Fiz a minha inscrição na Maratona de Santiago, no Chile, e logo em seguida ocorreu o maior terremoto registrado na América, seguido por ondas gigantes ainda mais devastadoras que assolou este lindo e organizado país. Duas semanas após a tragédia, busquei informações no site da prova e fiquei emocionada com a iniciativa dos organizadores e patrocinadores em usar o evento para demonstrar a força de um povo que já sofreu com este mesmo infortúnio e com as mazelas dos períodos de repressão.
Seriam distribuídas camisetas nas cores vermelha, aos corredores de 10 km, branca aos corredores de 21 km e azul aos maratonistas para formar uma enorme bandeira do Chile na largada da prova, tendo os mais de 20 mil corredores como protagonistas deste momento histórico e de orgulho, como diziam.
Achei muito interessante e bonita a idéia. Entretanto, um corredor chileno usou o blog da prova para expressar a sua opinião, criticando os patrocinadores e organizadores por incentivar os corredores a usar esta "polera", como chamam as camisetas por lá, já que é sabido que não se deve usar roupas novas no dia da prova. O que se viu em seguida foi uma enxurrada de manifestações no blog da prova sobre este tema.
E o pobre corredor acabou se rendendo e postando uma nova mensagem, aceitando a sugestão de muitos em usar a camiseta alvo de tantas manifestações apenas na largada, deixando-a com algum amigo ou usando qualquer outra da mesma cor, só que já usada, para que a foto com a bandeira humana não fosse afetada.
A feira da maratona, na antiga estação de trem e atual centro cultural Estación Mapocho, era organizada, mas com poucas atrações, tais como uma lojinha com produtos da prova e alguns estandes de fabricantes de roupa esportiva e energético. No kit, uma "polera" de muito bom gosto nas cores informadas e uma simpática sacolinha. Pude constatar então que a maratona tinha apenas 2.400 inscritos, sendo pouco mais de 10 mil corredores nos 10 km e 8 mil na meia.
Fiquei triste, pois para uma maratonista lentinha como eu, já saberia que seguiria solitária por longos trechos. Mas, todas as manifestações dos organizadores, no blog, nos cartazes me deixavam ansiosa para o grande dia. Bem próximo à feira da maratona pegamos aqueles ônibus de turismo de dois andares, sendo uma excelente oportunidade para conhecer a cidade e parte do trajeto sem cansar as pernas.
A CONTAGIANTE BANDEIRA NA LARGADA. Domingo, 11 de abril, com uma temperatura agradável de 14°C segui, junto com meu marido Luiz Antonio e os amigos Felipe e Alfredo Saraiva, para as cercanias do Palácio de la Moneda, sede da Presidência. Todos vestiam orgulhosos suas camisetas. O chamado tinha sido atendido! Até os muitos brasileiros que encontrei por lá, como o Rodolfo Lucena e a Sylvia Carvalho, de Brasília e seus colegas da equipe Lo-Rã, estavam com a camiseta da prova, ou como eu, que usei-a no momento da largada e depois a substitui pela camiseta do Brasil.
Os gritos de "Chi-Chi-Chi, Le-Le-le, Fuerza Chile" na largada já emocionava. Os maratonistas largaram na frente, sendo alcançados em seguida pelos meio maratonistas que tiveram a sua largada minutos depois. Apos 11 km de prova, seguimos por ruas diferentes. Os corredores de 10 km foram por outro percurso. O trajeto por algumas ruas arborizadas nos mostra alguns prédios com rachaduras, o Estadio Nacional fechado para reformas, staff com colete e bandeiras fosforecentes e policiais ajudando a controlar eficientemente o trânsito.
Encontramos poucos espectadores, mas estes valiam por muitos. Carinhosamente diziam: gracias por venir ao Chile, gracias por participar! Ao passar por algum espectador com a bandeira do Chile, todos os corredores batiam palmas e gritavam Fuerza Chile! Distribuicão de água e isotônicos em todos os postos era feita por staff com luvas e máscaras higiênicas, 2 pontos de distribuição de gel carboidrato e bananas.
Os quilômetros iniciais apresentam uma muito leve e constante inclinacão até o km 21, seguido de uma agradavel e suave descida até o km 25. Algumas poucas outras inclinações e mais descidas, que embora imperceptiveis, são um verdadeiro alento para os últimos quilômetros da maratona. Na chegada, uma área com carpete para alongamento e para aguardar a premiacão.
Volto da maratona de Santiago com uma excelente impressão. A prova é uma ótima opção para grupos de corridas, familiares e amigos. Com 10, 21 e 42 km encontramos distâncias para todos. Também é uma ótima oportunidade para passear e para aqueles que ainda não encararam uma maratona por não saber o que encontrarão após os 21 km. Bem, em Santiago, encontrarão uma doce e suave ladeira abaixo…
SÓ FALTOU O CACHORRO QUENTE
por Carlos Hideaki
Participei, pela segunda vez, da Maratona de Santiago, que desde a minha estréia nesta prova, em 2008, já a considerava uma das melhores maratonas da América do Sul, graças à melhora acentuada que teve depois que a Adidas assumiu a organização.
A prova tem início no Palácio de la Moneda, e após uma curta descida, os atletas enfrentam uma longa, porém suave subida. Posteriormente, predomina a descida. Um percurso que favorece quem já o conhece, possibilitando bons resultados para quem souber se poupar no começo. Santiago é uma cidade caracterizada pela poluição, por causa das Cordilheiras dos Andes, que dificulta a dispersão do ar. Muitos dos brasileiros presents reclamaram, mas eu, sendo paulistano, não me incomodei muito.
A hidratação melhorou, oferecendo água e Gatorade a cada 5 km até os 15 km, e posteriormente, a cada 3 km. Distribuídos em copinhos descartáveis, o que os brasileiros não estão acostumados, mas os staffs usavam máscaras como um cuidado de higiene. Gel de carboidrato em dois pontos, e algumas bandas espalhadas pelo percurso. Apenas senti falta da distribuição de vienesas (cachorro quente – lanche típico de Santiago) durante o percurso, como havia na edição de 2008.
Participação recorde de 20 mil atletas somando todas as modalidades, sendo mais de 1000 estrangeiros, e com ampla cobertura da televisão local, e do jornal El Mercúrio, que divulgou o resultado na edição de segunda-feira. A premiação também aumentou: US$ 20 mil para cada campeão da maratona, sendo US$ 81 mil ao todo.
Uma excelente opção para "maraturistas", considerando a viagem bate-e-volta para cidades vizinhas como Valparaiso, Viña del Mar, Pomaire e a vinícola do Vale do Colchagua.