Notícias admin 12 de outubro de 2014 (0) (103)

MARATONA DE HOUSTON: COLOQUE NA AGENDA!

A 42ª edição da Maratona de Houston (EUA) foi realizada no dia 19 de janeiro. No sá-bado há uma corrida de 5 km e no domingo a maratona, além de uma meia que ocorre simultaneamente, válida anualmente como Campe¬onato Norte-Americano de Meia¬-Maratona, reunindo os mais fortes fundistas de elite daquele país.
Houston é uma potência econômi¬ca, capital da indústria de óleo, gás e energia. Se fosse um país, seria a 22ª economia do planeta. A cida¬de faz questão de proporcionar um final de semana inesquecível a to¬dos que a visitam, com organização impecável voltada para o máximo conforto dos corredores e seus fami¬liares. O evento reuniu 5 mil atletas na prova de 5 km, 13 mil na meia e 9 mil na maratona, representando todos os 50 estados norte-america¬nos e mais 52 países. Por sua vez, o Brasil foi representado por apenas 4 participações na prova de 5 km, 1 na meia e 6 na maratona, refletindo o nosso desconhecimento quanto a esta magnífica competição.
RAZÃO PARA ESCOLHA. Em Chi¬cago 2012 eu consegui o índice para Boston 2014 com apenas 9 segundos de vantagem na minha categoria, ao fechar a maratona em 3:14:51. A procura por Boston 2014 aumen¬tou significativamente por causa do atentado de abril de 2013. Apesar de a organização do evento ter criado mais 9 mil vagas para este ano, foi necessário fazer um corte de 1 mi¬nuto e 38 segundos nos tempos de qualificação de todas as categorias. Assim, fiquei fora da prova. O sonho desmoronou e agora eu teria que re¬fazer o índice para tentar uma vaga para Boston 2015, com uma margem segura para não correr o mesmo ris¬co novamente.
Eu estava inscrito para a mara¬tona de Buenos Aires de outubro de 2013. E estava muito bem, mas não tinha certeza de que consegui¬ria fazer abaixo de 3h13. Na vés¬pera tive uma inédita insônia. No km 5 percebi que fazia uma força descomunal para seguir meu pla¬no e então tomei a decisão de pa¬rar em frente ao meu hotel, no km 23. Decidi parar para não sofrer o processo inflamatório da mara¬tona e dar continuidade à minha periodização, me inscrevendo para outra prova rápida no prazo de 2 ou 3 meses. Decisão difícil.
Comecei uma busca na internet por uma corrida nos próximos 3 meses. Resolvi tentar uma mara¬tona nos EUA que fosse considera¬da qualificatória oficial de Boston e que favorecesse bons resultados. E encontrei Houston. Seria no dia 19 de janeiro, 3 meses após Bue¬nos Aires. Temperatura entre 7 e 15 graus, percurso plano, excelen¬tes patrocinadores, evento para 25 mil corredores e com recorde de corredores africanos na casa de 2h07 para homens e 2h23 para mulheres. Perfeita!
Como as inscrições estavam encer¬radas, tive de me inscrever fazendo uma doação no programa Run For a Reason. Me deparei com a op¬ção de escolha de fazer o Houston Double, que confere ao participante uma terceira medalha por comple¬tar o percurso de 5 km no sábado e a maratona ou a meia no domingo. Lembrou-me os desafios da Disney e adorei a brincadeira, afinal, sempre corro cerca de 8 km fortes na vés¬pera da maratona. O site da prova ainda oferecia reservas em hotéis conveniados e assim consegui um 5 estrelas ao lado da largada, pagan¬do uma tarifa com 50% de desconto!
GRANDE FEIRA. No centro de Down¬town encontra-se um pequeno par¬que arborizado chamado Discovery Green. Ao redor, hotéis 5 estrelas, arranha-céus, o Toyota Center (giná-sio do Houston Rockets, time de bas¬quete da cidade) e o enorme centro de convenções George Brown. A che¬gada das 3 disputas ocorre na aveni¬da que separa o Discovery Green do centro de convenções. No segundo andar deste ocorreu na sexta-feira e no sábado a feira da prova. Gigan¬tesca, com mais de 150 expositores, lembrando a de Chicago. Repleta de lojas multimarcas de artigos espor¬tivos, de suplementos, serviços, ali¬mentação e estandes de organizações beneficentes.
