Completam-se onze anos desde a última vez que participei da Maratona de Paris. Desta vez, vim comemorar minha 80ª! Um evento sem dúvida marcante para mim, que me fez escolhê-la sem titubear. Percebe-se logo que esta prova cresceu assustadoramente. No dia 6 de abril, 50 mil percorreram as ruas, os parques, o cais da margem direita do Sena, os encantadores e inesquecíveis pontos turísticos que maravilham os seus visitantes desde sempre. Um mar de corredores, como em Berlim, Tóquio, Nova York…
O mundo hoje deseja ser maratonista, não apenas como algo passageiro, mas sim como um espírito de época. Talvez seja este o motivo eloquente desta adesão às maratonas a que assistimos nos últimos tempos: o fato de não sermos meros espectadores do esporte, senão os atores principais, assim como de ser uma das práticas esportivas mais democráticas, apesar de haver uma tendência recente à elitização, em decorrência do aumento constante nos preços de inscrições por conta da enorme concorrência nas grandes maratonas.
Muitos relatos enaltecendo esta prova parisiense já foram publicados aqui na CR. Com justa propriedade, pois a considero uma das melhores e mais belas; não uma das mais velozes, planas etc., mas acho que mesmo estes fatos são discutíveis, pois as pequenas elevações são desprezíveis e o lendário engarrafamento dos primeiros quilômetros resolveu-se agora com a largada em ondas.
Então, gostaria de fazer uma breve parada na descrição da prova em si e comentar o BreakFast Run, que aconteceu no sábado em um percurso de 5 km de literalmente tirar o fôlego. Como é gratificante correr este evento festivo. Como é bom correr em passos lentos, fotografando os conhecidos, os amigos, os compatriotas, os inúmeros pontos notáveis de Paris: o Arco do Triunfo, o Bois de Boulogne, o rio Sena desde a ponte D`Iena e a Torre Eiffel com toda a visão do Champs de Mars ao fundo. É uma maneira incomparável de aquecer-se e soltar a musculatura no dia anterior à maratona. É o momento de minimizar o efeito do fuso horário, do cansaço da longa viagem, de aliviar a tensão e tornar-se autossuficiente.
O café da manhã foi logicamente simbólico, frugal: frutas, croissants, sucos, água e café. Na verdade, o suficiente para esperar o retorno ao hotel ou a algum restaurante mais próximo. A confraternização foi de certa maneira o fato primordial, além da camiseta do evento, surpreendentemente bonita, ao considerar-se que a inscrição nesta corrida custou apenas 5 euros. Então, são iniciativas assim que engrandecem uma corrida. Confesso que nunca fui um adepto desses eventos na véspera das maratonas de que participei, mas agora me tornei um fã de carteirinha.
Como disse acima, a Maratona de Paris modificou a largada, agora em ondas, o que proporcionou uma melhor fluidez, em definitivo eliminando os gargalos da Praça da Concordia e Bastilha, um grave problema que enfrentei ao passar por ali 11 anos atrás. Também encontrei engarrafamento na dispersão, o que nesta edição foi visivelmente resolvido. A temperatura ficou em torno dos 12 graus.
Enfim, se Paris é uma festa, eu também fiz a minha. Comemorei o meu tempo final de 3h36, praticamente a mesma marca desde a última vez em que pisei nesta adorável cidade-luz, contrapondo à afirmação de que perdemos velocidade enquanto envelhecemos.
Em meu caminho à 100ª maratona, certamente não tenho intenções imediatas de retornar aqui. Correrei outros 42 km igualmente belos, alguns difíceis e com seus valores próprios, mas certamente levarei comigo o prazer de saber que "sempre teremos Paris".
* NEY CAYRES é assinante de Salvador
Entre os primeiros
Estive na Maratona de Paris, minha primeira no Velho Continente, e gostei bastante da organização, para não falar no percurso, que apesar de não ser fácil, é compensado pelas belezas que encontramos pelo caminho: Obelisco, Louvre, Bastilha, Bois de Vincennes, margens do Sena, Torre, o finalzinho no Bois de Boulogne e, quando as pernas já parecem de pedra, avistamos o Arco do Triunfo.
Meu objetivo era, como para todas as maratonas que corri, fechar em menos de 2h48, porém, nos 42 km, nunca se sabe, e não treinei como gostaria, então estava um tanto receoso de forçar no início. E o começo, descendo a Champs Elyseés, parece bem fácil, porque é em leve descida, mas consegui me segurar, e fui em ritmo confortável. Desta vez consegui escapar do urso que me pegou em Buenos Aires e, segundo um torcedor que fazia a contagem, passei em 104º geral no km 32. Como me sentia bem, larguei o grupo em que estava e resolvi sofrer um pouco mais; na verdade não aumentei o ritmo, apenas tentei manter o inicial, o que, após quase 2 horas de prova, é desafiador. E com isso passei muita gente nestes últimos 10 km, para fechar em 2h37 e 71º no geral, provavelmente como um dos primeiros brasileiros.
(por Renato Dantas de Lucas, de Jaboticabal, SP)