenosaires.com

 

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