O kit era fraco, com uma camise¬ta de algodão. Foram realizadas palestras de hora em hora no pal¬co principal sobre diversos assun¬tos ligados ao esporte. Eu assisti à do Meb Keflezighi, maratonista nº 1 dos EUA, quando ele contou um pouco de sua vida ainda na Eritreia e como se tornou um atleta de elite. Como curiosidade, falou da estraté¬gia adotada para superar Marilson nos minutos finais da maratona da Olimpíada de Londres 2012.
No sábado corri os 5 km em 19:47, minha melhor marca, terminando em 43º lugar geral. No domingo, o térreo do centro de convenções foi aberto a partir das 5 da manhã, com uma grande infraestrutura de suporte aos atletas. O guarda¬-volumes ficava no seu interior, onde havia vestiários e banheiros confortáveis e até foram realizadas uma missa católica e outra protes¬tante antes da largada! Dali saía um grande grupo de "romeiros", caminhando até a largada, a cerca de 3 quarteirões. O início da mara¬tona ocorre junto com o da meia às 7 horas e é dividido em 4 baias. A qualificação para cada uma é obti¬da na inscrição, com a comprovação de resultados anteriores. O horário de fechamento de cada curral é um ponto para ficar atento. Havia ba¬nheiros químicos suficientes nessas 4 áreas cercadas.
GAROTOS E GAROTAS. A temperatu¬ra estava por volta de 11 graus. Che¬guei no curral A às 6h35, 5 minutos antes de seu fechamento. Ainda era dia escuro, pois nessa época ama¬nhece após as 7h. Posicionei-me jun¬to ao pacer de 3h10. Se na véspera a participação de crianças me chamou atenção, nesse dia fiquei realmente assustado com o número de garotos e garotas ainda na puberdade que participariam das duas provas, prin¬cipalmente da meia. Esse assunto era comentado por vários corredores antes da largada.
Às 6:55 foi dada a largada para o Campeonato Norte-Americano de Meia-Maratona, somente com os atletas de elite. Às 7h em ponto um tiro de canhão deu início à mara¬tona e à meia. Elas se separam no km 12 e voltam a se encontrar no 38 (km 17 da meia). Contudo, a partir desse momento a pista é dividida para que não haja confusão, seguin¬do assim até o pórtico de chegada.
O abastecimento era impecável: água e hipertônico a cada 2 km em copos abertos. Era um hipertônico do tipo endurance, com alto teor de sais minerais. Em maratonas uso sal nos km 22 e 32 e preferi beber apenas água durante o trajeto para não correr o risco de uma hiperna¬tremia. Havia um único posto de gel de carboidrato, no km 33, sendo que a partir do km 15 já encontráva¬mos postos médicos, cada vez mais frequentes até o final do percurso, chegando a um intervalo de 1,5 km entre cada um a partir do km 32.
Não se pode dizer que Houston seja uma cidade turística nem que a maratona passa por lugares que chamem a atenção pela bele¬za. Contudo, há grande apoio do público nas ruas durante todo o percurso. No km 38 começa uma leve, porém contínua, subida até o km 41. No meio desse aclive pas¬samos por 4 cruzamentos através de túneis ou viadutos, sobre ou por baixo de outras avenidas, num sobe e desce de matar, minando o resto de nossas forças. Próximo ao km 41 chegamos em Downtown e o percurso volta a ficar plano. Após longa reta pela Lamar Street con¬tornamos o Discovery Green, com arquibancadas lotadas e um som ensurdecedor do público apoiando os corredores. A temperatura na chegada era de 14 graus.
REFEITÓRIO NA CHEGADA. Ao passar o pórtico de chegada, há a entrega de medalhas e as grades nos levam para dentro do centro de convenções, quentinho! Lá dentro, ainda numa área restrita aos atle¬tas, todos recuperam suas sacolas no guarda-volumes, trocam-se nos vestiários, tiram suas sonhadas fotos oficiais, pegam sua camiseta de finisher, fazem um alongamen¬to e aqueles que fizeram o Houston Double recebem sua 3ª medalha (os que fizeram a maratona recebem também uma linda caneca de cerve¬ja de finisher) e – pasmem – há um enorme refeitório com alimentação oferecida por um dos patrocinado¬res. Ovos com salsicha, sanduíche, cookies, barras de cereal, sorvete, frutas… Você escolhe!
