Tenho lido que Vancouver está entre as cinco cidades com melhor qualidade de vida. Pessoalmente, acho que uma das maneiras de conferir isto é correndo uma maratona. Fui lá conferir dia 1º de maio.
Chegar a Vancouver já foi uma maratona. De Brasília até lá, entre tempo de voo e duas escalas, foram 37 horas de viagem e um fuso horário de 5 horas. A cidade é bastante fácil para se locomover. É possível visitar a pé quase todos os pontos turísticos. Tem muito verde, muitos parques e são várias as opções de comida, por preços relativamente em conta.
Esta foi a 45ª edição da Maratona Internacional de Vancouver. Além dos 42 km, tem-se simultaneamente um revezamento, uma meia e uma corrida de 8 km. As de maior distância saem do mesmo local – Queen Elizabeth Park – e chegam no mesmo local – Canada Convencion Center, em downtown (a meia faz percurso distinto). Uma prova não interfere na outra, não tem bagunça nem confusão. Segundo a organização, no total são 16 mil corredores inscritos para todas as distâncias.
O valor da inscrição foi de 100 dólares canadenses, aos quais se adiciona mais 50 de outras taxas e imposto e tem-se a inscrição por 150 dólares canadenses, o que em reais equivalia em janeiro a R$ 450. Em compensação, hotéis conveniados dão desconto de 50% na diária para os inscritos.
O local da entrega do kit, o Canadá Convencion Center, é de fácil acesso. Espaço amplo, tem boa feira de vestuário e nutrição esportiva. Muitos dos vendedores são varejistas locais; marcas internacionais com estande de venda somente a da patrocinadora. O kit em si é uma sacolinha manjada, uma camiseta básica e meia dúzia de amostras de barras de cereais e hidratantes.
Chegar na largada é super fácil e simples, o trem não demora 20 minutos. Também da chegada da prova para os hotéis de downtown é bem perto, vai-se andando.
Durante a semana a temperatura esteve entre 8º e 14Cº, nublado e até chuva. Mas dia de prova é outra coisa. Amanheceu de céu completamente aberto, sol à mostra e temperatura de 14º com previsão de chegar a 24º.
A concentração para a largada no Queen Elizabeth Park é bem tranquila. O parque é amplo e a estrutura oferece boa comodidade para a espera até a hora da largada – às 8h30 – com postos médicos, água e centenas de banheiros químicos. No percurso, água a cada 3 km, isotônicos a cada 5 km. Problema: os pontos de hidratação são péssimos, em cima da pista, e curtos, uma confusão. E mais, a quantidade de água no copinho é de meros 50 ml, insuficiente para mim.
MUITAS SUBIDAS E CURVAS. A prova começa e ao final do primeiro km já dá para saber que bicho virá: trechos íngremes com curvas longas sucessivas. Vai-se nessa toada – aclive e curvas – até o km 9. Neste ponto uma subida íngreme de verdade, longa que só termina no km 11. O que termina é a subida íngreme, porque até o km 20 continua a interminável sucessão de sobe e desce, com suas curvas abertas. Do km 20 ao 22 uma forte descida nos leva à beira mar e é preciso cuidado para não cair e se machucar.
Embora o sol esteja aberto, e forte, do km 9 ao 22 corremos dentro de um parque. Isso permite que a temperatura não incomode. Do km 26 ao 29 deixamos a praia e voltamos aos sobe e desce até que … do km 29 ao 30 para atravessar uma ponte, outra baita subida íngreme. No km 32, de novo na orla, contornamos o Stanley Park. Aqui o trajeto é praticamente plano, mas como nem tudo é perfeito, o percurso é um verdadeiro zique-zaque, não tem 200 metros em linha reta, o que exige muita concentração, pois dá para ficar tonto.
Nestes últimos 10 km não tem sombra e o sol castiga um bocado. E só para não esquecermos que estamos na maratona de Vancouver, os últimos 2 km que levam a linha de chegada são em subida!
O percurso passa longe do centro da cidade, basicamente em meio a dois parques e beira mar. Ao longo da prova têm-se muito poucas pessoas torcendo, mas por causa do revezamento, tem sempre corredores por perto. Torcida mesmo pra valer só nos 2 km finais.
MARCA BOA NO FINAL. Creio ter sido esta a maratona mais surpreendente da minha vida. Antes da largada, imaginando o calor previsto e a altimetria, eu não tinha muita expectativa. Quando terminei o primeiro km e constatei aquelas subidas em curvas abertas e longas, calculei que terminaria em torno de 5 horas. Não me pergunte como, mas passei os 10 km com 56 minutos. Nos outros 10 km, que não foram mais fáceis, consegui ser mais rápido e completei a meia em menos de 2 horas. Do km 22 em diante consegui manter o ritmo. A velocidade só foi caindo mesmo depois do km 35. Mas aí só faltavam 7 km. Completei em 4h11. Comparado com o tempo do vencedor, e mesmo com meu histórico, fui muito bem.
A única explicação que tenho para este feito é que desta vez não tive medo das subidas. Fiz vista grossa para todas elas, e mandei ver. Alguém já disse: maratona é também um exercício mental.
O vencedor foi o queniano Daniel Kipkoech, com 2:21:04; no feminino, vitória da norte-americana Hirut Guangul com 2:39:52. A prova em 2017 será no dia 7 de maio; mais informações e inscrições em www.bmovanmarathon.ca
Carlyle Vilarinho é assinante de Brasília