POR DENISE AMARAL
Sempre escutamos que nos Estados Unidos tem muitas provas. As estatísticas mostram que são mais de 1.100 maratonas e 2.800 meias maratonas por ano. E, embora utilizem a métrica por milhas (1,6 km), o número de provas de 5 e 10 km é surpreendente. Então, fui pesquisar, já que iríamos visitar a filha e os netos do meu marido, Luiz Antonio, que moram no Kansas. E, para minha alegria, encontrei uma maratona em Overland Park, KS, exatamente nos dias que estaríamos lá.
Logo que chegamos, fomos fazer um treininho na rua e, após 3 km, voltei urgente para a casa, pois não aguentei o vento e a baixa temperatura. Como havia corrido a Maratona de Nova York com surpreendentes 24º de temperatura, o choque térmico me fez passar os dias seguintes dizendo que não participaria da maratona de Overland Park se a temperatura estivesse baixa.
Embora já tenha corrido muitas maratonas, não tenho nenhum problema em repensar minha participação numa prova, pois meu objetivo é sempre a diversão. Mas, ainda sim, fui pegar o kit da prova.
Coloquei a fantasia de corredora, como sempre, com o lindo casaco da Maratona de Berlim 2022, especialmente escolhido por ser uma prova europeia para chamar mais atenção aqui na terra do Tio Sam na retirada do kit.
Como a maioria das provas, sem considerar as megas maratonas americanas, a entrega de kit ocorre numa loja de esporte. Na fila por tipo de prova, bastava informar o seu nome, sem apresentar qualquer documento, para retirar a camiseta e o número, que era atribuído no sistema de cronometragem neste momento. As provas tinham chip e a maratona qualificava para a maratona de Boston.
Ao receber a bonita camiseta da maratona, estranhei, já que esta tinha um capuz, algo que nunca havia visto!
Em seguida, um senhor americano se aproximou e disse que também havia corrido a Maratona de Berlim esse ano (Oba! A escolha do casaco deu certo!). Mencionamos que éramos do Brasil e ele disse que já havia corrido a Maratona de Porto Alegre. E, logo em seguida, perguntou quantas maratonas eu já havia completado. Ah! Toda metida, disse que essa seria minha maratona 164.
Com 74 anos, Steve Fuller foi o primeiro americano a completar uma maratona em cada um dos 50 Estados americanos, em 1986, ganhando uma medalha especial (50 States Marathon Club), honraria também conquistada pelo querido Nilson Lima, de Uberlândia. E que, além de ter corrido em todos os continentes, já havia completado mais de 250 maratonas!
É impressionante como os loucos se atraem e logo estávamos combinando encontro na largada, correr juntos… Meu marido olhou espantado, pois passei a semana dizendo que não deveria correr por causa do frio intenso! Nunca confie na promessa de um maratonista!
A largada das provas (42, 21, 10 e 5 km) seria em conjunto e às 7h30. Ao acordar, o celular mostrava a temperatura: menos 6 graus! Vesti minha já tradicional capa de chuva de motoboy entregador do IFood, além de 2 outras camisetas sob a camiseta dos Majors Brasil, luva, gorro e buff. Fui para largada com o lindo e quentinho poncho entregue na chegada da Maratona de Nova York, que corri 2 semanas antes, mas que nem foi usado pelo calor.
O percurso dava 2 voltas de 5 km por uma área de edifícios comerciais e os corredores dos 42 e dos 21 km seguiam, após, por uma trilha asfaltada muito utilizada pelos moradores locais para caminhadas, treinos de corrida e bicicleta e como atalho para crianças a partir de 7 anos de idade que seguem sozinhas para suas escolas.
A trilha, cercada por árvores, a maioria sem folhas devido ao outono, margeava um riacho, que eu tentava não olhar, pois as placas de gelo no seu curso e no seu leito relembravam que a temperatura estava abaixo de zero!
Embora com apenas 200 e 500 corredores na maratona e meia maratona, respectivamente, tínhamos corredores Pacers para ajudar a concluir a meia maratona dentro de 1h30 a 3 horas e a maratona de 3 a 6 horas, com intervalos a cada 15 minutos.
Os postos de água e Gatorade contavam com gentis voluntários, gel carboidrato, chocolate e a trilha tinha setas pintadas no chão que mostravam o caminho, fundamentais, já que segui longos trechos sozinha e sem ver qualquer corredor à minha frente, exceto alguns alces e esquilos que cruzavam a pista.
Só descartei minha capa de chuva de motoboy do IFood no km 28, quando o sol aqueceu a temperatura para magníficos 2 graus positivos.
Na chegada, meu marido Luiz Antonio, como sempre, já havia conversado com várias pessoas de organização e contado sobre as 3 medalhas das World Marathon Majors, sobre a maratona 164 … Renata, minha enteada, tinha um lindo cartaz mensagem, os nomes e as mãozinhas dos netinhos para saudar a minha chegada. Encantador!
Apesar do frio, foi muito legal a oportunidade de conhecer como é realizada a maioria das provas nos Estados Unidos, já que poucas destas 1.100 maratonas tem mais de 3.000 maratonistas.
Se viajar para os Estados Unidos, não deixe de pesquisar os inúmeros sites, sendo os principais, www.ahotu.com e www.runningintheusa.com.
Ah, sabe aquela diferente camiseta da prova com capuz? No percurso descobri que esta servia para proteger o pescoço e a cabeça do friozinho gostoso do dia! Adorei!