Eu e minha namorada sonhávamos em correr uma maratona, antes mesmo de nos conhecermos. Já tínhamos certa bagagem em corrida, em diferentes distâncias e lugares e quando começamos a namorar, em maio de 2011, essa conversa surgiu. Passamos então a planejar quando e onde seria nossa estreia. Buenos Aires estava muito em cima, pois tínhamos outras provas no meio do caminho, e por isso optamos por Santiago, dia 1º de abril, muito em função do pouco tempo que teríamos para viajar.

Começamos o treinamento em dezembro, com muito calor. Utilizamos a São Silvestre como preparação e acabamos batendo recorde pessoal na distância (1h09 eu e 1h19 ela). Na segunda-feira seguinte à SS, começamos a treinar especificamente para os 42 km. Foram 13 semanas de muito calor em Campinas; chegamos a terminar um treino de 35 km com 35°C. A inexperiência em longos e o fato de usar tênis um pouco apertado me fizeram perder 4 unhas em 13 semanas, sem contar as dores musculares. Treinamos a maior parte do tempo no Parque Taquaral, e fazer um longo de 35 km dando voltas na pista de 2,7 km não foi nada fácil para a cabeça, mas como dizíamos uma para o outro: treino duro, combate fácil.

Chegamos em Santiago na quinta-feira, fizemos alguns passeios de metrô, conhecemos a cidade, e na sexta fomos a expo maratón, na estação Mapocho, retirar nossos kits. A feira é bem organizado, grande, com muitas estandes de produtos esportivos, e a retirada de kits é organizada, separada por distância, já que inclui também a meia e os 10 km.

No dia, caminhamos cerca de 1 km até a largada. O pré-prova é bem interessante, já que eles disponibilizaram muitos banheiros montados em contêineres e também banheiros químicos, tudo muito limpo e organizado. A largada da maratona foi às 8h30, muito tarde, seguida pela dos 10 km às 8:45 e do 21 km às 9h00 (coitados…).

Sabendo que a prova tem praticamente uma constante subida do km 9 até o 30, variando com algumas retas e pequenas descidas, optei por fazer uma prova bem conservadora, pois também sabia que do 30 à chegada seria em leve descida. E assim fiz, mantive o olho no relógio o tempo todo, e fui controlando dentro do possível.

POUCA ÁGUA. A hidratação lá é precária; água de 5 em 5 km até o km 15 e em copos abertos, e a distribuição é feita em apenas um lado da rua, ou seja, tumulto generalizado por um copo de água. Caminhei em praticamente todos os postos, porque além de ser difícil de pegar água, como o copo era aberto eu não conseguia beber correndo.

Após o km 30, consegui impor um ritmo mais forte e acabei conseguindo um split negativo. A primeira meia fiz em 1h46, e a segunda em 1h44, o que me ajudou muito no psicológico. Para Gisele foi diferente, pois ela sofreu muito com a hidratação da prova, e a subida até o km 22 castigou bastante; quando ela chegou no km 30, não teve condições de aumentar o ritmo, devido às ameaças de cãibras nas panturrilhas. A corrida acabou sendo um fardo pesado para ela, que fechou a prova em 4h26.

Como primeira maratona, valeu muito a pena para ganhar experiência; realmente correr uma maratona mudou muita coisa sobre a visão que eu tinha acerca sobre esse maravilhoso esporte. Já estamos de olho na próxima, mas dessa vez procuraremos com mais cuidado, e provavelmente será no Hemisfério Norte, com clima mais ameno e percurso mais plano.

QUANTOS CONCLUINTES? QUANTOS BRASILEIROS?

Como algumas provas no Brasil, a Maratona de Santiago alardeia números gigantescos (recorde de 25 mil inscritos está no site da prova!), mas não libera a lista dos concluintes, exatamente para que a realidade não negue o anunciado. Da mesma forma, não se fica sabendo quantos brasileiros lá estiveram este ano, acreditando-se que tenham passado dos mil, correndo os 10 km e a meia-maratona, principalmente. Em tempo: a maior maratona da América do Sul em número (real) de concluintes é a de Buenos Aires, com 5.500 corredores no ano passado, entre eles 644 brasileiros, a maior participação no exterior.