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Maratonas seguidas! Loucura ou racional? – jan 2007

Contra corrente – Tomaz Lourenço – janeiro 2007 –

Fazer duas maratonas em seguida pode parecer loucura. Com certeza vai contra o que se lê em livros, revistas, sites e o que recomendam treinadores e corredores experientes. Contudo, na prática os aspectos fisiológicos (que geralmente são os alegados pelo “entendidos” no assunto) acabam sendo muito variáveis, de pessoa para pessoa, ou melhor, de como o corredor sai da primeira de duas maratonas seguidas.

A razão para esta matéria é pela situação que muitos corredores terão em abril (e também em maio/junho) e que eu já passei, há alguns anos, no mesmo mês, aliás. Vamos aos fatos:

Em abril de 2007, muitos brasileiros estarão correndo dia 15 em Paris (ou Roterdã, ou Turim), mas por que não aproveitar e emendar com a Maratona de Londres (ou de Madri) no domingo seguinte? Outros ficarão interessados em participar da Maratona de Porto Alegre (27 de maio) e depois correr a de São Paulo (3 de junho). É loucura???

Aparentemente sim, mas só aparentemente. Em 2000 decidi experimentar essa situação de fazer duas maratonas seguidas, para aproveitar a mesma viagem à Europa. Corri Paris, para qual tinha treinado adequadamente, e completei em 3h28. Dois dias depois peguei o trem para Londres, onde apenas passeei (fiz um trote na quinta, de 40 minutos) e corri a maratona londrina numa boa, fácil, fácil, mas sem preocupação com tempo (fechei em torno de 4 horas).

A idéia de correr duas maratonas em seguida tinha a ver com os custos de uma viagem intercontinental, onde pesa bastante a parte aérea. Também estava interessado em fazer essa experiência para poder passar para os leitores eventualmente interessados em projeto semelhante. Neste ano fiz algo parecido e mais lógico, que foi correr a Meia de Praga e depois a Maratona de Roterdã, espaçadas de 8 dias, situação bastante interessante, pois já tenho o hábito (de vários anos) de fazer uns 15 a 21 km meio fortes na semana anterior da maratona, como teste final, e depois descanso e trotes na semana da prova.

Treinamento permanece

O que constatei na prática é que, passados 2 ou 3 dias, as dores da maratona já foram embora e a sensação é de se estar em grande forma ainda, para outra. Não é para menos, já que uma preparação bem feita para uma maratona não pode ter seus efeitos desaparecidos de uma hora para outra.

No mês passado, nesta seção, comentei a respeito de ter corrido a Maratona de Blumenau, tendo “treinado” apenas 30 km, dois sábados antes, e no seguinte 21 km. Fiz a prova em 4h19 não esgotado, a ponto de correr os 10 Km da Nike, no domingo seguinte (dia 12/11) muito bem, em 51:12. Ou seja, se a pessoa completa uma maratona sem chegar ao seu limite, ela vai constatar na prática que tem condições de correr outra em seguida ou duas semanas depois, sem problemas.

Aliás, muitos são os casos de atletas de elite que correm bem uma maratona e 1 ou 2 semanas depois fazem outra, por vezes até melhor. Um exemplo recente foi o de Márcia Narloch, que conseguiu um grande resultado em Berlim, dia 24 de setembro (5º lugar – 2:35:28), e três semanas depois ganhou fácil a Meia da Praia Grande.

Porto Alegre e São Paulo: 1 semana

Além daquelas situações de abril, em maio/junho os maratonistas brasileiros terão novamente um intervalo de apenas 1 semana entre Porto Alegre e São Paulo, e depois 3 semanas até a do Rio, dia 24. Isto também aconteceu no ano passado, com as maratonas de Blumenau e de Curitiba, dia 5 e 26 de novembro, sendo que ¼ dos que fizeram Blumenau estiveram na capital paranaense, a maior parte corredores competitivos, que alcançam pódio nas categorias.

O estímulo para essa dupla participação é sem dúvida a premiação em dinheiro (no geral e nas faixas etárias), mas não deixa de ser um referencial que vai contra as teorias do grande espaçamento que se deve dar entre maratonas, que valem principalmente para os atletas de elite (que correm no limite) e que, equivocadamente, são transferidas para os corredores amadores.

No Uruguai, duas boas opções

Muitos paulistas vão correr a Meia-Maratona da Corpore, dia 8/4, e depois participar da Maratona de Paris, no domingo seguinte. É uma ótima combinação, apesar de várias pessoas acharem que é muito em cima.

Para quem não conseguiu inscrição e/ou não quer gastar muito dinheiro (e tempo) para correr na capital francesa, uma opção interessante e ainda praticamente desconhecida pelos brasileiros é participar da 4ª Meia-Maratona de Punta del Este, no Uruguai, dia 15/4. No ano passado estivemos lá e o que vimos foi uma prova simples, mas bem organizada, com água no percurso, trânsito controlado, atendimento médico, um percurso belíssimo e absolutamente plano, favorável a rápidos resultados, ainda mais que a temperatura costuma ser amena/fria nessa época (ver CR junho 2006).

A outra excelente opção no Uruguai acontece dia 20 de maio, com a segunda edição da Maratona de Colônia de Sacramento, também motivo de matéria na CR, na edição de setembro, de autoria de nosso assinante uruguaio Gustavo Taran.

Naquela cobertura da Meia de Punta, informamos que provavelmente haveria também maratona em 2007, mas chegou-se a um acordo entre os organizadores de Punta e Colônia que a cada ano uma dessas cidades turísticas uruguaias fará maratona e a outra meia. Assim, este ano será Meia de Punta e Maratona de Colônia, o inverso em 2008 e assim por diante.

Voltando ao tema desta matéria, corredores uruguaios (e muitos brasileiros) estarão então passando pela situação de fazer duas maratonas em seguida (Colônia e Porto Alegre). Para os primeiros, sempre presentes em grande número na capital gaúcha, uma experiência diferente e que muito provavelmente será sentida também por brasileiros interessados em fazer uma maratona oficial no exterior, sem ter que desembolsar muito dinheiro.

A revista deverá estar no Uruguai para reportagem e participar das duas provas (como parte dos treinos do editor com vistas à Comrades, na África do Sul, em junho; ver matéria nesta edição).

Haile, 2 maratonas rápidas espaçadas de 10 semanas

De certa forma endossando o que apresentamos nesta matéria, o etíope Haile Gebrselassie correu e venceu com excelentes tempos a Maratona de Berlim e de Fukuoka. Dia 26 de setembro ele fez o melhor resultado do ano na capital alemã, 2:05:56, e dia 3 de dezembro Haile ganhou fácil na cidade japonesa em 2:06:52. Apenas 10 semanas de intervalo, contrariando o que sempre se fala em termos de atletas de elite, que devem fazer no máximo duas maratonas por ano, uma no primeiro e outra no segundo semestre.

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