Depois de sentirem-se premiados e recuperados, os atletas seguem por um corredor até uma enorme área aberta ao público, ainda den¬tro do centro de convenções. Nessa área grandes placas com as letras do alfabeto pendem do teto, facili¬tando o encontro com as famílias. Há diversos quiosques de comi¬da e café, uma lojinha de artigos oficiais da prova, mais banheiros e – fechando com chave de ouro – um estande gravando de imediato seu nome e resultado no verso da medalha! Eu que já corri algumas maratonas no exterior, como Chi¬cago e Berlim, confesso que nun¬ca vi nada igual. Esta maratona diferencia-se das demais pelo alto conforto e suporte aos corredores.
MINHA PROVA. A largada foi con¬fortável e tranquila, em uma ave¬nida bem larga. No início fiquei um pouco apreensivo, pois estáva¬mos muito lentos, porém, no 5º km já rodávamos a 4:26/km e assim foi até o km 22. O sol começou a surgir e nos acompanhou duran¬te toda o itinerário. O pelotão de 3h10 começou a se destacar, com cerca de 20 a 30 corredores. Eu es¬tava ciente de que o ritmo estava forte, mas me sentia muito bem, confiante do meu preparo.
O km 29 é uma fase dura de tran¬sição da maratona e esse foi um tre¬cho sem qualquer distração. Nesse momento encontramos um garoto de 12 anos (isso mesmo…) que cor¬ria sua 4ª maratona e estava em busca de completá-la em 3h10. Ele se disse cansado e apesar do pelotão ter procurado incentivá-lo bastante, logo ficou para trás.
Por volta do km 33, nosso pacer avisou que ia diminuir o ritmo para acompanhar uma corredora que ti¬nha dificuldades. Eu me instabilizei porque meu plano era ir com ele até o fim. Fechamos esse km em 4:40. Então pensei o quanto havia treina¬do e que estava na hora de mostrar do que eu era capaz. Lembrei da mi¬nha amiga Debs Aquino, tremenda maratonista que está enfrentando bravamente um câncer de mama. Então eu disse a mim mesmo que deveria me manter forte e confian¬te, pois, perto do desafio dela, o meu seria moleza! Acelerei e enfrentei a barreira do km 35 voltando a rodar abaixo de 4:30/km.
Foi quando chegaram as subidas do km 38. Cheguei ao km 40 com 3h01min e percebi que precisa¬ria acelerar para chegar abaixo de 3h11. Eu estava morto e dizia para mim mesmo que não importava a exaustão, era a hora de tirar leite de pedra.
Cheguei à reta final. Minha es¬posa disse que eu passei muito próximo dela, mas eu não a vi, pois meus olhos estavam fixos no relógio da chegada. Poucos me¬tros antes da linha final, percebi que conseguiria. Uma explosão de emoções tomou conta de mim. Levantei as mãos, agradecendo por aquela realização. Em segui¬da, ainda antes de passar a linha, comecei a chorar. Poucos segun¬dos depois, gritei forte que eu iria para Boston! Em seguida voltei a chorar copiosamente. Concluí em 3:10:51, recebi minha medalha, a beijei, tirei foto, gargalhei de ale¬gria. E novamente caí no choro! Eu corri como um guerreiro e cho¬rei como uma criança!
Algumas semanas passaram des¬de a prova e confesso que ainda me pego rindo à toa. A sensação é in¬descritível, como se eu tivesse con¬quistado uma medalha olímpica. Consegui o índice, agora com mais de 4 minutos de vantagem. Desta vez ninguém me tira. Eu vou correr Boston 2015!
* BRUNO PIRES BANDAROVSKY,

INSCRIÇÕES PARA 2015
As inscrições serão iniciadas no dia 6 de maio. Até o dia 29 do mesmo mês serão garantidas para aqueles que atingem o índice técnico em provas realizadas a partir de 1º/jan/2013 (maratona abaixo de 4 horas, meia sub 1:52:55 ou 10 km abaixo de 51:08). De 4 a 19 de junho ocorrem as ins¬crições para o sorteio, que terá seu resultado anunciado no dia 23 de junho.http://www.chevronhoustonmarathon.com/Races/Marathon/Registration.cfm

CORRENDO PARA A CARIDADE
Nos EUA é um hábito realizar campanhas de caridade nas maratonas mais importantes. O programa Run For a Reason (Corra por uma Causa) da maratona de Houston foi lançado em 1995 e, desde então, já arrecadou mais de 19 milhões de dólares para incontáveis instituições. Somente este ano, foram destinados 2,5 milhões de dólares em donativos para mais de 50 insti¬tuições. Não se trata apenas de corredores fazendo sua doação, mas liderando campanhas de arrecadação de fundos junto a sua rede de relacionamentos. Um costume muito nobre que nós brasileiros ainda não temos.

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