As corridas têm uma estreita relação com algumas datas do meu casamento. Não que corremos juntos, eu e minha esposa, mas coincidentemente (ou não) algumas datas foram marcadas por desafios em distâncias que antes eu não havia percorrido. Em setembro de 2008, um dia após pedir minha esposa em casamento, viajamos para Buenos Aires onde corri uma prazerosa meia maratona, tudo programado conforme as orientações da Contra-Relógio.
Agora em 2014, planejamos uma viagem à Itália. Chegaríamos em Veneza, percorreríamos a Toscana e finalizaríamos em Roma. Compradas as passagens e programado o roteiro, fui procurar algum show ou festa interessante para podermos aproveitar ainda mais o passeio. O único evento na data seria a Maratona de Veneza, dia 28 de outubro, meu aniversário de 37 anos!
Meu primeiro pensamento foi: será que consigo estrear nos 42 km? Mas depois de alguns dias resolvi dar uma espiada em algumas planilhas na CR e buscar orientação via email com um profissional da área. Isto foi em janeiro.
Em maio, depois de muita reflexão, resolvi concretizar o sonho de me tornar um maratonista! Busquei ajuda com um profissional experiente em treinar alunos para maratona, que lia eventualmente seus artigos escritos na revista. Logo arrumei uma companheira neste objetivo; minha cunhada, que adora corrida, também resolveu encarar os 42 km. Treinos árduos, mas que rapidamente se tornavam compensadores com a boa evolução.
Cheguei em Veneza na sexta e a maratona seria no domingo. A vontade de conhecer a bela cidade e aproveitar a viagem se contrapunha ao grande desafio que tinha no domingo. Será que vou conseguir terminar? Pensamento recorrente durante todo o período de treino.
A Maratona de Veneza reúne cerca de 7 mil corredores e a inscrição é feita facilmente pelo site. Chegado o dia, o clima estava ótimo: temperatura de 15 graus e céu aberto. O ambiente pré maratona é diferente de todas as meias e outras provas que já havia feito. Um ar um pouco mais sério, uma alegria contida no rosto dos participantes. Acredito que todos estavam preocupados em realizar o objetivo proposto na maratona, alguns finalizar em um bom tempo e outros, como eu, apenas em terminar, não importando o resultado.

PAISAGEM DESLUMBRANTE. A largada foi em Stra, cidade onde os nobres venezianos construíam suas casas de veraneio. Minhas dúvidas de qual o motivo levavam os nobres a saírem de uma cidade litorânea tão bela como Veneza, para descansar em uma cidade interiorana, foi rapidamente esclarecida após o início da maratona. Uma paisagem deslumbrante; construções encantadoras!
Os primeiros quilômetros rapidamente se passaram sem que percebesse, tamanha admiração pela beleza que circundava o percurso. Nos primeiros 20 km, a cada 3 a 4 km uma banda de rock local botava mais ânimo na corrida. Mais de 20 bandas tocando durante todo o percurso. Minha cunhada se entusiasmou tanto com uma banda que tocava Highway to hell do AC/DC, que resolveu acelerar. Como estava muito receoso, resolvi permanecer no ritmo programado, apesar de também ficar empolgado com a música.
No decorrer da corrida, fui controlando o ritmo com a admiração da beleza do caminho. Nos 7 km finais, quando o cansaço aumenta cada vez mais, chegamos em Veneza. Após avistar a cidade ganhei energia extra para percorrer as ruas e atravessar os canais através das pontes cobertas com compensados de madeira, para os corredores não terem que subir e descer as escadas.
Alcançamos a praça São Marcos, por uma passarela que atravessa o Grande Canal. Uma maravilha poder olhar a cidade daquele ângulo. Após uma volta na praça sob muitos gritos e aplausos, vi a chegada. Uma emoção indescritível; o cansaço desapareceu e o sentimento de missão cumprida rapidamente se transformou em euforia.
A tardezinha, quando já estava na estação de trem para seguir em direção a Florença, muitos corredores, de banho tomado e já vestidos com roupa de frio, exibiam no peito a medalha de finalização da maratona. Orgulho perfeitamente explicável…

Tiago Fagundes é assinante de Itaúna, MG