POR ANDRÉ SAVAZONI
A principal (e ótima) notícia é a confirmação do retorno da Maratona de Blumenau ao calendário brasileiro, com a realização da 25ª edição no último domingo, dia 23 de julho, na tradicional cidade catarinense.
Para os mais novos no mundo da corrida pode tratar-se de apenas mais uma prova de 42,2 km, porém, quem está há mais tempo nas maratonas, sabe da importância e da história de Blumenau. Tanto que o evento marcou um reencontro nostálgico e uma ótima troca de histórias entre muitos participantes.
Esta 25ª edição pode ser analisada de vários prismas, alguns voltados para a organização e outros que fogem do controle dela, mas que também impactam diretamente no evento. Vamos dividir e explicar cada ponto, desde o início.
O trajeto histórico de Blumenau saía de Itajaí (com os corredores sendo levados de ônibus pela organização) e os participantes corriam 42,2 km até Blumenau, passando por outras cidades, como Gaspar. Era extremamente plano. Porém, neste ano, não houve liberação do poder público desse percurso e, então, a prova foi realizada totalmente dentro de Blumenau, em duas voltas de 21.1 km, com vários falsos planos e boas subidas no terço final do trajeto. Ou seja, tratava-se de uma prova técnica e que exigia uma boa estratégia de cada um, dentro de seu objetivo e realidade individuais. Quem fez a preparação pensando no trajeto da “maratona mais plana do Brasil”, sofreu bastante.
Nesse ponto, então, faltou uma melhor comunicação da organização, que continuou divulgando a pouca variação da altimetria, mesmo após a confirmação da alteração, que ocorreu com um 1 mês com antecedência. Inclusive, o site oficial, até o dia 17, ou seja, a segunda-feira da semana da prova, ainda estava com os mapas antigos, o que foi atualizado após pedido da Contra-Relógio.
Na entrega dos kits, também pela divulgação da organização, seriam 45 estantes e uma grande feira. O espaço, realmente, na Vila Germânica, é enorme, mas havia somente cinco expositores. Outra divulgação que não condizia com a realidade. Essa comunicação, cada vez mais importante, com site e redes sociais, precisa ser aprimorada.
No dia da prova, a informação era de que todas as distância largariam ao mesmo tempo, às 7h (havia provas de 5 km e 10 km também), porém, ao chegar à arena de largada, o locutor já avisava que começaria 7h com os PCDs, 7h02 a maratona na elite e geral e, então, às 7h12 os 5 km e 10 km. Houve quem acabou se posicionando no lugar errado por basear-se no que foi divulgado. Não dá para simplesmente mudar no dia do evento.
Sobre a prova, percurso demarcado claramente (com placas bem visíveis km a km), com dois tapetes de controle (um deles em um retorno onde seria possível cortar caminho), além do pórtico (como eram duas vezes, todos tiveram a divulgação do tempo dos 21.1 km). Na maior parte, corremos no corredor de ônibus, separados por cones. Em alguns cruzamentos, pessoal do staff organizando o trânsito.
Em relação ao trajeto, em cerca de ⅔ da maratona, o asfalto estava bem ruim, com buracos e irregularidades (havia alguns vias totalmente recapeadas e, conversando com moradores de Blumenau, checamos que a cidade passa por obras, então, pode ser que para 2024 esse problema esteja minimizado). Além disso, havia pouquíssima gente nas ruas, o que deixou a prova bem vazia.
A temperatura, também, a organização não tem controle. O frio do Inverno não está fazendo parte da estação neste ano em Santa Catarina, assim, foi uma prova mais quente do que o esperado, o que reforçou o principal erro da organização neste retorno de Blumenau: a hidratação foi muito ruim na maratona.
Primeiramente, pois os postos de água tinham apenas duas mesas, ou seja, eram muito estreitos. A média de espaçamento era de 4 em 4 km. Dois problemas potencializam isso. Na altura do km 12, havia um posto de água, porém, uns 250 m, os corredores da maratona juntavam-se aos dos 5 km e 10 km, ou seja, para pegar água nesse local, foi preciso parar. E no posto no km 16/32 (aproximadamente) havia isotônico (várias mesas, por sinal), mas não havia água e era o trecho de começo das principais subidas, ou seja, nessa região, o espaçamento entre hidratação ficou de 8 km para quem não toma isotônico e queria água.
A largada e chegada ocorreram quase em frente à prefeitura antiga de Blumenau, com uma pracinha com bares, mesas e, perto das 10h, com música ao vivo. Em um ambiente de confraternização bem legal. Os resultados também foram divulgados rapidamente, acessando o QR Code no número de peito já nesse momento.
Entretanto, o espaço de dispersão era estreito demais (o que causou muita confusão nas chegadas dos 5 km e 10 km), além disso, a organização colocou o tradicional tapete vermelho, mas, por não estar bem preso ao chão, enrolou, várias pessoas tropeçaram. É preciso ajustar isso e ampliar (em muito) a área de dispersão.
Para finalizar, a premiação, ao invés de ocorrer após a prova, foi marcada para as 14h na Vila Germânica (que já fica lotada aos domingos). Houve um pouco de atraso e o melhor é já fazer na própria arena da prova, pois, depois, as pessoas querem ir para a festa ou até seguir viagem de turismo ou retornar para suas casas.
Dessa forma, a Maratona de Blumenau está de volta ao calendário, uma ótima notícia e que deve ser festejada, com pontos positivos, porém, para que volte a ser objeto de desejo como no passado, precisa de muitos ajustes para a edição de 2024.
André Savazoni é formado em Jornalismo e Educação Física. Atuou por anos como editor-assistente da Contra-Relógio, e agora comanda uma assessoria esportiva que leva seu nome, a Savazoni Running Team. Já correu sete vezes a Maratona de Boston e tem como melhor marca nos 42 km o tempo de 2:50:20, em Buenos Aires.