Maratona é um eterno aprendizado. Em Punta del Este, foi mais um

O diferencial de uma maratona para as outras distâncias menores é que, por mais que você se prepare, sempre pode haver surpresas. Positivas e negativas. É algo implícito nos 42,195 km. Na Contra-Relógio deste mês, fiz uma entrevista com o Luiz Celso de Medeiros, que completou a 100ª maratona no Rio de Janeiro em julho. Com um detalhe: todas “para valer”. Medeiros me disse, com a propriedade de 4.219,5 km percorridos só nessas 100 provas, que uma maratona é diferente da outra, um constante aprendizado. Eu, humildemente, com minhas quatro maratonas completadas, vou comprovando isso na prática. Foi a lição que aprendi em Punta del Este, onde estive no último final de semana.

Leg: Chegada na Maratona de Punta del Este - 3:09:34 (18º colocado no geral e 5º na categoria)

Em meados de janeiro, comecei a parceria com o técnico Marcos Paulo Reis, com o objetivo de correr principalmente a Maratona de Buenos Aires, em outubro. Antes, faríamos a de Porto Alegre, em maio. Como já tinha ido para a Argentina no ano passado (corri a meia), troquei de maratona: Punta del Este seria o destino, após ouvir os comentários sobre a prova do amigo e companheiro de trabalho, treinos e blogs, Sérgio Rocha, do Corredólatra aqui ao lado.

Em Porto Alegre, obtive meu recorde pessoal na distância: 3:09:28. Baixando dos 3h27 que tinha feito em Curitiba, em novembro de 2010, na segunda participação nos 42 km. E segui os treinamentos para Punta. A separação entre as duas maratonas, de quatro meses, não seria o ideal (“longe disso”, me alertou o Marcos Paulo. Mas a preparação foi feita tranquilamente, cumprindo todas as planilhas e melhorando meus ritmos. Tanto que, nesse período, fiz meu recorde nos 21 km, com 1:29:16 na Golden Four Asics Belo Horizonte, mesmo tendo corrido para ritmo. Ou seja, não tenho do que reclamar.

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Tinha um sonho de buscar um sub 3h em Punta, mas, como afirmei acima, maratonas são maratonas. No sábado, com a mudança do tempo e o vento fortíssimo no litoral uruguaio, já sabia que seria difícil manter o ritmo constante de 4:13/4:14 por km. Andando pela orla quase saí voando! Na manhã do domingo, no café da manhã, tomei a decisão: tinha treinado, estava pronto, por que não arriscar? E foi o que fiz. Não aliviei. Arrisquei. Poderia ter sido mais cauteloso e corrido com segurança? Sim. Talvez, o tempo seria mais baixo, mas faz parte arriscar.

Larguei mantendo um ritmo forte, o previsto com o Marcos Paulo. A partir do km 6, tive a companhia de um uruguaio, o Juan Carlos. Como Punta tem relativamente poucos inscritos (foram 352 concluintes na maratona), você corre muito, mas muito tempo completamente sozinho. Seja na prova como na rua, devido à pouca presença de gente já que é inverno e, como um balneário, a cidade está vazia. Então, o parceiro ajudou e muito. Revezamos quem ia na frente e ficava “de cara para o vento”. Do km 14 até por volta do 28, há subidas constantes na prova. Com vento contra, em regiões repletas de casas bonitas e árvores, com partes bem sinuosas.

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Passei a meia-maratona dentro do programado, 1h29. E segui assim até por volta do km 25. Nesse ponto, tínhamos alcançado outro uruguaio e um americano. O Juan Carlos, como estava “sobrando” tinha ido mais para frente. Meu ritmo caiu um pouco. Porém, o problema foi entre o km 29 e o 34, quando voltamos ao litoral e pegamos uma ventania no rosto. Confesso que, aí, perdi a cabeça. Desconcentrei, fiquei irritado com o vento, não sabia se forçava para passar logo por esse trecho, se reduzia… Foram, ao menos, uns quatro minutos perdidos nesses pouco mais de cinco quilômetros. Depois, a partir do km 35, consegui correr, fechando a prova em 3:09:34, em 18º no geral e 5º na categoria (1h39 na segunda meia). Seis segundos a mais do que em Porto Alegre (no km 30, para ajudar, derrubei o gel e a garrafa de água no chão, voltei para pegar… segundos perdidos da marca pessoal!).

Valeu muito à pena a experiência. Foi um grande aprendizado. O interessante foi que considero a prova de Porto Alegre bem mais propícia para tempo, mesmo com o calor (é mais rápida), então, senti que evoluí de uma maratona para a outra. Além disso, mesmo tendo feito muito mais força no Uruguai, estou com a perna inteira, sem dores, numa recuperação que até me surpreendeu. Em Porto Alegre, por quatro dias, doía tudo, principalmente a panturrilha.

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Falando da prova, a Maratona de Punta del Este tem tudo para crescer. A prova é bem estruturada e o que é melhor, os organizadores aceitam críticas e sugestões. E querem crescer. Conversei com algumas pessoas que tinham já corrido a prova e todos foram unânimes: há evolução ano após ano. Em 2011, o percurso sofreu algumas modificações por causa das obras de saneamento básico – em 2012, a expectativa é de que retorne ao trajeto do ano passado. Um ponto importante: como a cidade esvazia no inverno, há muitos restaurantes e bares fechados. A organização promete, para o próximo ano, firmar algumas parcerias na área gastronômica. O que será bem-vindo. Por outro lado, os preços de hotéis são bem mais baixos. Quem pretende ir, vale à pena, porém, um lembrete: para comer, os preços são semelhantes aos de uma cidade litorânea no Brasil.

Quanto às marcas pessoais, quanto mais rápido você treinar para correr, mais dependerá da vontade do vento de Punta del Este. E o passeio é muito bom (as fotos “falam” mais do que palavras).

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