Quase todos sonham em correr uma Major. Não só pela grandiosidade do evento, mas também pelas condições que estas proporcionam em alcançar o tão esperado recorde pessoal. Só que, se olharmos de forma mais ampla, podemos nos surpreender com maratonas com nível de excelência igual e em lugares que saem do senso comum. Um exemplo claro dessa situação é a Maratona de Sevilha, que ocorreu no último dia 19 de fevereiro.
Aproveitando uma promoção aérea para Espanha e lendo o guia de provas na Espanha, feito pelo André Savazoni para a Contra-Relogio de setembro, encontrei a prova espanhola, que possui o selo prata da IAAF e se autodenomina "A maratona mais plana da Europa", e que já está na sua 33ª edição. O valor da inscrição era bem razoável comparada as Majors: 65 euros. E havia a possibilidade também de se inscrever como voluntário, uma prática que bem poderia ser incentivada por aqui.
Situada na Comunidade Autônoma da Andaluzia, Sevilha é culturalmente riquíssima e o inscrito na prova não precisaria bater perna para conhecer os principais pontos da cidade, pois o percurso da maratona contempla boa parte deles, tais como o complexo palaciano Reales Alcázares, a principal catedral da cidade – Giralda e a conhecida Plaza de España, cujos arredores são mundialmente conhecidos por terem sido utilizados como locação nas gravações do filme Star Wars II. Mesmo com toda essa diversidade cultural – e ainda mais por ser o principal palco da dança flamenca – a cidade ainda possui um ar bem diferente das grandes capitais mundiais, sendo tão acolhedora quanto um pequeno vilarejo.
CORTA-VENTO NO KIT. A expo, no dia anterior, não perde em nada para as Majors. Bem ampla, tinha opções de compra para todos os gostos. Ao invés de camisa, eram entregues no kit casacos do tipo corta-vento. E ainda ofereciam gratuitamente um almoço farto e caprichado aos mais de 13 mil inscritos. Ao procurarmos pela organização para saber mais informações e nos apresentarmos como brasileiros, eles foram muito amáveis.
Principalmente por uma boa lembrança afetiva: na edição de 1991, Laurênio Bezerra bateu o recorde do percurso e, em 2016, mesmo com resultados medianos, os brasileiros Edson Amaro dos Santos, Rosângela Faria e Marily dos Santos estiveram presentes na competição, visando ao índice olímpico. Também nos foi dito que o principal objetivo da prova, que tem patrocínio da New Balance e de uma grande empresa de seguros, é elevar a prova ao selo ouro da IAAF já em 2018.
Tudo dava indícios de que seria uma excelente prova, o que se confirmou a partir das 8h30 do domingo, dia 19. A temperatura era quase perfeita, variando entre 11 e 13 graus. Os atletas largavam na parte externa do Estádio Olímpico de La Cartuja, construído em 1999 para o Mundial de Atletismo do mesmo ano. O primeiro trecho é em uma avenida larga e extensa, permitindo uma dispersão sem maiores problemas. Os postos de hidratação estavam a cada 2,5 km, e a partir do km 25 eram distribuídas esponjas e frutas. E o percurso cumpre o que promete: poucas curvas acentuadas, com exceção da rotatória por dentro da Plaza de España. A variação altimétrica é irrisória.
Para a carioca Juliana Gomes, que fez a prova como parte do treinamento para sua primeira ultramaratona, a Two Oceans de 56 km (dia 15 deste mês na Cidade do Cabo – África do Sul), a prova "só tinha uma pequena subida na ponte do km 40 para dar ‘dignidade' ao percurso". Mesmo não treinando especificamente para a maratona, Juliana conseguiu sua segunda melhor marca nos 42 km. Os últimos 300 metros são dentro do Estádio, na pista olímpica. Parentes e amigos enchiam as arquibancadas e era impossível não se emocionar no último sprint.
ELITE RÁPIDA. Quem acompanhou pela TV, que transmitiu a competição da elite sem cortes, assistiu a dois grandes feitos. No masculino, o queniano Erik Titus, que tinha no currículo apenas uma única maratona com o tempo de 2h15, se destacou no km 35 dos favoritos (o etíope Tariku Kebede e o queniano Kipkemboi Kipsang) e venceu em 2:07:43, batendo o recorde do percurso em quase 1 minuto e o seu pessoal em mais de 8 minutos.
O feminino teve contornos mais dramáticos. Embora vencedora da edição de 2016, a espanhola Paula González parecia que não teria forças para superar a queniana Pauline Wangui, que liderava soberanamente a prova, mais de 200 metros à sua frente. Quando tudo já indicava a vitória de Pauline, a partir do km 30 a espanhola conseguiu uma reação espetacular e no km 37 alcançou a queniana, que não esboçou reação, chegando quase dois minutos atrás de espanhola, que conquistou o bicampeonato com o tempo de 2:28:54, para delírio dos espectadores no estádio. Completaram 10.700 inscritos.
Bom custo benefício, percurso excelente, temperatura perfeita: Sevilha é ótima opção para aqueles que querem ampliar seu repertório de maratonas. As inscrições para a edição de 2018 estão previstas para abrir a partir deste mês. Para maiores informações, o site é www.zurichmaratonsevilla.es.